“Sem mexermos com as estruturas, não chegaremos à igualdade”, diz militante do movimento negro
Publicada em
29/11/21 18h43m
Atualizada em
29/11/21 18h46m
736 Visualizações
Isadora Bispo é a entrevistada da 51ª edição do Ponto de Pauta
Para que Santa Maria possa dizer que está efetivamente caminhando rumo a ser uma cidade antirracista, é preciso que se debatem, formulem e deliberem políticas sociais voltadas à população negra. “Se não mexermos com as estruturas, não vamos conseguir ficar em pé de igualdade [...] O que está sendo feito em relação à saúde da população negra? E à segurança e geração de emprego e renda?”, questiona a advogada, produtora cultural, gestora de projetos da Associação Ara Dudu e integrante do Movimento Negro Unificado-MNU, Isadora Bispo.
Ela foi a entrevistada da 51ª edição do ‘Ponto de Pauta’, que teve como tema principal a discussão acerca do movimento negro em Santa Maria. A entrevista marcou o encerramento da série de programas referentes ao Mês da Consciência Negra. Todos podem ser visualizados no canal da Sedufsm no Youtube.
“Aqui em Santa Maria, temos várias entidades e coletivos que trabalham durante todo o ano. Porque essa é a realidade da negritude: nós não optamos em sermos ou não militantes. Quando se nasce negro no Brasil, você já nasce militando porque você tem que sobreviver. Por mais que a pessoa diga ‘eu não tenho nada a ver com isso’, em algum momento ela vai ter que se posicionar, porque o racismo infelizmente bate na porta”, comenta a entrevistada.
Ela cita organizações como a Associação Ará Dudu, o coletivo Afronta, a ONG Igualdade e a comunidade da Vila Resistência como exemplos das cerca de 20 entidades existentes na cidade com o intuito de realizar ações junto à população negra. Essas organizações, explica Isadora, chegam em periferias e demais localidades geralmente desassistidas pelo Estado. Quando mulheres negras sofrem violência doméstica, quem primeiro dá acolhimento e suporte são as organizações negras que atuam naquela comunidade.
“Temos que ter uma unificação para dialogarmos com as estruturas legislativas e com o executivo municipal para pautarmos a questão negra. Por isso propomos iniciar o Fórum de Entidades Negras. Esse Fórum vai dar uma legitimidade à sociedade civil para estar discutindo sobre as políticas públicas voltadas à população negra, porque só assim vamos começar a mexer com as estruturas raciais”, compartilha Isadora, defendendo que os órgãos da institucionalidade devem estar o ano inteiro, e não só durante o mês de novembro, conectados com as questões raciais.
Potência negra
Se por um lado Santa Maria coleciona casos de racismo explícito e velado, também é terra mãe de muitas cabeças pensantes e críticas acerca da questão negra. Isadora cita Nei D’Ogum, militante histórico falecido em 2017, e Maria Rita Py, professora e vereadora na cidade.
“Temos uma comunidade negra muito presente, forte, e com pensamento crítico eficaz e contundente. Santa Maria tem um movimento negro que é potencializado por essas cabeças que vêm da periferia e se juntam com a academia”, diz a advogada, citando, como pontos de referência da cultura e da história negras o Museu Treze de Maio, o Clube União Familiar e o Bairro Rosário.
Assista a íntegra da entrevista com Isadora:
Texto: Bruna Homrich
Imagem: Rafael Balbueno
Assessoria de Imprensa da Sedufsm