Combate às opressões: uma tarefa cotidiana e coletiva SVG: calendario Publicada em 23/05/17 21h04m
SVG: atualizacao Atualizada em 24/05/17 10h41m
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69º Cultura na Sedufsm discutiu sexismo, racismo e homofobia

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Evento também contou com o lançamento da cartilha “Em defesa dos direitos das mulheres, dos indígenas, das/os negras/os, e das/os LGBT”

Na noite dessa segunda, 22, o auditório Suze Scalcon contou com a presença de uma plateia atenta. Em debate, diferentes perspectivas sobre diferentes dores, mas que convergem em sua origem: uma sociedade violenta e opressora. E somar esses diferentes pontos de vista era a exata proposta da 69ª edição do projeto Cultura na Sedufsm, que trouxe como tema “Combate às opressões: discutindo o sexismo, a homofobia e o racismo”. Compondo a mesa e suscitando o debate estiveram presentes o professor do departamento de Geociência da UFSM e militante do movimento LGBT, Benhur Pinós da Costa, a fisioterapeuta, militante do movimento negro e do movimento feminista negro, dirigente espiritual do Ilê Axé Ijobá de Oxum e Bará, integrante do Fórum de Mulheres de Santa Maria, do Grupo de Estudos e Extensão Universidade das Mulheres (GEEUM) e da Rede Estadual de Núcleos Ilês Afro Aids, e suplente no Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres do Estado do Rio Grande do Sul, Sandra Beatriz Aires dos Santos, e a professora do departamento de Enfermagem da UFSM e integrante do Fórum de Mulheres de Santa Maria, Maria Celeste Landerdahl.

Na coordenação do debate o presidente da Sedufsm, professor Julio Quevedo, ressaltou já na abertura do evento o quanto o combate às opressões é uma pauta fundamental para o sindicato, inclusive por se tratar de uma demanda trazida pela própria base a partir dos espaços de discussão da categoria em todo o país. Um reflexo disso, aliás, será a realização de um grande seminário integrado nos dias 25, 26 e 27 de agosto, em Pelotas, organizado pela Adufpel e pela secretaria regional do Andes-SN (com o apoio da Sedufsm) e que novamente discutirá o combate às opressões. A 69ª edição do Cultura na Sedufsm nessa segunda, conforme ressaltou o presidente, é também uma preparação para esse grande seminário no final de agosto. Outra demonstração do grau de importância que a pauta tem para a Sedufsm e o Andes-SN, conforme ressaltou Quevedo, é a produção da cartilha “Em defesa dos direitos das mulheres, dos indígenas, das/os negras/os, e das/os LGBT”, organizada a partir das discussões do Grupo de Trabalho de Política de Classe para as questões Etnicorraciais, de Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS) do Andes-SN. A cartilha, inclusive, também teve seu lançamento durante o Cultura na Sedufsm desta segunda. Por fim, como não poderia deixar de ser, antes de passar a palavra para o debate em si, mesa e plateia bradaram em coro um bom e grande “Fora Temer”.

Mulher e negra

Abrindo o debate, a primeira a falar foi Sandra Beatriz Aires dos Santos, e as perspectivas trazidas por ela sem dúvida representam uma situação ímpar nesse cenário: Sandra é uma mulher negra, o que a coloca perante violências múltiplas. Conforme ela ressaltou, a violência do racismo percorre o Brasil desde a escravidão e não foi apaziguada por uma abolição até hoje inconclusa. “Com a abolição esse negro foi novamente lutar e se reconstituir enquanto ser humano, porque nós não éramos vistos como humanos durante a escravidão.  E nós viemos dessa luta e resistência que é secular e não se acaba, ela continua. Continua quando a gente olha nos jornais e vê que o sangue que mais morre é o sangue negro”. Indo além, contudo, Sandra destaca que tal processo foi e é até hoje ainda mais destrutivo para as mulheres, e isso se evidencia desde a hiperssexualização do corpo da mulher negra (objetificado como o corpo feito para o sexo) até os dados que mostram que a mulher negra é a que mais morre vítima da violência obstétrica no Brasil – entre outros muitos exemplos trazidos ao debate. Sendo assim, reside aí um outro aspecto apontado por Sandra como fundamental na sua luta, que é a identificação enquanto mulher negra perante os próprios movimentos de mulheres. “Eu sou fruto do feminismo, mas do feminismo negro”, ressalta ela que é integrante do Fórum de Mulheres de Santa Maria. Segundo Sandra, a própria abertura do feminismo às pautas das mulheres negras é muito recente e ainda precisa avançar.

Quase ao fim, Sandra apresentou aquela que, concluído o debate, seria a palavra de ordem que permearia diversas outras falas: unidade, mesmo perante tantas diferenças e, até, divergências. “Ou a gente une forças ou a gente perde as nossas conquistas”, declarou. Além disso, Sandra destacou um conceito bastante utilizado quando o tema são as opressões, que é a ideia de “minoria”, concepção que ela refuta. “Eu não me vejo como minoria, eu me vejo como maioria. A gente não pode se enxergar como minoria no país que nós construímos com o nosso sangue e o nosso suor”, concluiu.

Políticas de Estado

A segunda fala ficou sob a responsabilidade de Maria Celeste Landerdahl, que abordou alguns aspectos importantes desde a construção da identidade das mulheres até a importância de políticas públicas feitas pelas e para elas. A respeito da identidade, Maria Celeste ressaltou a formação de gênero que começa ainda na gestação. Na infância, segundo ela, se intensifica ainda mais a ideia do que é ideal para meninos ou meninas. No caso das mulheres, as brincadeiras ensinam a obedecer, moldam para ficar dentro de casa, enquanto a infância masculina ensina a desafiar o mundo. “Nós aprendemos a ser mulheres muito pelos ‘nãos’ que nós ouvimos. ‘Meninas não sentam assim, meninas não falam isso’”, aponta. Tudo isso, ressalta Celeste, desemboca na ideia de que mulheres estão sempre em um nível inferior.

Um outro ponto abordado na fala de Celeste tratou especialmente dos instrumentos criados pelo Estado para oferecer suporte às mulheres, com enfoque especial na questão da saúde. As primeiras experiências no Brasil, conforme ressaltou, datam do início dos anos 80 com o surgimento do primeiro conselho de mulheres e a primeira delegacia da mulher. Além desses, que começaram a se espalhar pelo país nos anos posteriores, apenas em 2003 o Brasil passou a ter uma Secretaria Nacional de Política Para as Mulheres. Contudo, conforme lembrou Celeste, apenas um dia após assumir a presidência, em um dos seus primeiros atos, Michel Temer extinguiu as secretarias de políticas das mulheres e de igualdade racial. No âmbito local, Celeste destaca a criação do Fórum de Mulheres de Santa Maria justamente como uma resposta a ausência de uma instância do governo municipal que fomente a organização das mulheres. Segundo ela, Santa Maria possui, apenas no papel, uma coordenadoria de políticas para as mulheres. Contudo, uma inciativa louvada foi a organização, pelo Conselho Municipal de Saúde de Santa Maria nos dias 19 e 20 de maio de 2017, da 1ª Conferência Municipal de Saúde das Mulheres. “Nós tratamos a saúde da mulher dentro dos determinantes que impactam na saúde da mulher, entre eles a violência”, apontou Celeste.

Por fim, se somando às reflexões feitas na primeira fala, Celeste destacou que “existem feminismos e todos eles podem se unir”, e encerrou com a palavra de ordem da Marcha Mundial das Mulheres que explicita muito bem esse pensamento: “eu sozinha ando bem, mas com você ando melhor”.

Violência e morte

Com a última fala da noite antes das intervenções da plateia, Benhur Pinós da Costa trouxe uma importante análise a respeito das políticas para a comunidade LGBT. Partindo do princípio, Benhur expôs um breve histórico acerca de eventos importantes na construção da luta, desde a definição conceitual de homossexualidade, datada do final do século XIX, pela psicologia, como um possível “distúrbio”, passando pela “rebelião de Stonewall”, quando frequentadores de um bar LGBT se revoltaram contra as cotidianas agressões cometidas pela polícia de Nova Iorque, e chegando até a 43ª assembleia da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1990, quando a homossexualidade foi retirada da lista de desordens mentais, e em 2011, no Brasil, com regulamentação do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. No que toca eventos recentes e no Brasil, Benhur deu destaque especial para alguns lamentáveis retrocessos, entre eles a aprovação do PL 6583/2013, conhecido como o Estatuto da Família (e que regulamenta o núcleo familiar como relação apenas entre homem e mulher) e a grande resistência e dificultosa tramitação do PLC 5003/2001, que torna a homofobia crime.

Aliás, está na questão da violência, segundo Benhur, o grande retrocesso ao qual a comunidade LGBT está sendo condenada. Enquanto se avança em termos de regulamentação das uniões homoafetivas, os números sobre a violência contra LGBTs, e inclusive de mortes, atingem o topo do ranking mundial. “Nós temos a maior Parada Gay do mundo e que ocorre na mesma Avenida Paulista onde LGBTs são mortos todos os dias”, declara Benhur. Aliás, os próprios avanços no que toca a regulamentação das uniões, recebem ponderações de Benhur. Segundo ele, é preciso problematizar a regulamentação da sexualidade a partir de um modelo que é o da heteronormatividade, baseado no núcleo de família homem e mulher. ”Ok, você é gay, mas existe um modelo de gay que é aceitável”, critica Benhur. E tudo isso, tanto as retiradas de direitos quanto as regulamentações que podem vir a reproduzir a estrutura tão criticada, são reflexos das próprias identidades que constroem as leis no país. “As políticas são produtos das esferas de poder que a constituem”, destaca. Por fim, Benhur ressaltou como uma entre tantas estratégias para furar esse bloqueio, a possibilidade de um diálogo mais próximo entre a universidade e os movimentos sociais, e citou como uma referência disso a aprovação do uso do nome social na UFSM, uma ação articulada especialmente pelo coletivo VOE em parceria com algumas representações dentro da universidade. Aliás, nesse mesmo sentido, está em fase de criação um Fórum LGBT de Santa Maria, segundo Benhur, iniciativa que pretende oferecer inclusive cursos profissionalizantes para a comunidade LGBT carente.

Observatório

Apesar das especificidades, um ponto circula tanto pelo racismo, quanto pelo sexismo e a homofobia: a necessidade de se denunciar. E muitas foram as falas que caminharam nesse sentido, destacando a importância de criação de espaços de denúncia ou de efetivação de outros canais já criados, mas ineficientes. Nesse ponto, o presidente da Sedufsm, Julio Quevedo, destacou que a criação de um grande observatório de denúncias está entre os objetivos do GTPCEGDS e que em Santa Maria a Sedufsm vê com muito entusiasmo essa possibilidade. E mais que isso. Segundo Julio, a construção desse observatório é um ótimo passo para que se comece uma importante aproximação entre as diversas pautas, os movimentos sociais, os sindicatos e quem mais quiser se somar.

Texto: Rafael Balbueno
Fotos: Ivan Lauter, Bruna Homrich e Rafael Balbueno
Assessoria de Imprensa da Sedufsm

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