Docentes abordam efeitos do ensino remoto na saúde da categoria SVG: calendario Publicada em 15/10/21 17h31m
SVG: atualizacao Atualizada em 18/10/21 13h49m
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Amanda Silva e Karine Perez fizeram críticas à falta de diálogo na implementação dessa modalidade

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Debate on-line ocorreu na noite desta quinta, dia 14 de outubro

De um total de 553 professores (as) que participaram da pesquisa realizada pelo Sindicato Docentes da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Asduerj), 71,6% responderam que houve aumento de sua carga horário de trabalho em relação aos períodos anteriores à pandemia. O número de docentes ouvidos (as) corresponde a 20% do total da categoria que atua na Uerj.  Esse é apenas um dos dados da pesquisa apresentada pela coordenadora do trabalho, Amanda Silva, doutora em Educação pela UFRJ, e docente da Universidade Estadual do Rio. O material está publicado na revista ADVir, da Asduerj, de dezembro de 2020.

Ela foi uma das participantes na noite desta quinta, 14, da terceira etapa do seminário sobre “Trabalho Remoto na UFSM", organizado pela Sedufsm, e que tinha como título “O processo de trabalho docente na pandemia de Covid-19”. Sobre o mesmo tema também falou a professora Karine Perez, do departamento de Psicologia e do Mestrado Profissional em Psicologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc/RS).

O evento, que teve a coordenação da professora Belkis Bandeira, do departamento de Fundamentos da Educação da UFSM e conselheira da Sedufsm, contou ainda com a presença de duas intérpretes de Libras- Mariléia Stolz e Juliane Martins. A exposição, com perguntas dos internautas e comentários das participantes, foi transmitida pelo Facebook e pelo Youtube da seção sindical.

Enquanto a pesquisa feita na Uerj apresentou um viés mais quantitativo ao apontar números preocupantes dos efeitos da pandemia no trabalho docente, a pesquisa feita por Karine Perez, que teve o Sindicato de Professores (as) de Instituições Particulares do RS (Sinpro) como patrocinador, centra mais na qualidade do trabalho que o (a) docente pode colocar em prática.

Um aspecto comum perpassa as duas pesquisas: se está claro que diante da impossibilidade de as aulas continuarem no presencial em meio à pandemia que ceifava vidas, por outro lado, também fica nítido que não houve um diálogo efetivo por parte de gestores (as) das universidades com educadores (as) para que o ensino remoto fosse implementado com os menores impactos negativos possíveis.

Números que mostram tamanho das dificuldades

Na pesquisa realizada na Uerj, alguns números mostram alguns importantes obstáculos para a consecução do ensino remoto. Alguns destacaremos aqui, outros postaremos como imagem, ao final da matéria, a partir de prints das lâminas apresentadas pela professora Amanda Silva.

Dentre os 553 ouvidos (as), um total de 84,5% confirmou que tiveram que fazer adaptações nas condições de suas casas para desenvolver atividades de trabalho, que passa pela compra de mobiliários, mudança no contrato da internet, etc. Confira abaixo, no gráfico o detalhamento.

O apoio institucional para sanar problemas também foi bastante baixo no caso da universidade fluminense. Conforme a pesquisa, 15% dos (das) docentes solicitaram recursos tecnológicos à Administração Central, mas apenas 26,3% desses pedidos foram atendidos. No que se refere à atividade docente durante o ensino remoto, 73% consideraram que a “nova rotina de trabalho interferiu no tempo de preparação, bem como na qualidade das atividades de ensino”.

No que tange ao aspecto “adoecimento docente”, a pesquisa realizada na Uerj apontou que, entre pesquisados (as), os sentimentos mais relatados foram: Preocupação (39,2%); Apreensão (16,8%); Desânimo (13,2%); Medo (7,3%); Irritação (7%); Desamparo (4%); Ansiedade (1,3%).

Projeto político-ideológico

Para Amanda Silva, os desafios para o trabalho docente seguirão, mesmo após o fim da pandemia de Covid-19, já que muitos dos aspectos surgidos permanecerão. Em seu trabalho, ela destaca que o ensino remoto já surge em um contexto de crise, com os cortes orçamentários sendo ampliados a cada ano, com projetos de desestruturação dos serviços públicos, como é o caso da PEC 32 (Reforma Administrativa). Nesse sentido, o entendimento da pesquisadora é que o ensino remoto será uma forma de dar sequência à privatização do ensino superior, através das plataformas digitais.

Já no espaço de comentários sobre questões de internautas, Amanda respondeu sobre o chamado modelo híbrido, com a mistura do ensino remoto e o presencial, e o discurso de que terá que haver uma “adaptação” por parte de educadores (as).

Para a docente, o termo híbrido já incorre numa conceituação que remete ao privatismo, já que é defendido por instituições como a Lehman Brothers. Na visão dela, é preciso que haja resistência e não adaptação. Amanda acredita que não houve, por parte do governo, uma grande pressão para a volta ao presencial nas Instituições Federais por ser “confortável” ao projeto de universidade da extrema-direita ultraliberal, de economizar com a educação, fazendo isso através da adesão às plataformas virtuais.

Pressões, exigências, adoecimento

Em que pese o fato de o ensino remoto ter sido uma realidade diante da necessidade de salvar vidas através do isolamento social, em termos práticos representou uma situação para a qual a grande maioria de educadores (as) não estava preparado (a). Muitos docentes, por exemplo, não tinham contato com as tecnologias. Esse contato teve que acontecer de forma açodada, gerando muitas pressões, exigências, autocobranças e cobranças institucionais. O resultado disso é o adoecimento.

A constatação desse quadro é feita por Karina Peres, que é uma das coordenadoras da pesquisa “As transformações provocadas pela pandemia do novo coronavírus no trabalho e na saúde mental dos docentes”, promovida pelo Sinpro/RS. A pesquisa ainda está em andamento e intenciona entrevistar professores(as) de todas as redes de ensino do país. O formulário de pesquisa coleta dados ao longo do mês de outubro (até dia 31) e prevê divulgação dos resultados no início do próximo semestre letivo (início de 2022).

Do que se constata até agora, a pesquisadora ressalta a sobrecarga de trabalho diante da necessidade de conciliar tarefas familiares, domésticas com as profissionais. E, nesse quesito, as mulheres, segundo ela, são as que mais sentem esse aumento da carga de trabalho. Um fato é concreto, destaca Karine: “se trabalhou muitos mais que antes da pandemia”.

Em um dos tópicos do trabalho da professora da Unisc se remete às “vivências do teletrabalho”. Nos depoimentos já captados pelo trabalho, alguns relatos, como o de uma pessoa que diz o sentimento é de que “o trabalho entrou na casa das pessoas sem ser convidado”.

Essa sensação, explica Karine, se deve à mistura entre trabalho e vida familiar, o que, segunda a pesquisadora, é extremamente prejudicial à saúde. “As modalidades de trabalho on-line fazem com que o ambiente de trabalho passe a ser qualquer lugar a qualquer momento em que se possa acessar uma conexão”. Isso implica em “parecer não existir mais o tempo de trabalho e o tempo de não trabalho”. E complementa: “Se ultrapassou o limite do limite”.

Trabalhadores e a participação nas decisões

Diante desse quadro a percepção, segundo Karine, é de que há um cansaço diante das telas der computador. “O sentimento é de que se está trabalhando muito mais, mas com um resultado que não é tão bom”. E, por isso, analisa ela, há a necessidade desse tipo de trabalho ser “repensado”.

Respondendo à questão de internautas sobre “adaptar-se” ao ensino remoto, a professora afirma que os (as) trabalhadores (as) precisam participar das decisões sobre metodologias de ensino híbrido ou remoto. É preciso resistir à imposição, diz ela, que complementa enfatizando a importância do debate sobre uma política de saúde mental no ensino superior, o que, hoje, conforme Karine, não vem ocorrendo. Na visão dele, é papel das organizações sindicais pressionar as instituições na cobrança de uma política de saúde mental.

Seminário em quatro etapas

O seminário sobre “Trabalho remoto na UFSM”, organizado pela Sedufsm, foi dividido em quatro etapas. A primeira ocorreu no dia 23 de setembro e abordou o tema “Trabalho e ensino remoto na UFSM”. A segunda foi no dia 5 de outubro e teve a presença de representações das entidades nacionais, com a abordagem do “Trabalho e ensino remoto nas universidades”. O quarto e o último momento do seminário ocorrerá no dia 27 de outubro, às 19h, com uma Plenária sobre o REDE/UFSM.

Acesse, logo abaixo, a íntegra do seminário no Youtube. E, ao final desta reportagem, algumas imagens (prints) dos trabalhos apresentados.




Texto e imagens (prints): Fritz R. Nunes
Assessoria de imprensa da Sedufsm

 

 

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