Sedufsm, uma história exitosa que vale a pena lembrar SVG: calendario Publicada em 09/11/2022 SVG: views 2599 Visualizações

Muitos artigos já foram escritos sobre a fundação da SEDUFSM. Artigos informativos, com detalhes importantes do processo de gestação e nascimento da SEDUFSM. Todos eles são muito importantes para nossa história e que contribuem para o conhecimento daqueles/as que chegaram depois e que não viveram pessoalmente numa época de muitas limitações. Este é mais um artigo, mas que tem o objetivo de falar com muita emoção o dia a dia da criação e o processo participativo que a originou. Por mais que queiramos relatar tudo que aconteceu à época parece que é muito pobre em vista da importância do dia a dia desta construção.

Vou contar uma história de uma Associação de professores universitários que se transformou em uma Seção Sindical. Para isso vou solicitar que quem está lendo tente se transportar para o ano de 1989 com suas limitações e problemas políticos vividos naquele tempo. Procurem percorrer conosco o que foi esta caminhada com suas incertezas e preocupações, mas que com a união de tantas pessoas tomou para si a responsabilidade de conduzir a luta política de enfrentamento a um governo que tinha como princípio a privatização das universidades públicas brasileiras. Muitas reuniões aconteceram até que a decisão amadurecesse e fosse tomada. Para que tenhamos uma noção clara do ocorrido precisamos nos reportar ao que acontecia naquela época.

Não tem como falar da nossa Secção Sindical sem citar a APUSM, pois ela é a origem. Todos/as professores/as, em número de sessenta e seis, que se rebelaram e se organizaram, formando o grupo e através de construção coletiva em várias reuniões decidiram pela sua criação, eram filiados/as da APUSM.

A Associação dos Professores (APUSM) surge em 1967, mesmo com restrições da reitoria de então.  Havia um medo de que esse tipo de iniciativa acabasse gerando conflitos em um período de muita repressão por parte do regime militar.  O primeiro presidente da APUSM foi o professor Noli Brum de Lima.  Em sua origem, a entidade assumiu um caráter de entidade associativa, organizando programações sociais e de valorização da cultura. Foi somente por volta da metade da década de 1970, quando assume a presidência da APUSM, o professor Sérgio da Fonseca Pires, que aos poucos a entidade passa a ocupar um espaço que tinha identidade com a luta sindical.

Os professores que militaram na APUSM ao longo da década de 1980 acumularam uma história importante, não apenas na UFSM, mas também em nível nacional. No entanto, a partir da ascensão à direção da entidade de um grupo liderado pelo professor Paulo Jorge Sarkis, quando em 1988 a Constituição foi promulgada permitindo a criação de sindicato para as representações das entidades públicas, onde a ANDES, que nasceu como associação estava incluída, o que ocorreu na época, a SEDUSM poderia se transformar em uma seção sindical, uma vez que a ANDES se tornou um sindicato. A atual associação devido ao pensamento majoritário, expresso em uma assembleia, passou a se distanciar da ideia de se transformar em uma seção sindical do Sindicato Nacional. Eles alegavam que o Andes era filiado à CUT, também não queriam perder o patrimônio já adquirido pela entidade ao longo do tempo da sua criação e admitir que professor era trabalhador significava quase uma “ofensa” para alguns, naquela época. 

Depois de várias reuniões, a decisão foi tomada por unanimidade do grupo. E as 20h e 30 minutos do dia 7 de novembro de 1989, foi oficialmente fundada a Seção Sindical dos Docentes da UFSM ligada ao Andes Sindicato Nacional. A assembleia ocorreu no auditório do Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH), na rua Floriano Peixoto, 1184, no prédio da Antiga Reitoria. O encontro foi presidido pelo professor do Centro de Educação, Clovis Renan Jaques Guterres e secretariado pela professora do curso de História, Berenice Corsetti. 

Nascia uma Seção Sindical, membro de um corpo maior, que era o ANDES – Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior. A SEDUFSM surge a partir do direito conquistado na constituição de 1988, que permitiu aos servidores públicos organizar sindicatos, agregando a isso o direito à greve. Direito este que já existia nas instituições privadas. O que existia antes nas Universidades eram as associações de professores, congregadas na Associação Nacional dos Docentes (ANDES). Em Santa Maria não era diferente. Aqui quem nos representava era a APUSM.

 Os desbravadores na assembleia de fundação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM, no dia 7 de novembro de 1989, num total de 66 professores que assinaram a lista de presença e são considerados fundadores da entidade.

Acompanhe pela ordem as assinaturas:

1- Dominguita Luhers Graça, 2- Antonio Jorge de Albuquerque, 3- Cláudio de Oliveira Graça, 4- Clauton Monte Machado, 5- Laurete Murer, 6- Deborah Krebs Conceição, 7- Beatriz Weber de Morais, 8- Carlos Alberto Robinson, 9- Lucia Beatriz Ressel, 10- Eduardo Bragança de Moraes, 11- Maria Beatriz Lemos de Moraes, 12- Rosane Maria M. R. Cattani, 13- Cecília Maria Pinto Pires, 14- Nely Ribeiro, 15- Noli Brum de Lima, 16- Maria Irany Knackfuss Rodrigues, 17- Silvio Claudio Pereira Rodrigues, 18- João Eduardo Lupi, 19- Clovis Silva Lima, 20- Sérgio Luiz Dalmora, 21- Maria Elisabeth Dalmora, 22- Giseli Scotti do Canto Assaf, 23- Edson Nunes de Morais, 24- Ana Fátima Badaró, 25- Leda Ravagni, 26- Roberto Luiz Machado, 27- Tânia Regina Taschetto, 28- Enio Moraes Dutra, 29- Antoninho P. Stefanello, 30- Nara M. S. Ferraz, 31- Maria Julia Piaggio, 32- Pedro Rabelo Coelho, 33- Oswaldo Alonso Rays, 34- Maria Arleth Pereira, 35- Marian Noal Moro, 36- Nedison Faria, 37- Primo Manoel Brambilla, 38- Claudete Brambilla, 39- Marcos Lourenço Herter, 40- João Pedro Alcântara Gil, 41- Vera Lúcia Pires, 42- Orlando Fonseca, 43- Alfonso Benetti, 44- Beatriz Maria Pippi, 45- Reinaldo A. Pedroso da Silva, 46- Roque Amadeu Kreutz, 47- Luiz Ernani B. de Araújo, 48- Berenice Corsetti, 49- Sérgio F. Pires, 50- José Antonio Fernande, s51- Roberto da Luz Jr., 52- Érico Lopes Henn, 53- Dartagnan Figueiredo, 54- Clovis Guterres, 55- Luiz Carlos P. Machado Filho, 56- Israel Silva Mármol, 57- Eduardo Ravagni, 58- Cleber Augusto Biazús, 59- Silvestre Selhorst, 60- João Manoel Rossés, 61- Yara Albuquerque, 62- José Alcebíades de O. Junior, 63- Angela Garcia Rossi, 64- Etevaldo Vargas Porto, 65- Luiz A. dos Santos Neto e 66- Antonio A. Brum Siqueira.

Criada a Seção Sindical os primeiros passos eram as documentações necessárias para o registro da nova entidade. Quem analisa hoje a SEDUFSM, com sua sede própria, auditório que sedia diversos tipos de atividades, cerca de 1.100 filiados e uma boa arrecadação das mensalidades, talvez não imagine as dificuldades nos primórdios da entidade. Os obstáculos iam desde a falta de recursos, de infraestrutura (não havia sequer uma sede) até a falta de um respaldo absoluto frente à categoria, pois uma parte dela não entendia o porquê de um grupo ter resolvido se desvincular da APUSM.

A entidade viveu as dificuldades de toda a entidade que nasce num ambiente adverso, especialmente numa fase autoritária e conservadora. Embora a fundação, por parte dos filiados/as da APUSM tenha sido tranquila uma vez que a categoria tinha sido consultada e abrira mão de se transformar em seção sindical. Por sua vez, nosso grupo abriu mão da sede. A contribuição dos sindicalizados foi o elemento importante para as primeiras atividades da seção sindical. No início, a sede foi numa das salas do prédio da Reitoria, cedida para esse fim. A diretoria provisória teve o trabalho de instalação e organização mínima para o funcionamento da seção sindical e o relacionamento público com as demais entidades. O processo de organização cresceu e gerou frutos, mas, foi muito difícil para todos aqueles/as que participaram dele em seu início. Foi, para alguns/algumas o maior desafio de suas vidas.

As dificuldades foram muitas, de todo o gênero, desde a parte material, sem condições (sede, recursos financeiros), até a necessidade de criarmos condições para que os colegas da UFSM pudessem identificar o sindicato como a legítima instância de representação da nossa categoria. Do ponto de vista político o trabalho foi recompensador porque recuperávamos com a nova entidade a trajetória crítica, engajada e combativa do movimento docente. No entanto, do ponto de vista administrativo era tudo muito precário, pois se começava do zero. Mas nunca nos faltou coragem, pois contávamos com nossa união e visão de que juntos tínhamos condições de levar adiante nosso sonho. Uma sala cedida pelo reitor de então, Tabajara Gaúcho da Costa, no 8º andar da reitoria, serviu como sede provisória. Cristina Maria da Rosa, hoje professora da universidade federal de Pelotas, foi a primeira secretária da seção sindical. Cristina foi a primeira funcionária, uma “faz-tudo” do sindicato. Somente depois de algum tempo, já com uma arrecadação mensal a partir da contribuição dos associados, foram contratados outros funcionários. Um espaço repleto de vida frequentado por muitos/as de nós sempre dispostos a construir juntos /as propostas de enfrentamento aos empasses que sofríamos por parte do governo. A comunicação com o Andes era precária. Acontecia via telefone, que na época também não era grande coisa, e que ao passar do tempo deu lugar ao fax, o que de certa forma ajudou bastante.

Não havia computadores. Era usada a central disponível para estudantes de pós-graduação que ficava em outro andar do prédio da Reitoria. Quase ninguém dominava a linguagem dos computadores, não era usual um estudante de graduação fazer uso cotidiano desse equipamento, ninguém possuía computador em casa. O computador era único na UFSM. Sua funcionalidade era através de perfuração de cartões. Tínhamos que perfurar os cartões e deixar no setor, para quando houvesse tempo fosse rodado. o que demorava vários dias, e geralmente acusava erros de perfuração, devendo ser corrigido e entrar na fila para rodar novamente.

A salinha da Reitoria foi nossa primeira sede. Aparentemente, nada aconteceria por lá, mas a vida de um sindicato que se expandiu progressivamente pela UFSM tornou aquela salinha um espaço enorme, repleto de vida.  Era uma sala de aproximadamente 7 metros quadrados, tinha uma escrivaninha e um telefone, alguns armários para arquivos.  Por lá passavam todos que se dirigiam à Reitoria e queriam conhecer a sede da SEDUFSM. Lá todos/as que chegavam eram acolhidos com muito carinho e atenção e sempre ajudavam nas tarefas diárias. Tivemos muito apoio de pessoas que se concentravam e se disponibilizavam como ajudantes informais que contribuíam na etiquetação - manual - de todos os jornais, e, um deles, o "Seu João" que muitas horas de sua vida de servidor técnico-administrativo, usou em prol da SEDUFSM, diariamente, após seu expediente, passava na sede para verificar o que precisava ser feito. O material de divulgação era construído manualmente e sempre na casa de algum/a sócio/a, pois a arrecadação era muito curta.

Inicialmente foi constituída uma direção provisória para dar conta da parte burocrática da vida de um sindicato, como construção do Regimento e outros documentos necessários para o bom andamento da SEDUFSM. A Direção Provisória composta pelos professores/as: 1989-1990- Presidente: Clovis Guterres, Vice-presidente: Eduardo Ravagni, Secretário-geral: Berenice Corsetti, 1º secretário: Clauton Monte Machado, Tesoureiro-geral: Luiz Ernani B. de Araújo, 1º Tesoureiro: Israel N. Silva Mármol, Suplentes: Rosane M. Manica Rizzi Cattani, Cecília M. Pinto Pires e Beatriz M. P. Quintanilha.

Depois de construídos os documentos necessários e aprovados, etapa que teve a duração de um ano, pois a construção foi coletiva tivemos então a primeira diretoria da entidade. 

A primeira gestão denominada Gestão “Consolidação”: 1990-92, tendo como componentes: Presidente: Berenice Corsetti, Vice-presidente: Cecília Pires, Secretário-geral: João Pedro Gil, 1º secretário: Carlos Alberto Robinson, Tesoureiro-geral: Plínio M. José Tochetto, 1º Tesoureiro: Ana Maria Beltrame, 1º Suplente: Reinoldo Marquezan, 2º Suplente: Beatriz M. Pippi Quintanilha, 3º Suplente: Roberto da Luz Jr.

Procurei não citar muitos nomes neste texto, pois todos foram importantes neste processo porque juntos fomos mais fortes e foi através desta força que chegamos onde chegamos.

E assim seguimos na luta para que a UFSM continue pública, de qualidade e socialmente referenciada e na defesa para que direitos adquiridos pelos/as trabalhadores/as sejam respeitados.

Dia 07 de novembro a SEDUFSM completou 33 anos.

Parabéns a todos e todas que SÃO SEDUFSM e defendem a UFSM onde VIDA, CIÊNCIA E UNIVERSIDADE estão presentes.

E quem ainda não é SEDUFSM, filie-se, SEJA SEDUFSM!

Vida longa para a UFSM e para a SEDUFSM!
 

(* Marian Noal Moro foi vice-presidente da Sedufsm de 1996 a 1998 e, atualmente, integra a diretoria da Sedufsm, cuja gestão vai até início de dezembro/2022)

Sobre o(a) autor(a)

SVG: autor Por Marian Noal Moro
Professora aposentada do CCNE/UFSM