Entrevista-parte 1: ‘Queremos renovar a relação da entidade com a categoria’
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03/12/20 17h44m
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Laura Fonseca, presidente eleita da Sedufsm, fala sobre a “(re)aproximação” com os docentes
No início da noite desta quinta, 3 de dezembro de 2020, toma posse mais uma diretoria da Sedufsm. Desta vez, quem assume são professores e professoras que integraram a chapa ‘Renova Sedufsm’, eleita no pleito dos dias 19 e 20 de novembro para o biênio 2020-2022. O grupo se elegeu em uma situação atípica, tendo em vista a pandemia que atinge o Brasil desde meados de março. Com a UFSM em atividades remotas, e a Sedufsm também, a eleição acabou seguindo de forma inédita um modelo virtual, o mesmo adotado pelo ANDES-SN: o formato telepresencial. Dessa forma, com a participação de 128 sindicalizados (as), foi eleita a atual diretoria, com 123 votos, tendo ainda 2 nulos e 3 em branco.
Aproveitando o momento, de início da nova diretoria, buscamos uma entrevista com a presidente eleita, professora Laura Regina da Fonseca, lotada no departamento de Serviço Social da UFSM. As questões colocadas à presidente foram baseadas nos itens que constam da carta compromisso, divulgada pela própria chapa, no período eleitoral. O depoimento, devido ao número de questões, será dividido em duas partes. A primeira, publicada hoje (quinta, 3), e a segunda, que será publicada nesta sexta, 4.
Nestes primeiros trechos da entrevista, a professora Laura responde sobre prioridades da nova diretoria. Segundo ela, um dos objetivos principais é “aproximar o sindicato da sua base, ampliar a filiação sindical, renovar a relação da entidade com os sindicalizados”. Para a presidente, a categoria precisa perceber que “o sindicato não é um ‘ente’ distante, um aparelho ideológico sectário e excludente”.
Para além disso, Laura Regina da Silva Câmara Maurício da Fonseca, explica também o que significa ter uma “participação proativa nas temáticas da universidade que afetam a categoria”; de que forma a diretoria que assume dará seguimento à mobilização com o objetivo de barrar a reforma administrativa de Bolsonaro (PEC 32/20); como se estabelecerá a relação da Sedufsm com os demais campi da UFSM; e como a nova diretoria da seção sindical pensa a expansão da entidade para o bairro de Camobi.
Acompanhe a primeira parte da entrevista. Nesta sexta (4), os temas versarão sobre CSP-Conlutas, melhoria no atendimento da assessoria jurídica, questão de finanças e a participação feminina no meio sindical.
Pergunta- Professora Laura: ao assumir a nova diretoria da Sedufsm, qual será a prioridade número um?
Resposta- Nossa diretoria chega com propósito de renovar o sindicato e retorná-lo à base da categoria, por essa razão iniciamos nossa carta programa, destacando: “Um sindicato para toda a categoria é aquele que desenvolve uma política voltada às demandas concretas e cotidianas dos professores e professoras da UFSM e que está atento e respeita a pluralidade docente que se expressa nos espaços da universidade e do sindicato, sem descuidar do enfrentamento aos grandes temas nacionais que afetam à Universidade pública, a atividade docente, as condições de trabalho e a dignidade da categoria”.
Nesse sentido, nossa prioridade número um será (re) aproximar o sindicato da sua base, ampliando a filiação sindical e renovando a relação da entidade com sindicalizados e sindicalizadas. Isto será possível quando a categoria perceber que o sindicato não é um “ente” distante, um aparelho ideológico sectário e excludente. Realizaremos campanhas, expandiremos convênios, pautaremos temas de interesse do cotidiano de trabalho docente, mostrando que a relação entre a valorização da Universidade e a organização coletiva no sindicato é fundamental para fortalecer cada docente.
Pergunta- Na carta-programa da chapa, um dos itens fala em participação proativa nas temáticas da universidade que afetem diretamente a categoria. Quais seriam essas temáticas, que na sua avaliação, precisam ter maior inserção do sindicato?
Resposta- A SEDUFSM tem sido omissa nas temáticas diretamente ligadas à categoria no âmbito institucional: política de ensino, política de pesquisa, política de extensão, ações efetivas de combate ao preconceito e à desigualdade de gênero, étnico-racial e de orientação sexual, saúde dos/as docentes, enfrentamento das violências institucional e psicológica no cotidiano docente. No contexto atual, da pandemia, a limitada posição da negativa ao ensino remoto, sem qualquer demonstração que adiar tudo para quando vacinas forem aplicadas é absurdamente elitista (só alguns segmentos podem), contraria fundamentos básicos da solidariedade social. Ora, não significa aderir sem crítica, sem proposição, mas, propor uma linha política para o sindicato que fortaleça o que afeta a categoria, reconhecendo a realidade, rompendo com uma ideia superada de vanguarda isolada de seus/as filiados/as. Avaliamos que a posição contrária ao ensino remoto apresentada pela direção da SEDUFSM, que encerra sua gestão, mostrou-se limitada na situação de adesão ao ensino remoto pela UFSM, pois a crítica não veio acompanhada de propostas e iniciativas concretas para a defesa da categoria em suas condições de trabalho, carreira e nas temáticas ligadas à saúde dos/as docentes.
Ao mesmo tempo é fundamental a defesa da UFSM enquanto instituição. A UFSM tem sido constantemente atacada por aqueles que instrumentalizam ódios visando precarizar ainda mais os serviços públicos. A SEDUFSM é parte da UFSM e não pode se omitir na sua defesa.
Pergunta- Uma das pautas importantes que estão em discussão no Congresso Nacional é a da reforma administrativa do serviço público. Que iniciativas a nova diretoria pretende tomar para mobilizar a categoria contra esse projeto do governo Bolsonaro?
Resposta- A direção, Renova SEDUFSM, será comprometida com a democracia sindical. Portanto, as iniciativas estarão pautadas nas decisões democráticas das nossas assembleias e proposições que venham da base da categoria. Importa recordar, que a rodada dos debates iniciada com os departamentos da UFSM, pela gestão que finda da SEDUFSM, foi sugerida em Assembleia Docente, por nosso grupo.
A Reforma Administrativa do atual governo federal tem recebido mais propaganda de alguns setores da sociedade (mídia e agentes econômicos) e das entidades sindicais, do que do Congresso Nacional, propriamente. A proposta encaminhada ao Congresso é cunhada na ideologia ultraliberal de “Estado mínimo”. A proposta traz o fundamento principal de presença mínima e residual do Estado na relação mediada pela execução dos serviços públicos na sociedade. Para tanto, propõe desregulamentar o regime jurídico único, “flexibilizar” modelos de contratação de servidores, extinguir cargos e funções, além da precarização salarial, o fim da estabilidade no serviço público, dentre outros retrocessos. A proposta está afinada com as duas grandes reformas vencidas contra trabalhadoras/es (a Trabalhista e a Previdenciária) e afeta ativos e inativos, na medida que desestrutura carreiras e desvincula contribuições e vantagens, dissolvendo a tão fundamental “paridade” entre aposentados e não aposentados. Ou seja, torna-se elementar discutir a proposta.
O que é mais que o elementar? Construir um debate que mobilize a categoria precisa contextualizar o impacto da reforma na produção do conhecimento, na ciência, na tecnologia, na estabilidade da carreira docente e a relação com o ensino, a pesquisa e a extensão, pois nossas atividades implicam quadros permanentes e bem remunerados, não contratos precários e de baixa remuneração. Dialogar com a categoria contra esta proposta, ou outra de igual intencionalidade, requer ultrapassar narrativas legalistas, exclusivamente, e os argumentos generalistas. Ademais, esta pauta é do conjunto do serviço público civil, reportando à unidade das entidades sindicais, sem perder de vista o necessário debate com os diversos setores da sociedade para trazê-los ao nosso lado nesta luta.
Pergunta- O documento apresentado a filiados e filiadas da Sedufsm também fala em ampliação da Sedufsm para o bairro de Camobi. O que se pensa em relação a isso?
Resposta- Na última década há tendência crescente da opção das/os docentes residirem no bairro do Campus Sede, em Camobi. A expansão daquele bairro é indiscutível, acompanhando a ampliação da UFSM. A direção ‘Renova’, quando em 2018 disputou a SEDUFSM, tinha a proposta de ampliar a sede. De lá para cá, novos cursos e mais docentes chegaram para residir naquela região da cidade. O que se pensa é reconhecer esta realidade do lugar onde parte da categoria trabalha e reside, esta parcela em progressiva expansão, e realizar o que por muito tempo esteve em debate, inclusive, com a Reitoria da UFSM: manter a sede (de modo ampliado) no Camobi. Isto, sem dúvida, será além de ocupar uma sala cedida de um Centro de Ensino, para atendimento de professores.
Pergunta- De que forma a nova diretoria pretende dialogar com a base da categoria nos demais campi da UFSM?
Resposta- Em primeiro lugar, com uma postura aberta, sem sectarismos e que entenda o pluralismo como a essência de uma Universidade. Um sindicato precisa ter uma postura dialógica. O sindicato não ser algo fechado em sua direção. O sindicato são os seus filiados. A direção é apenas uma parte importante dele. O olhar do docente e da docente que não faz parte da direção ou de um coletivo ou grupo sindical deve ser valorizado. A partir desta concepção é que iremos construir uma metodologia de aproximação e reaproximação dos colegas e das colegas com o sindicato. Uma metodologia descentralizada, valorizando as instâncias autônomas como o Conselho de Representantes, as Assembleias e o trabalho cotidiano dos docentes e das docentes da UFSM.
Observação: A diretoria da Sedufsm que assume nesta quinta é composta por:
Presidente: Laura Regina da Silva Câmara Maurício da Fonseca (departamento de Serviço Social – CCSH)
Vice-presidente: Ascísio dos Reis Pereira (departamento de Fundamentos da Educação – CE)
Secretária-geral: Márcia Morschbacher (departamento de Metodologia do Ensino – CE)
Primeira secretária: Teresinha Heck Weiller (departamento de Enfermagem – CCS)
Tesoureira-geral: Liane de Souza Weber (departamento de Engenharia Rural – CCR)
Primeira-tesoureira: Rosane Beatriz O. Severo (departamento de Processamento de Energia Elétrica – CT)
Primeiro suplente: Leonardo da Rocha Botega (departamento de ensino – Colégio Politécnico)
Segunda suplente: Neila Cristina Baldi (curso de Dança)
Terceira suplente: Marian Noal Moro (docente aposentada do CCNE).
Entrevista e edição: Fritz R. Nunes
Fotos: Arquivo pessoal e arquivo da Sedufsm
Assessoria de imprensa da Sedufsm