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11/05/2022
José Renato da Silveira
Professor do Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM
Nos meus 43 anos, já sei que ninguém consegue tudo aquilo que deseja (não somente na prática, mas também em teoria).
Muitas vezes, percebia e percebo – com certa angústia e aflição – que os mais ardorosos idealistas acreditam na corrida por um único e abrangente ideal que aplacará os males da humanidade. Muitos deles não entenderam que esta obsessão somente nos levará à coerção bruta. A coerção levará a destruição e muito sangue (ovos serão quebrados, porém, o delicioso omelete não será apreciado). E o que ficará é uma infinidade de ovos quebrados e vidas humanas desperdiçadas.
Na História, os idealistas, em diversos momentos, esquecem do omelete e continuam a quebrar ovos. Na realidade, os fins perseguidos pelos “virtuosos” devem ser, de alguma maneira, controlados, pois a liberdade e a procura pela felicidade não são compatíveis uma com a outra, nem a liberdade, a equanimidade e a fraternidade.
Eu imaginava que na metade da minha existência, racionalidade e tolerância não seriam mais desprezadas. Acreditava na manutenção da democracia liberal. Cada vez noto - que aparece em todo lugar – uma corja de fanáticos modernos e de nacionalismo fundamentalista. Aparece ali e acolá um líder com aspirações tirânicas. Os grandes tiranos do século XX eram fanáticos. Destruíram vidas humanas, a liberdade e os direitos humanos de milhões porque seus olhos e de seus apoiadores estavam voltados para um suposto futuro dourado e definitivo.
Precisamos aprender que não existe nada completo e nada será perfeito. O mundo é imperfeito e inacabado. Não haverá liberdade e igualdade completa. E o mais irônico disso tudo é que, ao longo do tempo, os grandes filósofos atenienses, judeus e cristãos, os pensadores da Renascença, os reformadores radicais franceses do século XVIII, os revolucionários do século XIX e XX, todos eles estavam convictos de que detinham a resposta para a solução dos males da humanidade.
Como diz meu amigo Cláudio Téllez: “O ideal de perfeição é apenas isso: um ideal, um sonho, uma fantasia irracional, um platonismo ingênuo ao qual parte considerável da humanidade se agarra por razões de drama existencial ou carência emocional. Por sinal, esses dramas e carências são forças neuroquímicas poderosas que estimulam a produção de narrativas ficcionais aconchegantes”.