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19/08/2022 10h50m 19/08/2022 11h07m | A+ A- | 374 visualizações
Ricardo Piglia, referência da literatura argentina contemporânea
Sextou! Nesta sexta, 19, a dica cultural vem do professor Pedro Brum Santos, do departamento de Letras Vernáculas da UFSM. A sugestão é a leitura da trilogia ‘Os diários de Emilio Renzi’, do escritor Ricardo Piglia, considerado uma das referências da literatura argentina contemporânea. Os três volumes foram publicados pouco tempo antes da morte do escritor, que ocorreu em 2017. Para a dica, Santos fala sobre ‘Anos de formação’, publicado em 2015, mas adianta que pretende ler os dois volumes subsequentes dessa trilogia que formam os diários de Emilio Renzi, que nada mais seria que o alter ego de Piglia.
“Os diários de Emílio Renzi
Acabo de ler Anos de formação (2015), primeiro volume da trilogia intitulada Os diários de Emilio Renzi, do escritor argentino Ricardo Piglia. Esperam-me Os anos felizes (2016) e Um dia na vida (2017). Minha leitura segue a edição brasileira da Todavia, lançada em 2017, com tradução de Sérgio Molina.
Ricado Piglia nasceu na província de Buenos Aires em 1941. Ficcionista, crítico e professor universitário, ele viveu entre os Estados Unidos e a Argentina, onde faleceu em janeiro de 2017, depois de uma luta contra o avanço da Esclerose Lateral Amiotrófica diagnosticada em 2013.
O diário, que recua à metade dos anos 1950, época da primeira mocidade do autor, reúne um conjunto heterogêneo de anotações que correspondem à leitura/reescrita e edição daquilo que o narrador nos indica tratar-se de registros de seus cadernos. Esse é o mote para composição de um estilo que recorre à montagem e à intercalação de textos autônomos que desafiam o leitor na forma de material inédito ou, ao menos em parte, já publicado.
Notas de relações familiares, as primeiras experiências amorosas, a cena boêmia e cultural de uma Argentina tragada entre Buenos Aires, La Plata e Mar del Plata, rotas constantes do jovem Renzi, apontamentos de leitura sobre processos e formas narrativas, diálogos com Arlt, Hemingway, Pavesi, Fitzgerald, Joyce, Dostoiévski, a sombra omnipresente de Borges. Resumidamente, eis o roteiro do primeiro volume.
Há uma ironia reflexiva de cunho autoral nas muitas passagens em que o texto nos previne sobre o ilusionismo do procedimento que temos em mãos. A ilusão decorre da passagem do tempo sugerida pela ordenação dos cadernos. As advertências sugerem que, ao invés disso, a ordenação dos fatos é dependente do olhar. Ou seja, o jogo entre narrador e leitor que dá sentido às sequências e cria significados para os eventos é um jogo que pertence sempre ao olho do presente da leitura. E aí surge a força literária do relato.
Estes são os caminhos pelos quais o lúcido percurso de Ricardo Piglia como crítico, escritor e professor impõe-se em Os diários de Emílio Renzi. Com eles – com os diários – exercitamos a prática de que toda leitura convida a um exercício do olhar. Daí, os laços entre história e ficção, a combinação entre temporalidades múltiplas, a circulação de diferentes e surpreendentes estratos espaciais.
PIGLIA, Ricardo. Os diários de Emílio Renzi. Trad. Sergio Molina. São Paulo: Todavia.”
Pedro Brum Santos
Professor do departamento de Letras Vernáculas do CAL/UFSM.
Imagens: Divulgação e arquivo pessoal
Edição: Fritz R. Nunes (Sedufsm)
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