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23/02/2022
José Renato da Silveira
Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM
"Os Estados Unidos e a Europa guardam a memória de Munique, 1938, e seguramente ainda alimentam a certeza que se construiu, depois de 1939 e de Pearl Harbour, a concepção de que a resistência diplomática e a ameaça de transformá-la em militar são a única maneira de conter a ambição expansionista de qualquer Estado. Mais do que ideologias".
Oliveiros S. Ferreira - Uma nova era de conflitos. 2010.
“A humanidade fortaleceu-se nas lutas eternas e só perecerá na paz eterna”, escreveu Hitler em Mein Kampf. A tragédia da política internacional europeia da década de 30 é caracterizada pelo abismo ideológico das democracias liberais que viam a paz como fim, e envidaram todos os esforços diplomáticos para evitar a guerra; e por outro lado, a Alemanha de Hitler que não desejava a paz e ansiava pela guerra. A expressão latina “Se queres a paz, prepara-te para a guerra” fez sentido neste contexto histórico europeu.
O Acordo de Munique de 1938 revelou que ingleses e franceses estavam dispostos a ceder territórios na Europa para evitar qualquer guerra com a Alemanha. Munique ficou conhecida como uma aberração diplomática. Contudo, a partir dali, franceses e britânicos abandonariam essa política de flexibilização. Atualmente, os líderes citam sempre o premiê inglês Neville Chamberlain como exemplo do apaziguamento inútil. Churchill disse em um de seus discursos sarcásticos após o retorno de Chamberlain de Munique: “A Chamberlain foi oferecida uma opção entre a guerra e a desonra... Ele escolheu a desonra e terá uma guerra de qualquer jeito”.
De fato, quase um ano após o acordo de Munique, Churchill acertou o seu prognóstico: teríamos a ocorrência da 2° Guerra Mundial. Ficou provado que acordo e negociação eram impossíveis com a Alemanha de Hitler, porque os objetivos políticos dela eram irracionais e ilimitados.
O filme "Munique: No Limite da Guerra" (2021) explora o polêmico e malsucedido Acordo de Munique. Com direção de Christian Schwochow e roteiro de Ben Power, “Munique: No Limite da Guerra” “oferece um retrato simpático de Neville Chamberlain” (The Economist). Interpretado por Jeremy Irons, o primeiro-ministro Chamberlain – em “Munique” – é um homem de propósitos elevados, carismático, enérgico e muito confiante. Sua maior fraqueza é a sua autoconfiança.
Porém, parte dos historiadores discorda dessa caracterização, “e estabelece Chamberlain como um líder fraco, que se iludiu ao acreditar que poderia ser mais esperto que Hitler”.
“Não existem dúvidas de que ele era um apaziguador, e que falhou em suas ambições de paz. Mas o primeiro-ministro se tornou um símbolo de fraqueza, e na minha visão, ele não era fraco. É interessante o filme oferecer a ele um módico de dignidade. Afinal de contas, a Guerra é um negócio complicado, e até mesmo a mais perfeita diplomacia pode falhar”, comentou o historiador Dr. James Rogers ao site The Times.
“Munique: No Limite da Guerra” não promove a redenção de Chamberlain, contudo, lança uma nova luz sobre ele no Acordo de Munique.
Vale lembrar que em fevereiro de 1945, antes da Alemanha ser completamente derrotada na II Guerra Mundial, Hitler conjecturou: “Devíamos ter entrado em guerra em 1938... Setembro de 1938 teria sido a data mais favorável”. Chamberlain impediu que isso ocorresse.
José Renato Ferraz da Silveira é professor Associado III do Departamento de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). jreferraz@hotmail.com