Pandemia coloca em cheque modelo ultraneoliberal, diz docente SVG: calendario Publicada em 01/04/20 19h30m
SVG: atualizacao Atualizada em 01/04/20 20h17m
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Juliana Fiuza (UERJ) e Mauro Iasi (UFRJ) participaram de debate online promovido pelo ANDES-SN

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A pandemia de coronavírus tem elementos biológicos, mas não deve ser encarada como algo natural. “Ela não é um meteoro que caiu na terra, é fruto das condições de vida na sociedade do capital, da agudização das políticas ultraneoliberais, da forma como organizamos a agricultura, a pecuária e nossos processos de urbanização, das terríveis condições de vida da população mundial com os processos de privatização de toda a proteção social. São elementos sociais os responsáveis por explicar o fato de agora sermos vítimas coletivas de uma crise sanitária e social dessa magnitude”.

A avaliação é de Juliana Fiuza, docente da Faculdade de Serviço Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, que participou da mesa de debate “Ditadura e Fascismo e tempos de pandemia”, promovida pelo ANDES-SN de forma online na noite da última terça-feira, 30 de abril. A transmissão ocorreu via página do Sindicato Nacional no Facebook e canal no Youtube, estando ainda disponível nestes canais para quem desejar assistir. Quem dividiu a mesa virtual de debate com Juliana foi Mauro Iasi, docente da Escola de Serviço Social da UFRJ.

Para Juliana, a pandemia vem fazendo que com as pessoas sintam de uma forma coletiva as contradições que antes eram percebidas em seu aspecto individual. “Estamos vivendo todas as contradições que já estavam postas antes por esse modelo do capital, cada vez mais duro conosco. Só que hoje isso se torna uma experiência coletiva internacional. Vemos pessoas morrendo porque os sistemas de saúde públicas não são suficientes para dar conta do atendimento da população. Vemos a generalização das contradições e o desmonte dos sistemas de proteção social”, reflete

O governo Bolsonaro, na avaliação da docente, tem claros traços neofascistas e os coloca a serviço da aplicação de políticas ultraneoliberais, que seriam um aprofundamento do neoliberalismo a partir da crise de 2008 – e que no Brasil teria chegado em 2013.

De imediato, Juliana pondera que a prioridade de qualquer programa deva ser a adoção de medidas emergenciais que garantam a sobrevivencia da população. Mas, a partir da pandemia, também é possível pensar nos horizontes possíveis para o próximo período.

“Podemos ter um avanço na consciência dos trabalhadores sobre os limites dos modelos do capital. Podemos questionar a hegemonia ultraneoliberal e retomar uma consciência anticapitalista mais potente mundialmente. Podemos fortalecer lutas sociais anticapitalistas e por direitos no próximo período. Esse é um cenário possível, mas não é natural e não vai acontecer sozinho”, reflete a docente, destacando que, após a crise de 2008, houve a ascensão de governos neofascistas mundo afora. “Se por um lado podemos ter uma abertura para a crise da hegemonia do capitalismo e do ultraneoliberalismo, por outro lado existem análises de que o capitalismo também pode se apropriar dessa crise social para uma nova rodada de exploração e expropriação contra a classe trabalhadora”, pondera Juliana, para quem os processos de solidariedade de classe e auto-organização observados em meio à pandemia devem ser observados pela esquerda.

Afastamento imediato de Bolsonaro

Para Mauro Iasi, o combate ao coronavírus e a manutenção de um mínimo de civilidade passam pelo afastamento imediato de Bolsonaro da presidência da República. “O Brasil é um país que destroçou a sua política internacional. Viu sua imagem afundar muito rapidamente por estar acoplada ao anticientificismo, à homofobia, ao machismo, ao ataque aos povos indígenas, aos direitos humanos e à natureza. E o capital, durante o século XX e XXI, migrou para posições em que essas posturas passam a ser preocupantes - não porque firam valores humanos, afinal para o capital isso não conta. Mas efetivamente você tem um incômodo com um presidente da República tosco, que beira à imbecilidade, que despreza o mais elementar senso de civilidade ou as conquistas mais elementares de um pensamento científico. Não só despreza como afronta”, diz o docente.

Na avaliação de Iasi, Bolsonaro vem se tornando um personagem incômodo para setores da grande burguesia. Não porque repele a pauta do capital – pelo contrário, a aplica disciplinadamente, mas pela sua forma de ser. “Ele precisa construir uma ameaça – comunismo, marxismo cultural - para poder aglutinar pessoas e assumir o papel de Messias salvador. Isso tem uma funcionalidade eleitoral. Ele consegue galvanizar o antipetismo nessa cruzada salvadora. Mas isso traz em si uma série de comportamentos que, em seu limite, são preocupantes para a pauta do capital”.

Vírus encontrou um país fraturado

Antes da pandemia, Iasi fazia a análise de que as classes dominantes brasileiras estavam divididas. E devido aos dois lados daquele enfrentamento político terem fortes recursos de poder, havia certo equilíbrio/empate entre essas forças, e seria nesse equilíbrio que Bolsonaro conseguiria sobreviver. Dois fatores teriam contribuído para tal estabilidade se desfazer.

O primeiro seria a crise econômica que já se desenrolava antes da pandemia e se expressava nos índices de desemprego, na paralisação de obras de infraestrutura, na queda vertiginosa dos investimentos estrangeiros, no fracasso das tentativas de leilão dos poços de petróleo, nos cortes de investimentos. “A estabilidade diante de um governo de extrema direita só seria possível com a mítica retomada da economia, o que não aconteceu. O plano ultraliberal do Guedes fracassou na tentativa de produzir uma rápida retomada da economia”, avalia o docente.

O segundo é a própria chegada da pandemia, que atua como um catalisador da crise. “O vírus não pode produzir fenômenos políticos diretamente. Ele só atua no cenário político, social e econômico que encontra dado. E ele [vírus] encontrou um país fraturado, dividido, no meio de uma crise econômica séria, e no meio de uma correlação de forças que colocava segmentos da classe dominante em confronto”.

“Um estadista poderia aproveitar essa situação de enfrentamento da pandemia para produzir consensos. Mas esse não é o perfil do personagem principal de nossa trama. Bolsonaro sempre quis produzir tensões que justificassem uma interrupção do processo democrático em curso”, conclui Iasi. Bolsonaro, na avaliação do docente, encontra-se isolado politicamente das classes dominantes, dos segmentos parlamentares, do poder jurídico e do poder midiático. “Está isolado dentro do seu próprio governo”.

A grande questão que se coloca para a esquerda brasileira, diz o professor, é conseguir elaborar uma estratégia para que o afastamento de Bolsonaro não resulte em apenas uma alternativa mais sofisticada de implementação da mesma agenda de penalização dos trabalhadores. “Como podemos interferir nessa conjuntura e evitar que ela seja decidida pelos segmentos da classe dominante?”, questiona.

 

Texto: Bruna Homrich

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

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