MOBILIZAÇÃO CONTRA REFORMA ADMINISTRATIVA

Cartilha sobre a PEC 32

Últimas Notícias

Espaço Cultural

Reflexões Docentes

Contatos SEDUFSM

(55) 3222 5765

Segunda à Sexta
08h às 12h e 14h às 18h

Endereço

SEDUFSM
Rua André Marques, 665
Centro, Santa Maria - RS
97010-041

Email

Fale Conosco - escreva para:
sedufsm@terra.com.br

Reflexões Docentes

A+ | A-

Alinhamentos

10/08/2022

Juliana Petermann
Professora Associada do departamento de Ciências da Comunicação da UFSM

Nas últimas semanas de julho eu e, possivelmente, você - se você for mãe ou pai - cruzamos os dias pelo calendário sob o efeito de um grande desalinhamento. Cósmico? Não exatamente. Mas ainda que eu seja cética, posso dizer que foi de proporções tão grandes quanto os astros poderiam influenciar na vida de quem acredita nas suas forças de combinações ritmadas ou de solavancos descompassados.

Mas de qual desordem, desencontro, de qual bagunça estou falando? Daquela (que não é fruto de um só, mas de uma combinação de fatores, sendo o principal deles uma pandemia) que desconjuntou o calendário da universidade do calendário das escolas da cidade. Nessas duas semanas não foram raras as vezes em que o meu olhar cruzou com o de outra mãe e nos reconhecemos. Entre as olheiras, testa franzida, cabelos presos em coque rápido (aqueles feitos em um total de três segundos com o próprio elástico), possivelmente sem a lavagem do dia e léguas de um secador, usando calça de ginástica em pleno horário de expediente: é que meu filho está de férias. Sim, eu sei o que você está passando. Mas um mea-culpa é imprescindível aqui. Eu só sei o que é isso agora, que sou mãe. Antes, eu não tinha a dimensão do que significa mães e pais no trabalho e crianças de férias.

O desalinhamento dos calendários fez colidir as férias escolares das nossas crianças com o final do semestre na universidade: período de pré-qualificação e defesas de estudantes da pós-graduação, uma infinidade de bancas de trabalho de conclusão de curso e toda a sorte de projetos de ensino, extensão e pesquisa que temos a audácia de coordenar. No meu caso, mas não exclusivamente no meu caso, algum planeta retrógrado - diria quem acredita - ou somente alguma circunstância da vida - diria eu mesma - provocou o seguinte cálculo: férias na escola + final de semestre - rede de apoio = malabarismo. Ou igual a uma prova de revezamento: faltam dois minutos para a aula que eu tenho que dar, meu companheiro me encontra na porta da sala, deixo nosso filho com ele e entro para lecionar. Ufa. Conseguimos, mais de uma vez. Mas eu fico impressionada como esse sempre foi tratado como um problema privado.

Sem rede de apoio, quem cuida das crianças, quando elas estão de férias e as pessoas responsáveis estão trabalhando? (E aqui, no Brasil de 2022, ainda preciso fazer uma ressalva dos privilégios contidos nessa pergunta, porque tem muita criança sem escola e tem muito pai e muita mãe sem trabalho.) Meu filho tem dois anos e meio e ele precisa de atenção integral. Tem perfil explorador, gosta de subir, experimentar, escalar, e muitas dessas coisas que, sem supervisão, podem ser um tanto quanto arriscadas.

A experiência dos dias de desalinhamento de calendários me proporcionou duas impressões distintas sobre a universidade. A primeira delas é: a universidade como um bom local para se estar com as crianças. Durante os dias de férias, os gramados amplos e limpos foram, muitas vezes, nosso refúgio. O ambiente da feira, o largo do planetário, um dia ensolarado. A UFSM é um oásis em uma cidade que descuida dos seus espaços públicos, seja pela escassez de recursos, seja pela perspectiva de que esses não são prioridade - escassez com a qual a universidade também convive, diga-se de passagem.

A segunda impressão: a universidade ainda precisa ser um ambiente muito mais amistoso para as crianças. No campus, ao ar livre, faltam pracinhas e, nos prédios, faltam salas com espaços lúdicos para os inevitáveis dias em que mães e pais precisam levar suas crianças para o trabalho. Diante da previsão de que os calendários se desalinhem novamente, estão alguns desejos meus para o futuro. Entre eles, a expectativa de que, até lá, a gente se afaste da crença de que o trabalho possa ser apartado da experiência da maternidade e da paternidade. Que até lá, a conjunção seja, não de astros, mas do entendimento que se tem da vida das crianças. E do modo como entendemos os espaços públicos e o tanto que esses precisam estar preparados para as crianças (e para as mães e para os pais dessas crianças).




Compartilhe com sua rede social


© 2023 SEDUFSM
Rua André Marques, 665 - Centro, Santa Maria, RS - 97010-041