Atuais medidas restritivas podem ser insuficientes para tirar RS do colapso, diz infectologista SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 17/03/21 15h36m
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Alexandre Zavascki comenta que autoridades foram coniventes com quem não respeitou regras das bandeiras

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Zavascki: o importante neste momento é salvar vidas

Numa situação caótica, em que os hospitais sofrem com a superlotação, e que os atendimentos são majoritariamente de pacientes com Covid-19, as restrições colocadas em prática pelo governador Eduardo Leite (PSDB), com a bandeira preta em todo o estado ao longo de três semanas, ajudam, mas é pouco provável que sejam suficientes para tirar o Rio Grande do Sul do colapso. A avaliação é do médico e professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Alexandre Zavascki.

Para Zavascki, que é membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e também chefe do Serviço de Controle de Infecções do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, a causa do colapso no sistema de saúde, enfrentado pelo RS, e que ameaça boa parte do território nacional, está diretamente ligada ao papel inoperante de governos e autoridades. Segundo ele, a capacidade de testagem no país, como forma de se antecipar ao contágio massivo da doença, não foi ampliada; não houve campanhas publicitárias para engajar as pessoas nas medidas de combate à pandemia; e, também, o professor entende que mesmo se utilizando de uma metodologia que ficou defasada (a das bandeiras), as autoridades foram coniventes com os indivíduos e estabelecimentos que não respeitaram as regras das bandeiras.

Perguntado sobre a importância dos testes para detecção do vírus, o pesquisador diz que é fundamental a testagem em massa e sugere que deveria haver um investimento em outro tipo de teste, muito mais rápido que o RT-PCR, cujo resultado sai em minutos, que é o de antígeno. Conforme Alexandre Zavascki, esses testes “não são bons para rastreio, mas são ótimos para infecções sintomáticas”, podendo assim serem usados para detecção em massa. Contudo, o médico avalia que a testagem massiva precisa ser retomada após o fim do colapso do sistema de saúde. “A prioridade agora é salvar vidas”, frisa ele.

Ao responder sobre a vacinação, considerou-a vital. Na ótica do professor, o combate à pandemia só vai ser eficaz se a população for vacinada rapidamente e não a conta-gotas. “Enquanto tivermos indivíduos suscetíveis e se infectando, também vamos seguir mantendo a carga hospitalar acima do limite”, ressalta.

Acompanhe a seguir a íntegra da entrevista com o professor e médico infectologista, Alexandre Prehn Zavascki à assessoria de imprensa da Sedufsm.

Sedufsm- Professor, qual a sua opinião sobre as restrições implementadas pelo governo do RS, através da bandeira preta? São suficientes ou necessitaria de alguma medida ainda mais forte para conter a disseminação do vírus?

Zavascki- Num cenário crítico como o que estamos, qualquer medida restritiva ajuda. Agora, essa última medida, colocando o estado em bandeira preta por três semanas, pode ser insuficiente para nos tirar da situação de colapso. Cerca de duas semanas após uma restrição de mobilidade começam a diminuir os casos. Depois, a partir de outras duas semanas, se pode começar a observar alguma diminuição nas hospitalizações. Mas, como estamos muito acima da nossa capacidade, é pouco provável que as medidas adotadas até agora sejam suficientes para nos tirar dessa situação de colapso.

Sedufsm- No seu modo de ver, quais foram as causas dessa situação a que chegamos, com a superlotação de hospitais e o consequente colapso?

Zavascki- Uma das causas é que não foi feito um acompanhamento da evolução do vírus no que se refere às medidas implementadas pelo Estado. Por exemplo: não houve ampliação da capacidade de testes para detectar o vírus; não houve ampliação da comunicação, com a implementação de campanhas publicitárias sistemáticas, continuadas, com o objetivo esclarecer as pessoas sobre o combate à doença. E, por fim, houve uma conivência das autoridades quanto ao desrespeito das normas vigentes a partir do sistema de bandeiras, um sistema que não foi aprimorado e ficou antiquado. Mesmo sendo um sistema antiquado, existiu essa conivência das autoridades com as pessoas e estabelecimentos que não seguiram as regras dessas bandeiras. E, conjunturalmente, devemos somar a tudo isso o relaxamento das pessoas, com as festas de fim de ano, praia, que recaiu sobre um sistema de saúde que não estava preparado. Um outro dado que colaborou para esse quadro, mas que ainda não temos plena certeza, está sendo investigado, é a possibilidade de novas variantes do vírus, com maior transmissibilidade, circulando entre nós.

Sedufsm- Um ano depois de iniciada a pandemia de Covid-19 no Brasil, seguimos sem fazer testagem em massa na população. O quanto a testagem poderia contribuir para diminuir a situação caótica que enfrentamos?

Zavascki- É fundamental a testagem em massa. Mas, nesse momento, a testagem não vai ser determinante para sairmos do colapso. Agora, o que nós precisamos é trabalhar para salvar vidas. Mas, claro que temos nos planejar para, passado esse momento crítico, não voltarmos a ele. Precisamos controlar os casos mais de perto. Nós perdemos totalmente o controle por testarmos pouco. Nós nos distanciamos dos casos porque só acompanhar as hospitalizações nos distancia de onde a infecção está iniciando a ocorrer. Portanto, a testagem é o passo seguinte após o fim do colapso. Hoje, existem testes rápidos de antígenos com bom desempenho no diagnóstico de infecções sintomáticas. Esses testes não são bons para rastreio, mas são ótimos para infecções sintomáticas e podem trazer resultados em minutos. Então, poderiam ser adquiridos testes de antígenos, que não requerem a tecnologia de um RT-PCR, como uma estratégia de detecção em massa.

Sedufsm- Qual a importância da vacinação da maioria da população?

Zavascki- A vacinação é fundamental. Nós já devíamos estar vacinando massivamente para conter a pandemia. Só vai ter resultado eficaz no combate à doença se vacinarmos rapidamente a população. A estratégia de vacinar a conta-gotas é extremamente arriscada. Nós vamos diminuir a chance de alguns hospitalizarem, mas não vamos diminuir a circulação viral. E, enquanto nós tivermos indivíduos suscetíveis e se infectando, também vamos seguir mantendo a carga hospitalar acima do limite. Cabe a estados e municípios vacinar, mas sem ter as vacinas porque não foram adquiridas de forma suficiente, fica bem complicado.

 

Entrevista e edição: Fritz R. Nunes
Foto: Arquivo pessoal Facebook
Assessoria de imprensa da Sedufsm

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