Mineração avança na América Latina, mas comunidades resistem SVG: calendario Publicada em 08/06/17 17h52m
SVG: atualizacao Atualizada em 09/06/17 14h53m
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Seminário da Regional RS do ANDES-SN trouxe experiência de lutadores peruanos

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Mesa de debates: Adriana, Ana Maria, Tatiana (coordenadora) e Domingues

Maria é uma camponesa que mora na região de Conga, no povoado de El Tambo, em Cajamarca, no Peru. Ela sempre plantou batatas usando água de nascentes nas montanhas dessa região para abastecer a plantação. Contudo, a instalação de um projeto de mineração, chamado de “Projeto Conga”, passou a transformar a água límpida em água de cor turva. Além disso, a água do local também foi secando aos poucos. O projeto, desenvolvido pela ‘Mineradora Yanacocha’, em parceria com outras empresas multinacionais, conforme dados buscados na internet, tinha como meta produzir seis milhões de onças de ouro, além de extrair cobre.

No momento em que os moradores perceberam a ameaça de destruição do solo e contaminação da água, que é essencial para a sobrevivência da comunidade, iniciaram uma mobilização que dura até os dias de hoje. Ana Maria Llamoctanta Edquen é uma dos muitos camponeses e camponesas que passaram a se mobilizar para tentar barrar o projeto usando como lema “Água sim, ouro não”.  A reação da comunidade foi tão grande que, em julho de 2012, o governo federal peruano declarou emergência em três regiões, sendo uma delas, Cajamarca. Ao longo dos últimos anos, a população conseguiu barrar o projeto, mas o custo não foi pequeno. Cinco trabalhadores foram mortos em confronto com tropas federais. A organização das manifestações passa pela Frente em Defesa da Vida e do Meio Ambiente.

Na última segunda-feira, 5, Ana Maria, que comanda as “Rondas Camponesas” do povoado de "El Tambo", desde 2012, esteve em São Lourenço do Sul, participou da mesa de debates “Impactos da mineração na América Latina”, relatando como é feita a luta dos moradores de Cajamarca. Junto com ela, nos debates, também esteve a professora Adriana Peñafiel, pesquisadora do tema que abrange o projeto de mineração em Cajamarca. Atualmente, Adriana é docente da Universidade Federal de Rio Grande (FURG), no curso de Gestão de Cooperativas, campus de São Lourenço do Sul. Fechando esta mesa, o professor José Domingues Godói Filho, da Universidade Federal do Mato Grosso, e do Grupo de Trabalho de Política Agrária, Ambiental e Urbana (GTPAUA) do ANDES-SN. A coordenação da mesa foi da professora Tatiana Walter (GTPAUA/Aprofurg).

Em sua explanação, Maria deu mais detalhes sobre a importância de defender a região de Conga, que é composta por um ecossistema formado há milhões de anos, e que tem a cabeceira hídrica mais importante da região de Cajamarca. Qualquer intervenção humana nessa área redundará em destruição da natureza de forma insuperável, conforme descreveu. Mesmo a população tendo barrado o prosseguimento do “projeto Conga”, os efeitos de seu início se fazem presentes. Segundo Maria, no distrito de Hualgayoc há dificuldade no acesso à agua, sendo que esta é fornecida através de cisternas. Já ocorreram casos de mais de 40 crianças com intoxicação no sangue. E a forma de barrar a ação das mineradoras é justamente através das rondas, em que a comunidade se reveza, passando oito dias junto às margens das lagunas, dormindo em pedras, buscando evitar que as máquinas voltem a trabalhar no local.

Proliferação da mineração na América

Adriana Peñafiel, docente da FURG, mas também pesquisadora do tema da mineração, destacou em sua palestra a proliferação de projetos na América Latina depois de 1990. Em 1970, eram extraídas 2,4 milhões de toneladas de produtos de mineração, número que triplicou no ano de 2009, superando 8,3 milhões de toneladas. No Peru, que a partir do governo de Alberto Fujimori, em 1990, autorizou a mineração a céu aberto, a área de extração subiu de 4 para 22 milhões de hectares. Na província de Cajamarca, Adriana destaca que 45,5% do território é alvo das mineradoras.

Há ação de mineradoras em boa parte dos países da América do Sul e América Central. Chega-se a situações extremas como a de Honduras, que conta com 36,9% das concessões da América Central. Em outras palavras, cerca de um terço de seu território está concedido a mineradoras, conforme dados publicados no estudo do portal A nova democracia, através do texto “Enclave das mineradoras transnacionais”. Já o Brasil, que tem forte tradição mineira em estados como Minas Gerais, por exemplo, há grandes empresas, de atuação internacional, na área de mineração. Algumas delas, inclusive, acusadas de causar prejuízo ao meio ambiente: Vale do Rio Doce e a Votorantim.

A professora da Furg ressaltou que o avanço das empresas de mineração passa por um papel de convencimento das pessoas. Segundo Adriana, a propaganda governamental no Peru, por exemplo, tem sido no sentido de fixar a ideia de que o país é “mineiro”, ou seja, cuja vocação histórica na economia é a extração de minérios. Contudo, avalia ela, essa é uma ideia equivocada, impositiva, que coloca em choque mundos diferentes, criando o que conceitualmente tem sido classificado como “conflito socioambiental”. E os conflitos surgem inevitavelmente da forma como os processos de mineração atingem as pessoas e o ambiente. Conforme Adriana, para cada grama de ouro extraída, é necessária a retirada de uma tonelada de terra.

Modelo de destruição

O grande debate em relação à mineração é o modelo implantado. Para José Domingues Godói Filho, geólogo e professor da UFMT, o ser humano ainda necessita do processo de extração dos minerais para alavancar o desenvolvimento. Contudo, é preciso discutir o método, que tem levado à destruição dos recursos naturais. É necessário questionar, segundo Domingues, por que apenas sete países do planeta consomem 50% do petróleo produzido. Também é fundamental perguntar por qual motivo somente os Estados Unidos consomem 27% do que é produzido em termos de energia.

O professor da UFMT e integrante do GTPAUA do ANDES-SN disse que é preciso ter claro que “os recursos naturais são da sociedade” e que, por isso, é preciso lutar para que a mineração não se mantenha como um “processo de expropriação” dos povos. Ele cita o caso da América Latina, que sempre foi, na análise dele, um “quintal dos Estados Unidos”. Para Domingues, continuamos do mesmo jeito e, parafraseando o escritor Eduardo Galeano, afirma que “as veias continuam abertas”, pois os interesses da população não batem com os interesses do capital.

E, assim como Ana Maria, a camponesa peruana que, em sua fala, ressaltava a importância da construção da luta “unitária”, Domingues também caminhou em ideia similar. Para ele, seria importante que em regiões como as do Rio Grande do Sul, que estão previstas de serem abrangidas por projetos de mineração, fosse construído algo como o Movimento dos Afetados pela Mineração.

Texto: Fritz R. Nunes

Fotos: Ivan Lautert e Fritz Nunes

Assessoria de imprensa da Sedufsm

 

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