Galton e a Eugenia SVG: calendario Publicada em 23/06/2021 SVG: views 303 Visualizações

“A aparência de inexistência de um plano talvez revele a existência de um plano. Um plano que parou em março de 2020, quando alguns, felizmente poucos líderes internacionais, acreditaram que o melhor caminho para vencer a crise era que a doença se espalhasse rapidamente e quem tivesse que morrer, morreria. E, quem sobrevivesse, continuaria tocando a economia. Morreriam provavelmente, os mais frágeis, desonerando a Previdência, desonerando os serviços de saúde. Ou seja, do ponto de vista econométrico, poderia ter-se um acontecimento positivo”.

O médico sanitarista e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Cláudio Maierovitch, criticou a chamada “estratégia” de “imunidade de rebanho”  na CPI da Covid, no dia 11 de junho de 2021.

A Inglaterra e o século XIX

Ao longo do século XIX, a Inglaterra passou por inúmeras mudanças políticas, econômicas e religiosas.

Na era Vitoriana, o aparecimento e o desenvolvimento das indústrias nas city inglesas estimularam a migração de um grande número de pessoas que abandonavam o campo e buscavam nas cidades as novas “ofertas de trabalho”.

Esse fluxo intenso e contínuo fez com que diversos trabalhadores vivessem sob condições deploráveis nas cidades que cresciam – desordenadamente – com todos os problemas decorrentes desse fenômeno.

O estado de miséria e pauperização eram acentuados, às más condições de higiene, o desemprego em virtude do excesso de mão de obra bem como a exploração dos trabalhadores por parte dos industriais contribuíram para o aumento da propagação das doenças e a baixa estimativa de vida dos ingleses.

Nesse período, há uma reorientação intelectual em relação ao Iluminismo. Tratava-se de um ataque contra os pressupostos igualitários das revoluções burguesas, cujo novo aporte teórico concentrava-se na ideia de raça. O discurso racial ganhava força e vigor.

Francis Galton e a eugenia

Francis Galton (1822-1911) – meio-primo de Darwin – antropólogo, meteorologista, matemático e estatístico inglês, que viveu na era Vitoriana, aplicava métodos estatísticos ao estudo da herança. Galton cunhou o termo “eugenia” para designar “o melhoramento biológico da raça humana” através da reprodução seletiva em sua obra Inquiries human faculties (1833). Vale destacar que embora o termo “eugenia” tenha sido cunhado por Galton, a ideia do “melhoramento de raça já existia desde a Antiguidade”. Por exemplo, em Esparta, a ideia de produzir uma raça de guerreiros de elite, levava os espartanos a eliminar todo recém-nascido que fosse portador de algum tipo de deficiência.

Galton considerava que a maior parte das características humanas físicas, mentais e morais eram herdadas. Para ele, a inteligência, o talento para a música, a habilidade para a oratória, além das características físicas eram herdados, do mesmo modo que as deficiências físicas ou debilidades mentais.

Galton considerava que as investigações/questionários, históricos familiares que na atualidade chamamos de “árvore genealógica”, auxiliariam a entender a origem das famílias em diversos períodos. Para ele, estas informações seriam de grande valia para a sociedade e para as estatísticas de estudos eugênicos.

Galton passou os dez últimos anos de sua vida defendendo que a eugenia era um credo social, político e religioso. Propôs ainda que esta fosse integrada à consciência nacional como uma religião. Ele explicou: “o objetivo primeiro da eugenia é verificar a taxa de natalidade dos inaptos, em vez de permitir que eles venham a existir em grande número para morrer prematuramente. O segundo objetivo é a melhoria da raça promovendo a produtividade por casamentos precoces e a criação saudável dos filhos. A seleção natural repousa sobre a produção excessiva e a destruição em massa”.

Galton e o movimento eugenista

De acordo com Simone Rocha: “os princípios propostos por Galton inspiraram o movimento eugenista que ocorreu em mais de trinta países nas primeiras décadas do século XX”.

O movimento eugenista envolveu vários segmentos, dentre os quais a área médica e jurídica, com a criação de sociedades específicas e publicações como, por exemplo, o periódico Boletim de Eugenia no Brasil.

No próximo texto – nesse espaço -  falaremos sobre o Boletim de Eugenia: periódico que circulou mensalmente de 1929 a 1933 – no Brasil - e que refletia a visão da elite da época que “almejava o branqueamento da raça, sem fundamentação científica, movida principalmente pelo preconceito” (ROCHA, 2010, p. 9).

 

GALTON, Francis. Memories of my life. London: Melthuen. 1908. http: //galton.org/ (acesso em: 11/06/2021).

ROCHA, Simone. Eugenia no Brasil: análise do discurso “científico” no Boletim de Eugenia: 1929-1933. São Paulo, 2010. Tese (Doutorado). PUC-SP. Programa História da Ciência.

 

 

Sobre o(a) autor(a)

SVG: autor Por José Renato Ferraz da Silveira
Professor do departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM

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