Dica cultural: Juliana Petermann e a obra que desnuda o machismo cotidiano SVG: calendario Publicada em 11/09/20 16h16m
SVG: atualizacao Atualizada em 11/09/20 18h58m
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Professora de Comunicação da UFSM indica o livro “Os homens explicam tudo para mim”

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Sextou na quarentena! E nesta sexta, 11 de setembro, publicamos mais uma dica cultural. Hoje, a indicação é da professora/publicitária, Juliana Petermann, do departamento de Ciências da Comunicação da UFSM. Vivemos tempos bicudos, como fraseava Mário Quintana, em época de governos autoritários, estimuladores de posturas daqueles (as) que se vangloriam de se assumirem machistas, homofóbicos. E, por isso mesmo, a contribuição da docente ao sugerir a leitura do livro “Os homens explicam tudo para mim”, de Rebecca Solnit, é de extrema relevância.

Apesar dos inúmeros avanços das mulheres em termos de alcance de direitos em uma sociedade desigual por natureza, é importante perceber que, no dia a dia, a violência, simbólica, mas também concreta, é algo presente.  No texto que publicamos a seguir, Juliana Petermann destaca alguns pontos do livro da historiadora e escritora norte-americana, Rebecca Solnit, publicado pela Editora Cultrix. Para além disso, a docente da UFSM identifica os liames entre as experiências relatadas pela autora do livro e o cotidiano das mulheres, mesmo dentro de um ambiente que é considerado de uma elite intelectual, que é o do acadêmico universitário. Boa leitura!  
 

“Naquele dia eu estava em um congresso no qual uma determinada comissão foi apresentada. Essa comissão tinha uma especificidade: a sua constituição era essencialmente masculina. Século XXI e nenhuma mulher havia sido nomeada para integrar o grupo. Na ocasião da apresentação dessa comissão, eu fui a única pessoa no auditório a contestar o fato. Depois da minha fala, a explicação que me foi dada, justificava que se tratava de mero acaso. Nos dias de congresso que se sucederam a esse fato, alguns homens me perguntavam se eu estava 'mais calma’, me diziam que eu não deveria ser ‘tão brava’ e que essas ‘divisões por gênero são uma bobagem’. Isso não é uma fanfic. É um relato de um acontecimento que verdadeiramente ocorreu comigo. Nesse mesmo dia, ao término desse espetáculo da desigualdade, como um afago, meu companheiro me presenteou com o livro da jornalista, historiadora e escritora Rebecca Solnit intitulado “Os homens explicam tudo para mim”.

Em nove ensaios, a autora escancara a desigualdade entre homens e mulheres e o tanto de violência que sofremos todos os dias e em tantas esferas. E que não é de outros tempos. Também não é coisa superada. É de hoje. Desigualdade tão bem ilustrada no episódio do congresso. Neste livro, entre muitos outros dados cruéis e alarmantes sobre a violência que sofremos, está o relato bem humorado de uma situação vivida pela autora: em uma festa, um homem, que ela descreve como “um homem importante que já havia ganhado muito dinheiro”, lhe perguntou: “você já ouviu falar daquele livro muito importante sobre Muybridge que saiu esse ano?”. Solnit diz que chegou a cogitar que outro livro sobre o mesmo tema tivesse sido publicado no mesmo ano em que ela havia lançado o seu. Mas não. Aquele homem estava mesmo explicando a ela sobre o livro que ela mesma havia escrito. Não apenas isso. Ele demorou algum tempo, em meio ao seu falatório tão cheio de si, a prestar atenção ao que dizia Sallie, amiga de Solnit e que presenciara tal constrangimento: “Esse é o livro dela”, repetiu Sallie por três vezes. Esse episódio deu origem ao termo mansplaining, que define situações nas quais os homens explicam coisas sobre as quais não sabem muito para mulheres que sabem muito sobre tais coisas. Os fatos posteriores à experiência que relatei no início deste texto foram, felizmente, um mea culpa dos homens que compunham a comissão e um convite para que eu e uma colega passássemos a integrá-la.

Embora duas mulheres em uma comissão de quinze pessoas ainda seja um número bastante irrisório e embora o convite tenha sido motivado pela minha reclamação, identifico que um pequeno avanço, nem mesmo digno de comemoração, ocorreu. Mas ocorreu e eu gosto de acreditar nas pequenas e constantes transformações. Solnit também acrescenta ao livro pitadas de esperança. Ela diz: “Para mim, as razões para a esperança são simplesmente, dois fatos: não sabemos o que vai acontecer a seguir, e o improvável e o inimaginável se manifestam com bastante regularidade. E a história não oficial do mundo mostra que indivíduos dedicados e movimentos populares são capazes de mudar o curso da história, como já aconteceu - apesar de que como e quando nós poderíamos vencer, e daqui a quanto tempo, são coisas impossíveis de se prever”. E eu gosto de acreditar nela”.

Juliana Petermann

Professora Associada do Departamento de Ciências da Comunicação da UFSM.

Doutora em Ciências da Comunicação pela Unisinos.
 

 

Edição: Fritz R. Nunes

Fotos: Arquivo pessoal

Assessoria de imprensa da Sedufsm

 

 

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