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01/03/2021
José Renato da Silveira
Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM
O meu rosto não era mais o mesmo, “assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo” (Cecília Meireles). Enquanto ouvia artifícios verbais, elucubrações vazias, risos frenéticos e um ar misto de espanto, perplexidade e deboche... o pacto da mediocridade foi me envolvendo, me entorpecendo, me nauseando... Tentei fugir. E fugi por alguns instantes... O meu pensamento se afastou dali. Naquele voo do pensamento atrás de paz e conforto espiritual, veio a imagem daquele homem sereno e sorridente. Ele se aproximou de mim e cochichou no meu ouvido: “A história da ciência, como a de todas as ideias humanas, é uma história de sonhos irresponsáveis, obstáculos e erros. No entanto, a ciência é uma das poucas atividades humanas – talvez a única – em que os erros são criticados de forma sistemática e muitas vezes, ao longo do tempo, corrigidos”.
O homem que cochichou era Kark Popper. Popper destaca-se como um dos principais pensadores do século XX no que tange ao centro da filosofia do conhecimento conhecida como racionalismo crítico.
Popper enfatiza a conjectura considerada como forma de adquirir conhecimento, e a crítica, considerada como forma de controlá-lo.
O professor e filósofo austro-britânico afirma que o conhecimento evolui em uma sequência de conjecturas e refutações, de soluções provisórias dos problemas, submetidas a testes rigorosos, feitos sem concessões. Vale destacar que no racionalismo crítico, nosso conhecimento não tem bases seguras: fica mais livremente no ar do que assentado em alicerces sólidos. “Nossa ignorância é preocupante e ilimitada (...) a cada passo que avançamos, a cada problema que resolvemos, não apenas descobrimos novos problemas não solucionados como também descobrimos que ali onde acreditávamos pisar em terreno firme e seguro, tudo não é verdade, é inseguro e fluido” (Karl Popper).
Nesse sentido, Popper acredita que a colaboração, a intersubjetividade e o caráter público do método desempenham papeis fundamentais na crítica científica e no avanço da ciência. Ou seja, métodos de ensaios e erro, de invenção de hipóteses passíveis de serem testadas. Devemos lembrar que a objetividade e a racionalidade da ciência encontram-se não só nas mãos de cientistas individuais, mas nas de cientistas imersos em uma comunidade científica.
A necessidade da crítica, em particular, tem um caráter irremediavelmente social, pois, em geral, somos tão cegos para as nossas falhas quanto somos atentos para as dos outros. Assim sendo, precisamos reconhecer que raras vezes estamos corretos; quando estamos, não precisamos saber.