Dica cultural: professor resgata o consagrado Júlio Verne
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Atualizada em
28/05/21 15h33m
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Rondon de Castro sugere leitura de “A Jangada”, que nos leva para o Amazonas
Sextou na quarentena! Nesta sexta, 28, com muita chuva e previsão de frio no final de semana, a dica cultural para aproveitar esse clima vem de Rondon de Castro, professor do departamento de Ciências da Comunicação da UFSM. O docente resgata o lendário escritor francês, Júlio Verne, autor de clássicos como “Vinte mil léguas submarinas”, e que hoje encontra-se esquecido. Castro sugere a leitura de uma obra de Verne que é pouco citada: “A Jangada”. Na publicação, o escritor leva os (as) leitores (as) para os encantos das águas do rio Amazonas. E, o mais impressionante: sem nunca ter molhado os pés lá. Boa leitura a todos e todas!
“Uma viagem pelo Amazonas brasileiro com Júlio Verne
Júlio Verne é uma unanimidade. Todos o elogiam e poucos o leem nos dias de hoje. Talvez, apenas, as suas obras, duas ou três entre dezenas. As razões disso são difusas, mas podemos limitar a uma questão: atualmente, esse autor francês foi exilado na prateleira de livros infantis. Uma injustiça. Verne foi realmente utilizado como instrumento didático-pedagógico desde sempre...antenado que era com os avanços da ciência e dos avanços e descobertas científicas. Afora os sempre republicados ‘Viagem ao Centro da Terra’ e ‘Vinte Mil Léguas submarinas’, dezenas de outros livros e contos esparsos o confirmam como escritor menos fantástico e mais ficcional da ciência.
Por essa razão, a leitura da obra A Jangada (L&PM, 2017) não causou, surpreendentemente, muito alarde. Se há pontos positivos em uma pandemia, nos escombros de uma sociedade acossada pelo Covid-19, o resgate é um atenuante. Cheira a ciência, os primórdios da sistematização científica...era o que Verne via, estudava, testemunha em uma França efervescente e era com o que preenchia com a pena as folhas brancas. Esse livro, dito como secundário na literatura verniana, leva a imaginação para as águas do rio Amazonas, para um barco (a jangada do título) e para a superação das dificuldades com a natureza e homens em uma epopeia de 800 léguas (a légua equivale a quase cinco quilômetros) em território brasileiro.
Esqueça a jangada nordestina...a embarcação que realizou essa viagem é uma cidade flutuante, construída com tudo aquilo que a ciência e a tecnologia podiam oferecer no período. Era justamente isso que fascinava os leitores da época: as novidades se acumulavam na ebulição do século XIX e Júlio Verne as encaixava nas páginas. Aliás, é impossível não reparar na meticulosidade com que descreve os equipamentos e as curiosidades que conseguiu sobre a região que descrevia. Um lembrete necessário: Júlio Verne nunca esteve no Brasil, muito menos no norte do país. Sua curiosidade saciada pela leitura de jornais e periódicos sobre um ainda país independente e o grande potencial dessas terras sul americanas chamaram sua atenção. E pouco se sabia do Brasil além de ser um país recém liberto do jugo português.
O ano de 1881 marcou a primeira edição, que tentou retratar um Brasil de três décadas anteriores...o selvagem atiçava as ideias dos europeus e a existência de um mundo exuberante e excitante para os aventureiros fizeram desse livro hoje quase esquecido mais um sucesso da literatura francesa. A narrativa é linda e a tradução muito boa...com necessárias notas de rodapé, contradizendo, informando, corrigindo e afirmando a narrativa. Leitura agradável para quem gosta de se descobrir em mundos imaginados.”
Rondon Martim Souza de Castro
Professor do departamento de Ciências da Comunicação/UFSM
Diretor de cinema.
Imagens: Divulgação e Arquivo/Sedufsm
Edição: Fritz R. Nunes
Assessoria de imprensa da Sedufsm