Sem a URSS o mundo ficou pior, diz Enrique Padrós
Publicada em
23/11/17 17h25m
Atualizada em
23/11/17 17h30m
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Historiador da UFRGS falou na quarta, 22, no Seminário da Revolução Russa, na UFSM
Há quem comemore o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) no início da década de 90, pois representaria o fim do Comunismo e o triunfo do Capitalismo. Não é o que pensa Enrique Padrós, professor de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Para ele, o mundo ficou muito pior sem o contraponto da antiga URSS e o Capitalismo ficou ainda mais selvagem. Padrós foi o conferencista, no final da tarde desta quarta, 22, durante o Seminário “100 anos da Revolução Russa. Análises e perspectivas”. O evento, que tem a Sedufsm como uma das promotoras, segue até esta sexta, dia 24.
O desenvolvimento da experiência da URSS a partir de 1917 de certa forma obrigou os países capitalistas a instituírem uma face mais humanizada, considera o historiador. Para ele, com a derrocada do projeto socialista, o que se percebe é uma ofensiva contra os direitos sociais e dos trabalhadores. Além disso, afirmou Padrós, é nítida a postura dos Estados Unidos de implementar, de forma acelerada, na política externa, o “terrorismo de Estado”.
O professor Enrique Padrós manifesta ares de pessimismo e se diz preocupado com a “falta de sonhos” na atualidade, especialmente após o término dos regimes socialistas enquanto contraponto aos modelos capitalistas, hoje neoliberais. Ele vê um hiato entre as gerações que lutaram por um mundo mais igualitário e as que vivem hoje. Há, segundo o historiador, uma retomada da perspectiva “Socialismo ou barbárie”.
Quando se fala em alguns efeitos do colapso do regime soviético, o historiador destaca o ressurgimento do nacionalismo e de conflitos étnicos; a fragmentação política; a ‘russificação’ regional e a europeização de parte do que era a antiga URSS.
Padrós enfatiza que é muito difícil entender o século XX sem citar a influência da Revolução Russa. A vitória da URSS sobre o nazismo, apesar da perda de 22 milhões de pessoas, e da destruição material da nação-continente, transformou a União Soviética em referencial para todo o planeta. O influxo da URSS, destaca o professor, gerou, de um lado, a construção de processos revolucionários em todo o mundo, especialmente nos países que ainda eram colônias, e por outro, gerou a criação de um “Estado de bem-estar social” em países da órbita capitalista.
Legado
Quando fez um resumo sobre o legado da Revolução Russa, Enrique Padrós apontou alguns pontos positivos e outros negativos. Para ele, o exemplo russo comprovou a importância do processo de organização de trabalhadoras e trabalhadores. Evidenciou o papel dos partidos de orientação revolucionária, com a necessidade de qualificação dos quadros dirigentes. Contudo, olhado no tempo histórico, também ressalta problemas como a degeneração burocrática, a autofagia da esquerda, entre outros aspectos.
Para o professor da UFRGS, um dos principais legados é deixar transparente a necessidade de luta efetiva por uma sociedade com justiça, igualdade e fraternidade, bandeira levantada na Revolução Francesa, mas que não foi cumprida pela classe que emergiu daquele processo, que foi a burguesia. Sobretudo, destaca Padrós, um dos legados principais da Revolução Russa é a capacidade de ter utopias. Ou seja, o ser humano tem o direito de sonhar. E agir para buscar esse sonho.
Veja mais aqui sobre a programação do seminário.
Texto e foto: Fritz R. Nunes
Assessoria de imprensa da Sedufsm