Impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia para as economias mundial e do Brasil SVG: calendario Publicada em 08/06/2022 SVG: views 2772 Visualizações

A Rússia e a Ucrânia são grandes exportadoras de commodities agrícolas e metais. Os principais produtos exportados pela Rússia somaram US$1,1 trilhão entre 2016 e 2020, com destaque para o petróleo bruto e derivados e combustíveis fósseis (gás natural, carvão), que correspondem a 56,9% do total exportado pelo país e 11% das exportações mundiais desse produto (dados do site da BBC, de Londres). A economia da Rússia depende significativamente da exportação de petróleo e gás. O país é o terceiro exportador de petróleo do mundo e um dos maiores exportadores de gás. Segundo a BBC, antes da invasão da Ucrânia, a Rússia fornecia 1 em cada 10 barris de petróleo que o mundo consumia. Hoje, entretanto, com a guerra e as sanções dos EUA, a participação russa na oferta mundial de petróleo diminuiu e o petróleo enfrenta sua maior turbulência desde a década de 1970 (criação da OPEP).

Rússia e Ucrânia são também grandes exportadores de produtos alimentícios. Os dois países, conhecidos como o "celeiro da Europa", representam 29% das exportações globais de trigo e 19% das de milho, segundo a reportagem do site da BBC.  O impacto da guerra na produção de grãos pode chegar a duplicar os preços internacionais do trigo. Isso poderia afetar gravemente vários países que dependem das importações de grãos.

Entre os pontos que mais geram preocupação em nível mundial são o aumento generalizado do preço barril de petróleo, pressionando uma inflação mundial do produto, que já está bastante elevada. Já o aumento do preço dos grãos pode ter efeitos sobre a segurança alimentar, principalmente no caso da proteína animal, em função do comportamento do milho no mercado internacional

A Rússia é um dos maiores fornecedores do mundo de metais utilizados em todo tipo de produtos, de latas de alumínio até cabos de cobre e componentes de automóveis. O país é o quarto exportador global de alumínio e um dos cinco principais produtores mundiais de aço, níquel, paládio e cobre.  A Ucrânia é um dos principais provedores de gases raros purificados, como o néon, essencial para a fabricação de semicondutores. Mais de 90% do néon utilizado pela indústria de chips dos Estados Unidos vem da Ucrânia. Qualquer alteração em seu abastecimento poderia agravar a escassez de microchips, que já foi um problema significativo em 2021.

Qual o efeito da guerra Rússia e Ucrânia sobre a economia brasileira? Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Rússia e Bielorrússia respondem por 30,5% das exportações de fertilizantes potássicos e o Brasil é o maior importador mundial, seguido por EUA, Índia e China. Mais da metade dos produtos russos adquiridos pelo Brasil são fertilizantes potássicos, nitrogenados e compostos. Portanto, o Brasil enfrentaria dificuldades para substituir a oferta daqueles dois países por outros fornecedores, dado o seu peso na balança comercial entre os países. Porém, o próprio Ministério da Agricultura afirma que os estoques brasileiros são suficientes, pelo menos até meados do segundo semestre.

 Outra preocupação relacionada com a guerra russo-ucraniana, diz respeito às importações brasileiras de trigo. O Brasil é o quinto maior importador mundial do cereal e, mesmo que não importe da Ucrânia, pode ser indiretamente afetado pela pressão na oferta sobre os países que fornecem o produto para o Brasil, como a Argentina, que é responsável por quase 80% das importações brasileiras.

Por outro lado, o aumento da participação brasileira nos mercados internacionais de soja e milho podem representar um problema de abastecimento interno, com pressões inflacionárias sobre os preços dos alimentos, que já apresentam tendência de alta no mercado nacional. Vale lembrar que o preço do milho é decisivo para a formação dos preços de carnes de suínos e frangos. Apesar de ser grande parceiro da China em diversos produtos agrícolas (como a soja), o Brasil não exporta milho para a China, enquanto a Ucrânia foi seu maior fornecedor. É possível também que o país possa se beneficiar por uma alta dos preços do produto, pela escassez de oferta.

Sobre o(a) autor(a)

SVG: autor Por José Maria Pereira
Doutor em Economia, professor aposentado do departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM e também da UFN

Veja também