Profissionais relatam experiências na tragédia da Boate Kiss SVG: calendario Publicada em 27/01/17 15h29m
SVG: atualizacao Atualizada em 27/01/17 15h30m
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Prefeito esteve presente e reafirmou desapropriação do prédio

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Atividade faz parte da programação em referência aos quatro anos da tragédia

Na manhã dessa sexta, 27, uma roda de conversa deu sequência às atividades que marcam os quatro anos da tragédia da Boate Kiss. Reunindo profissionais que atuaram imediatamente ao evento ou que acompanham seus desdobramentos desde então, uma mesa foi formada e coordenou a discussão a partir de diferentes enfoques. Na composição da mesa estavam o psicanalista Volnei Dassoler e a psicóloga Maria Luiza Pacheco, ambos do Acolhe Saúde, a jornalista Juliana Motta, a professora do departamento de Ciências Sociais da UFSM e pesquisadora de temas como a memória, Virginia Vecchioli, a superintendente do Hospital Universitário de Santa Maria, Elaine Resener, o professor do departamento de Teoria Literária da Unicamp e pesquisador de temas como o trauma e também a memória, Marcio Seligmann, e a psicóloga e integrante do Instituto Condor, Fabiane Ângelo. E se as áreas representadas na mesa eram diversas, a tônica das falas foi uma só: compartilhar experiências sobre o trabalho desempenhado por cada área é fundamental para que se construa a memória da tragédia – o que por sua vez cumpre um papel importantíssimo tanto na prevenção ou na atuação perante novos acontecimentos do gênero, quanto na própria relação com o luto e a perda.

Entre as autoridades presentes na roda de conversa, o prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom, reafirmou a desapropriação do prédio onde funcionava a casa noturna. “Está decidido e em caráter irrevogável: nós vamos desapropriar o imóvel ate a metade do ano”, declarou Pozzobom, que afirmou também que as chaves da boate estão em sua posse desde a tarde desta quinta-feira, 26, após reunião com o advogado que representa os proprietários do prédio. A atitude da entrega das chaves foi considerada por Pozzobom como uma demonstração de boa vontade por parte dos proprietários que, através de seu advogado, reafirmaram o desejo de uma solução amigável para o processo. Próximo ao encerramento de sua fala Pozzobom declarou que, segundo suas intenções, em 27 de janeiro de 2018 o prédio já deve estar demolido e talvez com a pedra fundamental daquilo que será construído no local. O presidente da AVTSM, Sérgio da Silva, agradeceu e parabenizou a atitude do prefeito, mas também apresentou uma série de medidas que, segundo ele, serão cobradas da gestão e espera ver atendidas. Outra das autoridades presentes, o reitor da UFSM, Paulo Burmann, declarou que a universidade trabalha na construção de um memorial para as vítimas localizado no campus universitário. Segundo Burmann, esse é um projeto que já está em andamento há algum tempo e vem sendo tratado com o cuidado que o assunto requer. Vale mencionar que uma parte considerável das vítimas eram estudantes da UFSM, o que exigiu acompanhamento psicológico também entre docentes da universidade, conforme salientou em sua fala a psicóloga Fabiane Ângelo.

A troca de experiências

Mas se hoje alguns profissionais trazem já certa experiência na atuação perante uma situação tão drástica como a da Boate Kiss, não foi sempre assim. E está aí, inclusive, a importância dessa troca de experiências que guiou o bate-papo dessa sexta. Especialmente no que toca o atendimento hospitalar, a roda de conversas salientou que não haviam modelos ou parâmetros a serem seguidos de imediato, no que toca uma experiência de massa similar a da Kiss. Tudo foi criado a partir da própria experiência. E isso rendeu frutos, como é o caso do próprio Acolhe Saúde, serviço de atenção psicossocial criado para atender pessoas afetadas pela tragédia – é importante citar que a estimativa é de cuidados longitudinais por cinco anos, podendo ser prorrogados por mais cinco.

Além disso, conforme ressaltou a superintendente do HUSM, Elaine Resener, a produção científica envolvendo questões médicas, rigorosamente documentadas – inclusive por conta do papel de hospital escola do HUSM – também cumpre um papel fundamental. Exemplificam isso, por exemplo, as produções envolvendo o tratamento contra a inalação dos gases tóxicos liberados pela espuma queimada durante o incêndio, e que já circularam pela comunidade científica internacional e inclusive foram postos em prática. Outra experiência do gênero, dessa vez sobre a saúde mental, é a produção do livro “A integração do cuidado diante do incêndio na Boate Kiss: testemunhos e reflexões”, lançado na Feira do Livro de Santa Maria em 2016 e coordenado por profissionais que trabalharam na tragédia, muitos deles integrantes do Acolhe Saúde.

Além disso, o compartilhamento dessas experiências também foi abordado de outra ótica, especialmente pelos professores Marcio Seligmann e Virginia Vecchioli. Para ambos, é fundamental que se construa uma memória da tragédia – objeto de estudo comum entre eles – para que com ela se possa projetar um futuro, inclusive na prevenção de novas acontecimentos do tipo. E nesse quesito o ingresso de ação da AVTSM na Corte Interamericana de Direitos Humanos é fundamental para além da justiça em seus termos jurídicos, mas também simbólicos. Para Virginia a ação, se bem sucedida, mostrará que essas vidas importam.

Próximo ao fim, a evidência a respeito da importância de se compartilhar essa experiência veio através da fala de Fabiana Funk, empresária de Chapecó, Santa Catarina, sócia da Associação Chapecoense de Futebol e amiga de diversas vítimas do acidente aéreo que vitimou mais de 70 pessoas – entre jogadores, dirigentes, comissão técnica e imprensa – em novembro de 2016. Em sua manifestação, Fabiana disse que viu a tragédia de Chapecó em cada fala da manhã dessa sexta e ressaltou a solidariedade entre as cidades e as vítimas dos dois acontecimentos. A própria vinda dela à Santa Maria é uma retribuição ao carinho dos profissionais do Acolhe Saúde que foram até Chapecó na ocasião do acidente aéreo.

Com a abertura do microfone ao público, se manifestaram representantes da enfermagem do HUSM, da Cruz Vermelha, da Sociedade de Engenharia e Arquitetura de Santa Maria, da Associação dos Técnicos em Segurança do Trabalho de Santa Maria e Região entre outros. As atividades que marcam os 4 anos da tragédia da Boate Kiss tiveram início com uma vigília em frente ao local do incêndio ainda na madrugada dessa sexta (confira aqui) e seguem durante a tarde – confira a programação completa aqui. A organização do evento está a cargo de diversas entidades. Entre elas Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, a AVTSM, a TV Ovo, as próprias Acolhe Saúde e Instituto Condor, além da UFSM e da Unifra, entre outros. A Sedufsm participa como apoiadora.

Texto e fotos: Rafael Balbueno

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