Guerra e paz SVG: calendario Publicada em 09/12/2020 SVG: views 748 Visualizações

Não se faz guerra pela paz,
pacifica-se pela paz.

Augusto Branco

O tema da guerra é a essência para o estudo dos assuntos internacionais. De fato, o surgimento do campo (ou disciplina) de Relações Internacionais, no período entreguerras, foi motivado em grande medida pelo interesse de “investigar de maneira sistemática as causas da guerra e a possibilidade de edificação de mecanismos capazes de evitar a eclosão futura desse tipo de conflito” (SILVA, WILLIAMS, 2010, p. 106).

Conforme Steven Pinker, “durante a maior parte da história humana, a guerra foi o passatempo natural dos governos, e a paz, mero intervalo entre conflitos”. Tivemos duas guerras mundiais que foram as formas de destruição mais intensas que nossa lastimável espécie já conseguiu conceber.

Pinker afirma: “hoje as guerras no planeta concentram-se quase exclusivamente em uma zona que se estende da Nigéria até ao Paquistão, uma área com menos de um sexto da população mundial”.

É possível através de dados, gráficos, evidências empíricas constatar a rarefacção do fenômeno da guerra. Como pondera Luís Moita: “não quer dizer que o nosso mundo esteja menos devastado pela violência que no passado, mas tornaram-se comparativamente raras as guerras travadas entre Estados, as guerras convencionais que opunham uma nação a outra (...) no passado, a maioria das guerras tinha motivações territoriais, fossem litígios fronteiriços, fossem reivindicações de territórios, fossem ambições expansionistas, e terminavam muitas vezes pela ocupação e submissão de uns povos a outros. Nos nossos tempos, a conquista territorial parece ter caído em desuso e, quem inicia uma guerra de conquista, perde-a. Isso ocorreu quando a Somália pretendeu conquistar o Ogaden à Etiópia, quando a Argentina tentou recuperar pela força as Malvinas, quando o Iraque atacou o Irã para anexar o Shatt-el-Arab e invadiu o Kuwait para conquistar, quando a Eritreia se lançou contra Etiópia por uma faixa de território desértico. Em todos estes casos, as guerras fracassaram e os agressores não saíram compensados”.

Uma das piores guerras na atualidade é a da Síria, onde o governo de Bashar al-Assad confrontou um conjunto diversificado de forças rebeldes (islamitas e não islamitas), com a ajuda da Rússia e do Irã. Estimativas projetam entre 320.000 a 450.000 pessoas morreram na guerra civil da Síria. 1,5 milhões de pessoas ficaram feridas. E quase 7 milhões de refugiados sírios, sendo a Turquia o principal destino com 3,7 milhões. O Brasil, até 2018, tinha concedido entrada a 3.326 sírios. (Fonte: Ministério da Justiça e Segurança Pública).

Apesar da guerra da Síria e outros conflitos bélicos espalhados pelo mundo, podemos concluir que há uma relativa raridade das guerras interestatais. Embora muitos se recusam a acreditar no progresso em direção à paz, pois, asseveram que a natureza humana inclui um impulso insaciável de conquista.

Como alerta Pinker: “na verdade, a guerra pode ser apenas mais um obstáculo que uma espécie esclarecida aprende a superar, como a peste, a fome e a pobreza. Embora a conquista possa ser tentadora no curto prazo, em última análise é melhor descobrir como conseguir o que desejamos sem os custos do conflito destrutivo e os riscos inerentes de viver pela espada – ou seja, quando você representa uma ameaça para os outros, dá a eles um incentivo para destruí-lo primeiro. No longo prazo, um mundo no qual todas as partes se abstenham de guerrear é melhor para todos. Invenções como comércio, democracia, desenvolvimento econômico, forças de paz e direito e normas internacionais são ferramentas que ajudam a construir esse mundo”.

 

Fontes:

MOITA, Luís. Os conflitos dos últimos 25 anos. Janus, 2005.

PINKER, Steven. O novo iluminismo: em defesa da razão, da ciência e do humanismo. 1 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

SILVA, Guilherme A. Gonçalves, Williams. Dicionário de Relações Internacionais. 2 ed. rev. e ampl. Barueri: Manole, 2010.

 

Sobre o(a) autor(a)

SVG: autor Por José Renato Ferraz da Silveira
Professor do departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM

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