Dica cultural: docente comenta romance que retrata luta de trabalhadores(as) no sertão baiano
Publicada em
18/02/22 17h38m
Atualizada em
18/02/22 17h51m
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Para Márcia Morschbacher, ‘Torto Arado’ retrata com primor a resistência do povo trabalhador negro
A dica desta sexta é o livro ‘Torto Arado’, do escritor baiano Itamar Vieira Júnior. Muito celebrado entre aqueles e aquelas que apreciam literatura nacional e, especialmente, romances intimamente vinculados à realidade política e social do país, o livro, além de ter angariado três prêmios, vem encantando leitoras e leitores não só no Brasil, mas internacionalmente, visto que foi traduzido para idiomas como o inglês, o espanhol e o francês.
Quem comenta a obra nesta sexta-feira é a docente do departamento de Metodologia do Ensino da UFSM e diretora da Sedufsm, Márcia Morschbacher, Leia:
“Itamar Vieira Júnior, soteropolitano, egresso da Universidade Federal da Bahia (UFBA), servidor público do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), presenteia-nos com o romance “Torto Arado”, publicado no Brasil pela Editora Todavia em 2018.
De 2018 para cá, esta belíssima obra foi premiada na categoria Romance no Brasil (Prêmio Jabuti - 2020 e Prêmio Oceanos – 2020) e em Portugal (Prémio LeYa - 2018), além de ter sido traduzida e publicada em vários idiomas, como inglês, espanhol e francês.
O autor apresenta-nos a história das irmãs Bibiana e Belonísia, filhas de Salustiana e Zeca Chapéu Grande e netas de Donana, que vivem no sertão baiano, na Fazenda Água Negra. Bibiana e Belonísia, ainda crianças, encontram um instigante e misterioso objeto na mala guardada sob a cama da avó. Um acidente com este objeto irá marcar e ligar a vida das duas irmãs. Como retrata o autor na narrativa de Bibiana: “Foi assim que me tornei parte de Belonísia, da mesma forma que ela se tornou parte de mim” (p. 24).
Além da história das personagens, Itamar Vieira Júnior relata a história de trabalhadoras e trabalhadores negros que submeteram-se a condições degradantes de trabalho nas fazendas do sertão baiano, assim como a resistência destes trabalhadores e trabalhadoras na luta por melhores condições de vida e por terra, a celebração da sua ancestralidade na vida cotidiana e a resiliência das mulheres. Esta história é sintetizada pelo autor a partir de Bibiana, que narra que: “Quando deram liberdade aos negros, nosso abandono continuou. O povo vagou de terra em terra pedindo abrigo, passando fome, se sujeitando a trabalhar por nada. Se sujeitando a trabalhar por morada. A mesma escravidão de antes fantasiada de liberdade. Mas que liberdade?” (p. 220).
Deixo o convite aos e às colegas docentes para realizarem a leitura de “Torto Arado”, para conhecerem a história de Bibiana e Belonísia, qual é o fato que as liga desde a infância e marca suas vidas para sempre e, sobretudo, para conhecer e reconhecer os meandros de um país ainda escravocrata e a resistência do povo trabalhador negro no seu interior, que Itamar Vieira Júnior retrata de forma primorosa”.
Márcia Morschbacher
Docente do departamento de Metodologia do Ensino da UFSM e diretora da Sedufsm.
Edição: Bruna Homrich
Imagens: Radis Comunicação e Saúde e Arquivo Sedufsm
Assessoria de Imprensa da Sedufsm