1º de maio é dia de luta das trabalhadoras e dos trabalhadores SVG: calendario Publicada em 04/05/2022 SVG: views 1474 Visualizações

Não foi para fazer comemoração que as trabalhadoras e os trabalhadores pararam suas jornadas de trabalho em Chicago, lá no 1º de Maio de 1886. Muito menos foi por comemoração que, na Praça Haymarket, no decurso desta parede, dezenas de operários foram mortos pela repressão policial.

Não foi para ser um dia de comemoração que três anos depois, em Paris, no Centenário da Revolução Francesa, que a II Internacional passou a defender este como o “Dia de Luta” do proletariado em todos os países, em homenagem aos mártires de Chicago, acatando a proposta do belga Raymond Lavigne de que devesse haver uma data fixa a fim de se pressionar os governantes para que a jornada de 8 horas de trabalho diário fosse regulamentada, assim como diversas outras pautas apresentadas na ocasião. No Congresso de Bruxelas, em 1891, a data foi consagrada.

Não foi comemorando, que parte da classe trabalhadora de Belém, organizada no Partido Operário do Pará, na noite do dia 28 para o 29 de abril de 1892, que a polícia e o governo daquele estado, alegando manifestação anárquica e antirrepublicana, empastelou o jornal Tribuna Operária, prendeu e espancou os operários que buscavam organizar o primeiro 1º de Maio em praça pública no Brasil. Naquela conjuntura, tiveram mais sorte os trabalhadores de Porto Alegre, que conseguiram realizar a primeira manifestação em praça pública, alusiva à data, na História do País, uma exceção nos primeiros anos da República Brasileira.

A repressão das classes dominantes, instrumentalizando a perseguição policial, nos anos posteriores, empurraria o dia de protesto para locais fechados, geralmente nas sedes das associações de trabalhadores, muitas delas logo tornando-se sindicatos. “Naqueles” tempos, lembremos, a questão social era tratada como um “caso de polícia”.

Também não foi para comemorar que o 1º de Maio ganhou as ruas do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Porto Alegre e outras cidades brasileiras, a partir de 1906, realizando passeatas e comícios nas ruas e praças centrais destas cidades.

Contudo, rapidamente a conciliação de classes procurou descaracterizar o eixo de protesto da data, transformando-a em simbólico e abstrato “dia do trabalho”, dia feriado, a fim de se comemorar, não mais reivindicar. Foi assim a primeira manifestação de 1º de maio em Santa Maria, em 1899. Dia de pic-nicks e bandas musicais circulando pela cidade. Só na década seguinte é que a reivindicação de um dia combativo passou a acontecer neste “centro ferroviário”.

A concepção oficializada da dará como um dia de “descanso” e de comemoração foi ratificada pelo governo de Arthur Bernardes, no Brasil de 1925, mas foi durante o Estado Novo, em 1939, que o governo do Getúlio Vargas oficializou a data como “Dia do Trabalho”. Naquela conjuntura de Ditadura, missas campais e grozinhos ganhavam os lugares de protestos públicos.

Mas quem segura a classe trabalhadora quando ela luta para si? Igualmente não foi para comemorar que em 1º de Maio de 1950, em Rio Grande – RS, a tecelã Angelina Gonçalves (que trabalhava na fábrica Rheinghantz desde os nove anos de idade e que carregava a Bandeira Nacional, tendo ao seu lado a filha Schirley, de dez anos) gritou “Não temam companheiros!”, tombando morta junto com Euclides Pinto, Honório Alves de Couto e Osvaldino Correia, na Linha do Parque, no auge da repressão do “democrático” governo de Eurico Gaspar Dutra.

Episódios como este só fizeram aumentar a consciência de que, de fato, a data era de manifestação, protesto e luta por direitos. A Ditadura pós-1964, novamente passou a ressaltar a data como Dia do Trabalho. Desde os primeiros dias do Golpe, impondo interventores nos sindicatos, propugnando a concórdia social que esconde a exploração da mais-valia e tergiversa sobre a submissão, o terror de Estado ajudou a (de)formar uma geração de líderes sindicais que preparou uma ou duas gerações em que trabalhadores passaram a praticar um 1º de maio com feriados marcados desde um dia de descanso até dia de festas com apresentações de artistas populares e até sorteios de automóveis.

Neste meio tempo para cá, no Brasil, a classe proletária dos campos e das cidades resistiu, mas perdeu ou flexibilizou seus direitos trabalhistas e sociais, especialmente previdenciários, duramente conquistados ao longo dos anos. Sim, foram CONQUISTAS de luta, não doações de governos de plantão.

Um exemplo deste não linear processo histórico de resistência e lutas da classe trabalhadora para uma sociedade de iguais, diante do qual, cada vez que os dominantes impõem suas ditaduras, trazem consigo o retrocesso dos direitos logrados nas batalhas precedentes, impõem a conciliação que avança no aumento do desemprego, na redução do poder de compra, na miséria social e no desalento daqueles que sobrevivem apenas se encontrarem alguém que lhes compra a força de trabalho.

Então, não estaria mais do que na hora, sobretudo diante dos tempos em que vivemos, de voltar a gritar e praticar o 1º de Maio como o DIA DAS TRABALHADORAS E DOS TRABALHADORES, dia em que se houver festa, que a mesma seja de LUTA, até a vitória final!?   Afinal, dia de festa ainda não é para comemorar derrotas!

 

Bibliografia Consultada

- BILHÃO, Isabel. “Trabalhadores do Brasil!”: as comemorações do Primeiro de Maio em tempos de Estado Novo varguista. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 31, n. 62, p. 71-92 – 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbh/a/53Jxf4ctGT3Gg33BrPMXyGc/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 29 abr. 2022.

- KONRAD, Diorge Alceno. História dos trabalhadores brasileiros e o 1º de Maio. In. KONRAD, Diorge Alceno; WEBER, Beatriz Teixeira (Orgs.). Visões do mundo contemporâneo: caminhos, mitos e muros. Santa Maria: FACOS-UFSM, 2007, p. 187-196.

- KONRAD, Diorge Alceno; PALM, Juliano Luís. 1º de Maio. In. KONRAD, Diorge Alceno; WEBER, Beatriz Teixeira (Orgs.). Visões do mundo contemporâneo: caminhos, mitos e muros. Santa Maria: FACOS-UFSM, 2007, p. 197-201.

- KONRAD, Glaucia Vieira Ramos. Os trabalhadores e o Estado Novo no Rio Grande do Sul: um retrato da sociedade e do mundo do trabalho (1937-1945). Tese (Doutorado em História Social do Trabalho) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, UNICAMP, Campinas, 2006.

 

Sobre o(a) autor(a)

SVG: autor Por Glaucia Vieira Ramos Konrad
Professora Associada do Departamento de Arquivologia e dos PPGs em História e Patrimônio Cultural da UFSM

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