Bolsonaro é bem avaliado apenas nas elites, analisa cientista político SVG: calendario Publicada em 06/01/20 18h09m
SVG: atualizacao Atualizada em 06/01/20 18h10m
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Professor José Carlos Belieiro Júnior, da UFSM, comenta os 12 meses do atual governo

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Para um presidente em inicio de mandato, suas taxas de aprovação estão realmente ruins, perdendo para FHC, Lula e Dilma nesse quesito importante. Seu estilo pessoal, as notícias ambientais, os conflitos com estudantes e movimentos sociais, a frustração econômica, acabam se somando ao modo como o cidadão avalia o Presidente da República. Jair Bolsonaro é bem aprovado apenas nas elites econômicas, ruralistas, industriais, a classe média alta, os evangélicos de classe média. A análise é do cientista político José Carlos Martines Belieiro Júnior, professor do departamento de Ciências Sociais da UFSM. Ele concedeu entrevista à assessoria de imprensa da Sedufsm com o intuito de avaliar os 12 primeiros meses do governo Bolsonaro.

Questionado se a denúncia contra o filho, ex-deputado estadual e atual senador Flavio Bolsonaro, no caso da “rachadinha” na Assembleia Legislativo do Rio, junto com outras acusações sobre candidaturas-laranja no PSL, teria abalado a imagem de combate à corrupção do atual governo, Belieiro responde que “na história politica do atual presidente, essa coisa do ‘combate à corrupção’ nunca entrou no rol de suas preocupações”. E assinala que “a carreira dele (Bolsonaro) como deputado federal é marcada por uma atuação e comportamento bastante tradicionais, como a história dos parentes e como isso se reproduz nos mandatos dos filhos”.

Ao analisar o primeiro ano do atual presidente, o professor de Ciência Política da UFSM destaca que o crescimento da economia não foi o idealizado, mas que ainda restam três anos de mandato. Admite que a reforma previdenciária foi um êxito do atual governo, mas não apenas dele, como também das elites políticas reunidas no Congresso Nacional. Por outro lado, Belieiro Júnior concorda que Bolsonaro tem enfrentado derrotas tanto no parlamento como no STF. Para o analista, as medidas barradas tanto por parlamentares como pelo Judiciário demonstram, de um lado, que o governo não tem apoio majoritário nas instituições, e de outro, que o sistema de “contrapeso” democrático tem funcionado no Brasil.

Acompanhe, a seguir, a íntegra da entrevista com o professor José Carlos Martines Belieiro Jr., do departamento de Ciências Sociais da UFSM.

Pergunta- No encerramento do primeiro ano de mandato, percebemos que a principal aposta do governo Bolsonaro, que era de aprovar a reforma da previdência de inspiração chilena do ministro Paulo Guedes foi exitosa. De resto, a economia cresceu pouco, o governo sofreu várias derrotas no STF quando tentou, por exemplo, extinguir alguns conselhos que possuem participação da sociedade, quando tentou acabar com o seguro DPVAT, quando tentou através de medida provisória intervir na forma de arrecadação dos sindicatos, etc.. Qual o balanço econômico e político desses primeiros 12 meses?

Resposta- O balanço econômico e político de 2019 é sempre difícil de fazer, sobretudo num contexto complexo como o de agora. A reforma do sistema previdenciário foi uma vitória relevante para o governo, mas também para outras elites políticas e econômicas do país. De modo que não apenas foi uma vitória politica do governo Bolsonaro, mas, sobretudo para as elites políticas reunidas no Congresso Nacional. De fato, a economia brasileira não irá crescer de modo robusto em 2019, de modo que o governo ainda tem mais três anos para buscar um crescimento econômico maior. De outro lado, as derrotas no STF e Congresso Nacional têm demonstrado claramente que o governo não tem amplo apoio nos meios políticos, midiáticos e da sociedade civil. Isso não é bom, o governo sabe disso, e por isso adota um tom sempre agressivo. Acho que a democracia no Brasil e suas instituições de contrapeso democrático têm operado bem. Sinal positivo, acho eu.

Pergunta- Desde que venceu a eleição, em outubro de 2018, o governo Bolsonaro passou a ser acossado de denúncias de corrupção a sua volta. Primeiro, ainda durante a campanha, o envio em massa de ‘fake news’. Depois, a divulgação sobre as investigações contra o filho, quando ainda era deputado, Flavio Bolsonaro, que evoluíram para um patamar mais grave. Além disso, houve também a história das candidaturas-laranja do partido do presidente, o PSL. A bandeira do candidato anticorrupção está arranhada?

Resposta- Acredito que na história politica do atual presidente, essa coisa do “combate à corrupção” nunca de fato tenha entrado no rol de suas preocupações. A carreira dele como deputado federal é marcada por uma atuação e comportamento bastante tradicionais, como a história dos parentes e como isso se reproduz nos mandatos dos filhos. Ou seja, onde está um comportamento diferente desse governo?! De outro lado, a presença de (Sérgio) Moro no governo deu uma cara de que o governo está comprometido com isso (combate à corrupção). Mas, como se sabe, embora a posição politica (no governo) de Moro ainda seja boa, pelo menos do ponto de vista de popularidade auferida pelo Datafolha, como ministro, foram vários episódios em 2019 nos quais ele se enfraqueceu e encolheu no governo. Agora conseguiram aprovar um pacote de medidas: vitória para o ministro da Justiça. E, sem duvida, esse tema da prisão em segunda instância vai dominar o debate.

Pergunta- As denúncias de corrupção, o embate com o próprio partido, o desgaste perante situações como queimadas na Amazônia, ajudam a explicar a gradativa queda da popularidade do presidente Jair Bolsonaro?

Resposta- Para um presidente em inicio de mandato, suas taxas de aprovação estão realmente ruins, perdendo para FHC, Lula e Dilma nesse quesito importante. Seu estilo pessoal, as notícias ambientais, os conflitos com estudantes e movimentos sociais, a frustração econômica, acaba se somando ao modo como o cidadão avalia o Presidente da República. Ele é bem aprovado apenas nas elites econômicas, ruralistas, industriais, a classe média alta, os evangélicos de classe média. Enfim, um caldo de cultura cultivado fortemente no antipetismo, misturado com moralismo e algumas ideologias conservadoras.

Pergunta- Na sua avaliação, quais os grupos de maior peso político no atual governo? Os militares? O dos filhos? O núcleo evangélico? O dos olavistas (Olavo de Carvalho)?

Resposta- Não saberia dizer ao certo quem tem maior peso. A educação, área sensível, que controla toda uma máquina de informação, com um orçamento de bilhões de reais, está com os olavistas. E estão administrando mal o MEC: é unânime essa avaliação. Em outras áreas também há forte influência dos olavistas ideológicos, como o próprio presidente Bolsonaro. E isso trouxe episódios problemáticos, onde o grupo olavista vem ganhando, como na demissão do general (Carlos) Santos Cruz e, agora mesmo, quando o Bolsonaro defendeu o ataque dos EUA que matou o general iraniano. Os olavistas também têm o Ministério das Relações Exteriores, área bastante relevante. Muitos achavam que os militares iriam ser o equilíbrio. Não sei, o problema é que o próprio chefe de governo é super olavista e ele não controla ninguém. Essa chamada agenda dos costumes esta já de pé quebrado, mas o governo vem tentando enfrentar os inimigos olavistas, como as universidades e a esquerda de um modo geral.

Pergunta- É possível esse governo dar certo mesmo sem ter construído uma sólida maioria parlamentar?

Resposta- Essa é a grande questão. Em 2020 tem a questão da reforma administrativa. Se o governo aprovar alguma coisa, como acho que vão aprovar, será uma vitória politica da agenda neoliberal. O partido que fundaram, o tal Aliança, ainda não sabemos se irá conseguir se organizar como partido. Tem eleição municipal também em 2020, então, isso mostra como esse movimento conservador no Brasil ainda é muito fraco, não consegue se organizar, tem ideologia difusa, e com fala autoritária.


Entrevista e edição: Fritz R. Nunes

Foto: Arquivo/Sedufsm

Assessoria de imprensa da Sedufsm

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