Painel destaca importância da educação para superar desigualdades SVG: calendario Publicada em 15/07/16 17h07m
SVG: atualizacao Atualizada em 15/07/16 17h30m
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Debate, organizado pelo Sinprosm, teve a participação de três historiadores

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Painel ‘Educação, Ética e Democracia’ integrou VI Seminário Educação em Foco, do Sinprosm

Ao iniciar sua intervenção no painel ‘Educação, Ética e Democracia’, na última quarta-feira, 13, o presidente da Sedufsm, professor Julio Quevedo, lembrou que naquele mesmo dia era lançada, no Rio de Janeiro, a Frente Nacional contra o Projeto Escola sem Partido. Um marco, na avaliação do dirigente sindical e também docente do departamento de História da UFSM.

E foi justamente o ‘Escola sem Partido’ uma das pautas centrais debatidas no painel, que integrava o VI Seminário Educação em Foco, organizado pelo Sindicato dos Professores Municipais de Santa Maria (Sinprosm) entre a quarta, 13, e a sexta, 15. A intencionalidade escondida por detrás do slogan ‘educação sem doutrinação’ foi desvelada pelos três debatedores daquela tarde: Diorge Konrad, docente de História na UFSM e Valério Arcary (História/IFSP), além de Quevedo.

“Nem todos percebem a importância da educação no processo de superação das desigualdades sociais”, aponta o presidente da Sedufsm ao problematizar a conotação de ‘treinamento’ indexada, muitas vezes, à educação. Para Quevedo, o Rio Grande do Sul vive um momento ímpar especialmente por dois fatores: a greve de mais de 50 dias, protagonizada pelos professores estaduais e há pouco encerrada; e a ocupação de escolas por estudantes secundaristas. Já em nível nacional, ele destaca a realização do II Encontro Nacional de Educação (ENE) e ressalta alguns dos encaminhamentos, tais como a indicação de uma greve geral no setor da educação e de uma greve geral dos trabalhadores brasileiros, além da criação da Coordenação Nacional das Entidades em Defesa da Educação Pública e Gratuita.

Todos esses esforços de unificação e resistência em nível nacional, diz o professor, vêm numa conjuntura em que diversos ataques são colocados na esfera da educação, tais como a Lei 13.243/2016, que institui o Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, visando aprofundar a presença da iniciativa privada nas universidades públicas; e os próprios cortes de verbas advindos do duro ajuste fiscal imposto pelo governo federal. “Pagamos a conta da crise também nas escolas e universidades. Vivemos a precarização em nossos locais de trabalho”, diz o professor, acrescentando que as tesouradas obstaculizam o desenvolvimento de projetos de conscientização social.

Para Quevedo, “nossa luta deve começar pelo financiamento público para a educação pública”. E, indo além, por uma educação laica, libertadora, plural, democrática e que combata as opressões raciais, de gênero, sexualidade ou religião. Uma das vias apontadas pelo professor é a valorização dos cursos de licenciatura, responsáveis por qualificar os educadores para atuar junto à classe trabalhadora; a formação continuada dos professores; a superação de heranças conservadoras no seio da universidade (para o que o processo estatuinte visa contribuir) e a garantia de uma produção acadêmica não encharcada pela lógica produtivista.

Luta de classes na sala de aula


 

Os professores, ao lecionarem, são agentes centrais na reprodução das relações de produção capitalistas. Por isso, a luta de classes também é estabelecida no chão da escola. As afirmações são do painelista e professor do departamento de História da UFSM, Diorge Konrad, que se ampara nas concepções do filósofo francês Louis Althusser para tecer uma crítica ao projeto ‘Escola sem Partido’, encarado por ele como um passo importante na escalada fascista.

Bastante citado por Konrad em sua intervenção, o Projeto de Lei (PL) 190/2015, de autoria do deputado estadual Marcel van Hattem, visa instituir o ‘Escola sem Partido’ no Rio Grande do Sul. “Estamos ameaçados pelo avanço conservador fascista na sociedade, e na escola não seria diferente. E não é só nas disciplinas de História, Sociologia e Filosofia que esse projeto irá reverberar”, critica o docente, lembrando que, nos Estados Unidos, houve a proibição de toda visão não alinhavada com a teoria criacionista.

Outro ponto destacado pelo historiador foram as atraentes teses pós-modernistas, defensoras do fim da centralidade do trabalho e responsáveis, em grande parte, pela dificuldade observada na identificação de professores como classe trabalhadora. “Querem que sejamos sujeitos pós-modernos que desconhecem a realidade, pois essa não existiria. Querem-nos relativistas, egoístas e consumistas. Ou seja, o mundo é globalizado, mas a forma de entender o mundo tem de ser fragmentada”, critica Konrad, que encerra: “O espaço da sala de aula também é político. A educação é o espaço da ética, mas não dessa ética de mercado que querem nos impor”.

Crise do regime democrático

Valério Arcary, docente de História do Instituo Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) também participou do painel organizado pelo Sinprosm e foi categórico ao afirmar que vivemos uma crise estrutural do regime democrático. Ao citar uma série de projetos em curso e que têm por objetivo precarizar as condições de vida da classe trabalhadora (tais como a Reforma da Previdência), o professor questiona: “Quem deu legitimidade ao Congresso Nacional para nos atacar desse jeito? Ninguém. Isso é uma crise do regime democrático”, explica.

Outro exemplo dado por ele, dessa vez para destacar uma crise moral prevalecente em nosso tempo, foi a isenção de impostos concedida aos mais ricos, ao passo que a conta recai sobre os ombros dos mais pobres. “Isso é uma crise moral, porque a vida em sociedade tem a premissa básica de que aqueles que têm mais, devem contribuir mais. Mas essa crise moral não atinge só capitalistas, atinge a esquerda também. Vivemos, no Brasil, 12 anos de um governo de conciliação de classes. Os partidos reformistas de esquerda colocam-se para fazer a gestão do Estado e do capital. Políticos transformam-se em corruptos profissionais”, diz Arcary.

Na análise do historiador, a classe trabalhadora é uma força social imbatível se tiver um projeto e souber contra quem lutar. “Hoje temos o Congresso da bala, do boi, do banco. Setores minoritários da sociedade estão muito bem representados lá, pois manipulam o processo eleitoral. Temos as bancadas do agrobusiness, do capital financeiro, dos planos de saúde privados, dos bancos. Essas bancadas são muito mais fortes que os partidos políticos. E por isso as eleições são uma fraude”, problematiza o docente, que reflete, também, sobre a questão da participação política. Para ele, se o voto não fosse obrigatório no Brasil, teríamos altos índices de abstenção nos processos eleitorais, pois hoje as pessoas não votariam mais nos projetos políticos, mas em líderes considerados ‘menos piores’ que outros. Ou seja, “vota-se contra, e não a favor”.

Ao concluir, ele aposta na reorganização da esquerda. “É preciso oferecer esperança”, lembra Arcary.

Texto e fotos: Bruna Homrich

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

 

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