11 anos depois, segue o clamor por justiça
Publicada em
29/01/24
Atualizada em
29/01/24 11h44m
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Atividades de sexta e sábado, 26 e 27 de janeiro, chamaram a atenção contra a impunidade no caso Kiss

Na noite desta sexta, 26 de janeiro, dezenas de pessoas se reuniram na praça Saldanha Marinho, junto à tenda da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) e depois realizaram uma caminha silenciosa, que teve uma parada junto ao Theatro 13 de Maio, finalizando em frente ao prédio da antiga Boate Kiss, na rua dos Andradas, em Santa Maria.
As e os caminhantes usaram máscaras com mensagens inscritas e, conforme o presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia (AVTSM), Gabriel Rodavoschi, buscavam passar a mensagem de um sistema judicial “sem expressão”, que até hoje não promoveu justiça.
Nas paredes da antiga casa noturna, as máscaras foram penduradas uma a uma e, no momento seguinte, o dirigente da AVTSM convidou a todos e todas para que buscassem os pares de calçados que estavam no estacionamento do hipermercado Carrefour. Ao todo, 242 pares, simbolizando o número de vidas perdidas no incêndio, foram dispostos na calçada, em frente ao prédio, e ao lado de cada calçado, uma flor. “A nossa luta não é movida por um sentimento negativo, mas por muito amor”, enfatizou Rodavoschi.
Outras manifestações também ocorreram, como a do diretor jurídico da Associação, Paulo Carvalho (foto acima). Ao lado de Flavio Silva, do Movimento Santa Maria do Luto à Luta, e de convidados(as) que traziam experiências de outras tragédias, como a de Brumadinho (Minas Gerais), e da escolinha do Flamengo (‘Ninho do Urubu’), Carvalho destacou que “para que não se repitam novas tragédias, a justiça precisa ser efetiva”.
A programação das atividades dos 11 anos da tragédia da Kiss se estendeu ao longo da madrugada do dia 27, com homenagens aos mortos e sobreviventes. E, na noite de sábado, também em frente ao local onde funcionava a boate, ocorreram palestras que abordaram desde formas de prevenir novos desastres como o da Kiss, até relatos de pessoas que enfrentaram outras tragédias no país.
Injustiças que seguem
Josiane Melo (foto acima), engenheira civil, é sobrevivente da tragédia de Brumadinho, ocorrida em 25 de janeiro de 2019. Ela trabalhava para a Vale, mas, no dia do rompimento da barragem que soterrou, oficialmente, 270 pessoas, estava de folga. Entretanto, sua irmã, Eliane, também engenheira civil, mas que trabalhava de forma terceirizada, está entre as vítimas. E, pior, estava grávida.
Josiane diz que os números que são divulgados, 270, ignoram que haviam duas mulheres grávidas e, que, portanto, o correto seria falar que foram 272 mortes. No caso dessa tragédia, frisa ela, ninguém foi condenado oficialmente, mesmo com todas as provas de que a empresa havia sido alertada para a iminência do desastre na represa, que possuía dejetos de mineração.
Cátia Goulart (foto abaixo), de Porto Alegre, luta pela responsabilização criminal do irmão, Jeverson Goulart, acusado de ter assassinado (após ter supostamente estuprado) o sobrinho, Andrei Goulart, de 12 anos, em 2016. Inicialmente, a alegação foi de que o adolescente havia se suicidado. Cátia nunca acreditou nessa versão e, quatro anos após a morte, conseguiu comprovar que, na realidade, seu irmão teria assassinado o adolescente para que este não relatasse o estupro.
Um dos aspectos que dificultam a punição do acusado, que já teve condenação, é o fato de ele ser um oficial da Brigada Militar, e que sempre teve boas relações dentro da instituição, afirma Cátia.
Em 2019, uma outra tragédia chocou o Brasil. Um incêndio levou à morte de 10 garotos da base do Flamengo, que estavam alojados no chamado “Ninho do Urubu”, o Centro de Treinamento (CT) da equipe, no Rio. Uma das vítimas foi o menino Bernardo Pisetta, cujo pai, Darlei Pisetta, de Indaial (Santa Catarina), esteve em Santa Maria no final de semana.
Para Darlei (foto abaixo), o que mais causa frustração é o fato de que a direção do time do Rio tem se preocupado com pagar indenizações, mas a responsabilização pelo incêndio virou um jogo de empurra e que, por enquanto, sobrou só para os “peixes pequenos”. Em sua manifestação em frente à boate Kiss, o pai ressaltou que é uma luta difícil, pois está se lidando com uma “paixão nacional”, o futebol, e com uma das maiores equipes do país.
Texto e fotos: Fritz R. Nunes
Assessoria de imprensa da Sedufsm
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