Semana Unificada de Lutas: docentes intensificam mobilização contra a Reforma Administrativa
Publicada em
24/09/25
Atualizada em
25/09/25 17h58m
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Sedufsm participa de agenda nacional de lutas em Brasília e em Santa Maria, alertando para os impactos da proposta sobre saúde, educação e segurança públicas

Entre os dias 22 e 27 de setembro, docentes da UFSM e de todo o país intensificam a mobilização contra a Reforma Administrativa. A proposta, em debate no Congresso Nacional, ameaça os serviços públicos e, consequentemente, o direito da população a saúde e educação gratuitas.
A Sedufsm, em conjunto com o ANDES-SN, soma-se à agenda da Semana Unificada de Lutas, que reúne ações locais e nacionais. Em Santa Maria, a atuação também se dá por meio da Frente Unificada de Servidores contra a Reforma Administrativa, formada por sindicatos da educação da cidade. No último dia 11, a Frente promoveu um ato na Praça Saldanha Marinho, dialogando com a comunidade sobre os riscos da proposta.
Desde segunda-feira (22), uma caravana de docentes da Sedufsm está em Brasília, participando das atividades do calendário nacional de lutas. A agenda teve início com debate organizado pelo ANDES-SN, em articulação com entidades do Fonasefe, sob o tema “Os ataques às universidades públicas são ataques à democracia!”. Na manhã do dia 23, docentes participaram de um ato no aeroporto de Brasília, distribuindo material explicativo sobre a reforma.
Já nesta quarta-feira (24), a mobilização incluiu ato público em frente à Câmara dos Deputados, seguido de visitas a gabinetes parlamentares e participação em audiência pública, ocasião em que o ANDES-SN entregou carta com seu posicionamento (leia ao final da matéria a íntegra do documento). As atividades seguem nos dias 25 e 26, com reunião conjunta dos setores do sindicato nacional, que avaliará a conjuntura e definirá novas estratégias para barrar a proposta.
Em Santa Maria, a Sedufsm estará presente no Descubra UFSM, de 25 a 27 de setembro, realizando blitz de conscientização sobre os ataques da reforma aos serviços públicos. Paralelamente, diretoras e diretores do sindicato concedem entrevistas à imprensa local, destacando os impactos do projeto sobre as carreiras dos servidores e sobre áreas como saúde, educação e segurança. Confira, abaixo, o resumo das atividades de mobilização:
Agenda da Semana Unificada de Lutas - 22 a 27 de setembro
Local
- 25 a 27/09: Blitz da Sedufsm no Descubra UFSM
- 22 a 27/09: Caravana de docentes da Sedufsm em Brasília
Nacional
- 22/09: Debate “Os ataques às universidades públicas são ataques à democracia!”
- 23/09: Ato no aeroporto de Brasília
- 24/09: Ato público na Câmara de Deputados e visita a gabinetes
- 25 e 26/09: Reunião conjunta dos Setores das IFES e das IEES/IMES/IDES do ANDES-SN
Proposta representa precarização do trabalho e ataques aos serviços públicos - Embora o texto final da Reforma Administrativa ainda não tenha sido apresentado, o relator do Grupo de Trabalho da Câmara, deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), já antecipou medidas como a redução de salários iniciais, ampliação de contratos temporários no lugar de concursos, progressão mais lenta na carreira e uso da avaliação de desempenho como critério de permanência. Segundo o parlamentar, o pacote deve ser dividido em uma PEC, um projeto de lei complementar e um projeto de lei ordinária, totalizando cerca de 70 medidas. Para o movimento sindical, trata-se de um plano que precariza o serviço público e abre caminho para privatizações, com impactos diretos na população.
Atualmente, a análise da proposta da Reforma Administrativa está parada no Congresso devido à sobreposição de pautas por parte da direita parlamentar, a exemplo da PEC da Blindagem e da aprovação de urgência na votação pela anistia aos golpistas do 8 de janeiro. Mesmo assim, a proposta pode ser avaliada e encaminhada ainda no próximo mês. No texto atual, o ANDES-SN alerta para ao menos cinco pontos críticos na proposta:
- Generalização dos contratos temporários, substituindo concursos públicos.
- Metas e desempenho priorizando quantidade de atendimentos em vez de qualidade.
- Fragilização da estabilidade e aumento do espaço para apadrinhamentos políticos.
- Arrocho salarial e ataques às aposentadorias, com bônus condicionados ao desempenho.
- Manutenção de privilégios para poucos, enquanto a maioria dos servidores terá perdas.
Para aprofundar, leia a matéria que publicamos ontem (17): O pacote de maldades que está sendo montado na Reforma Administrativa.
Atividades foram deliberadas em assembleia pela categoria - No início de setembro, docentes da UFSM reuniram-se em assembleia para deliberar sobre a agenda de mobilização contra a reforma. O encontro contou com a participação de professores do campus sede e dos campi de Frederico Westphalen e Palmeira das Missões. Por maioria, a categoria aprovou a realização das atividades de conscientização e diálogo com a comunidade.
Para o presidente da Sedufsm, professor Everton Picolotto, a mobilização contra a reforma é fundamental. “É uma oportunidade de mostrar que não é apenas quem trabalha no serviço público que será afetado, mas toda a população, que depende dos serviços que serão atacados e precarizados.” Ele também reforça que os argumentos favoráveis à reforma não se sustentam. “Enquanto o Brasil destina 13% do PIB para os serviços públicos, os países da OCDE aportam 17%. O serviço público brasileiro já é insuficiente para as dimensões do país, e a reforma só agravará essa situação.”
As atividades em Santa Maria e em Brasília integram um movimento nacional de pressão sobre o Congresso para que a proposta não avance. Leia também a matéria completa que publicamos sobre os mitos ao redor da reforma no serviço público.
Abaixo, a íntegra da carta do ANDES-SN entregue aos deputados nesta quarta (24):
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Brasília (DF), 24 de setembro de 2025.
Às Senhoras Deputadas e aos Senhores Deputados Federais Assunto: Posicionamento acerca da Reforma Administrativa.
O ANDES – Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior, que há mais de quatro décadas representa docentes federais, estaduais, municipais e distritais em todo o país, vem por meio desta expressar a sua firme posição contrária à chamada Reforma Administrativa que está sendo discutida no Grupo de Trabalho (GT) instalado nesta Câmara desde junho de 2025.
Embora o GT ainda não tenha apresentado relatório, o anúncio do Presidente da Casa de acelerar sua tramitação torna urgente que parlamentares conheçam e se posicionem contra os impactos concretos das medidas já divulgadas. Trata-se, em essência, de uma contrarreforma que fragiliza o serviço público e penaliza a sociedade brasileira.
As propostas ventiladas incluem, entre outras:
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Generalização dos contratos temporários, com modificação do art. 37 da Constituição para suprimir a exigência de “excepcional interesse público” e criação de um Cadastro Nacional de Contratos Temporários, o que significa, na prática, uma fragilização do regime jurídico único e o fim dos concursos para efetivos e a precarização estrutural dos serviços públicos, sobretudo em estados, municípios e no Distrito Federal.
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Instituição de sistemas de metas e Programas de Gestão de Desempenho (PGDs) que desconsideram as peculiaridades regionais e setoriais do atendimento à população, colocando foco apenas em quantidade, não em qualidade. Tais PGDs abririam brecha para demissões arbitrárias inclusive no topo das carreiras e aumentariam o assédio moral e os apadrinhamentos políticos.
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Conversão de parte dos salários em bônus de desempenho e implantação de uma “tabela única” salarial que pode provocar um achatamento generalizado das remunerações, com efeitos negativos sobre a renda de milhões de servidores e sobre a economia nacional. Não há sequer previsão de extensão desses bônus a aposentadas, aposentados e pensionistas, aprofundando a deterioração das aposentadorias.
No serviço público civil federal mais de 36% das servidoras e servidores recebem entre dois e seis salários mínimos, realidade ainda mais severa nos estados e municípios. São essas trabalhadoras e trabalhadores que sofrerão os impactos centrais da reforma, enquanto os privilégios de menos de 0,3% do funcionalismo – concentrados no Judiciário e em alguns setores militares – permanecem intocados.
A propaganda em torno da reforma, que a apresenta como mecanismo de combate a supersalários, oculta que o projeto, de fato, precariza as condições de trabalho da imensa maioria, desmonta serviços essenciais e reduz a capacidade do Estado de atender às necessidades da população.
Por essas razões, solicitamos a Vossas Excelências que:
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Rejeitem qualquer proposta de emenda constitucional, PLP ou PL decorrente deste GT que represente retrocessos aos direitos das servidoras e servidores e à qualidade do serviço público;
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Exijam amplo debate público e transparência sobre todas as medidas propostas;
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Defendam concursos públicos, estabilidade, remuneração digna e autonomia profissional como garantias para que o Estado atue no interesse da sociedade.
O ANDES-SN permanece à disposição para dialogar com o Parlamento e apresentar dados e análises sobre os efeitos deletérios desta contrarreforma. No momento em que somos convocadas/os às ruas para defender a democracia e a soberania nacional, é hora de reafirmar o compromisso com um serviço público de qualidade, universal e de interesse do povo brasileiro.
Atenciosamente,
Professor Cláudio Anselmo de Souza Mendonça
Presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES - Sindicato Nacional)
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Texto: Nathália Costa (com informações de ANDES-SN)
Arte: Italo de Paula
Imagens: ANDES-SN
Assessoria de Imprensa da Sedufsm
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