27 anos de história e grandes tarefas para o futuro
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Atualizada em
08/11/16 19h47m
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Aniversário da Sedufsm foi marcado por confraternização e debate
Sem a ambição de deliberar ou encaminhar algo, mas com o modesto propósito de conversar, exprimir as angústias e as esperanças. Essa foi a ideia central da roda de conversa realizada nessa segunda, dia 7, e que marcou o aniversário de 27 anos da Sedufsm. Após a prosa, o ‘parabéns a você’ e o bolo, como não poderia deixar de ser, também marcaram a comemoração.
Partindo de alguns dos processos mais importantes da história recente do sindicato – entre eles a greve de 2012 e a multicampia – a primeira parte da atividade baseou-se numa conversa informal. Tudo isso, por óbvio, pautado pela conjuntura de ataques, acelerada desde que Michel Temer assumiu a presidência. “Hoje é o dia de lembrarmos que, apesar de tudo, estamos sempre juntos. E isso é o mais importante”, pontou, logo na abertura da conversa, o presidente da Sedufsm, Júlio Quevedo. Já o tesoureiro-geral da Sedufsm, Carlos Pires, deu o pontapé inicial na discussão trazendo alguns elementos sobre a greve de 2012. E esse não foi o ponto de partida por mero acaso, afinal, conforme se confirmou no decorrer da conversa, muitas das lutas que nos levam à greve de 2012, também nos trazem até aqui.
Expansão precarizada, invisibilidade e greve
Com a propriedade de quem viveu o processo de expansão in loco, o segundo suplente da Sedufsm e professor da UFSM no campus de Frederico Westphalen, Luciano Miranda, relatou um pouco da sua experiência no norte do estado. “Colocamos o pé no barro, literalmente”, brincou o professor. E essa vivência, de acompanhar a instalação de uma unidade que nasce do zero, mexeu também com a estrutura da carreira de muitos docentes. “Eu achava que agora eu iria encontrar condições ideais de pesquisa e extensão, e o que eu encontrei lá foi justamente o contrário”, declarou Luciano. Também com a experiência de ter vivido a expansão universitária – enquanto docente da Unipampa – o primeiro tesoureiro da Sedufsm, professor Gihad Mohamad, relata a mesma desilusão com o projeto. “Desde que fiz graduação eu pensei que a universidade fosse um ambiente no qual as pessoas pensassem. Mas nunca me deixaram pensar, porque eu tinha que fazer”, declarou o docente.
Somado a essa precariedade no que toca a infraestrutura, o professor Luciano Miranda ressaltou, também, a invisibilidade dos campi descentralizados com relação a sede administrativa em Santa Maria. Uma infeliz, mas corriqueira, realidade. Segundo Luciano, um dos muitos exemplos disso – talvez o mais recente –, é a dificuldade de se viabilizar a participação dos campi descentralizados no processo de Estatuinte. Para o conselheiro da Sedufsm, professor Adriano Figueiró, essa invisibilidade é, infelizmente, uma regra dentro de uma lógica de competição que domina a universidade. “Nós temos uma cultura, e não é só na nossa universidade, mas em todas, que é cada um por si”, declarou Figueiró.
Concluindo a sua fala, o professor Luciano Miranda apontou justamente a soma desses fatores (precarização+invisibilidade) como os principais elementos para a deflagração da greve de 2012, conjuntura na qual os campi descentralizados foram, em todas as ocasiões, majoritariamente favoráveis a greve. O presidente da Sedufsm, Júlio Quevedo, faz coro à essa afirmação. “Nunca fomos contra a expansão, mas, sim, ao canto da sereia que o governo propagou, de que viria professor, espaço físico e tudo mais que, no final das contas, nunca veio e acabou precarizando bastante o trabalho. Em 2012, o item que mais pesou, sem dúvida, foram as condições de trabalho”, declarou Quevedo.
Escolhas políticas
Uma outra perspectiva necessária para se abordar a expansão, trata das escolhas políticas das diferentes gestões no momento da implantação, conforme lembrou a professora Laura Fonseca, do departamento de Serviço Social da UFSM. Para enxergar essas opções basta, segundo Laura, perceber a diferença na distribuição de recursos conforme as áreas do conhecimento. Para a primeira secretária da Sedufsm, Maristela Souza, essa disparidade não é mera coincidência. Tratando-se do Reuni, o principal programa de expansão nos governos Lula e Dilma, esse era justamente um dos eixos. Além disso, conforme ressaltou Maristela, o Reuni foi aplicado via decreto, e teve sua implantação baseada em ameaças de cortes para aquelas universidades que não aderissem ao programa. E tudo feito sob o conhecimento dos gestores da época. Ilustrando um pouco disso, o conselheiro da Sedufsm, Adriano Figueiró, lembrou da criação de cursos sobre os quais não se tinha sequer informações básicas, mas que eram solicitados mesmo assim para, apenas posteriormente, serem detalhados.
Somando ao debate, a professora aposentada da UFSM, Maria Beatriz Carnieluti, apontou que há, nesse processo, também uma parcela de responsabilidade da própria categoria docente. Para a professora, a “cultura de não fiscalizar” permitiu e permite que empresas ganhem as licitações, entreguem as obras com uma série de problemas e não seja feita uma conferência ou cobrança maior por parte da própria universidade. Nessa mesma linha, o professor Adriano Figueiró destacou a falta de conhecimento do movimento docente sobre detalhes importantes da própria gestão pública. “O que a gente entende da lei de licitações?”, indagou Adriano, defendendo que esse desconhecimento é central para que obras precarizadas ocorram em todo o país.
O futuro
E se o passado é de muita resistência, o futuro, segundo a roda de conversa dessa segunda, também não deve ser de muita calmaria. Pelo contrário. Tudo isso se intensifica agora, com a ofensiva de precarização promovida pelo governo Temer. “Nós temos uma situação precária, que é dada de um mal planejamento e que agora se agrava perante a conjuntura de cortes”, destacou Luciano Miranda. Nesse mesmo sentido, diversas foram as falas que lembraram todas as pautas presentes na greve de 2012 e que seguem na agenda de reivindicações docentes até hoje. Para o presidente da Sedufsm, Júlio Quevedo, essa é uma situação sintomática, visto que a greve de 2012 foi suspensa exclusivamente porque o Proifes, braço sindical do governo federal na época, encenou um acordo supostamente representando a categoria. Para o vice-presidente da Sedufsm, João Carlos Gilli Martins, todo esse cenário atende exatamente ao planejado, afinal, esse é o projeto capitalista para as universidades públicas. E é aí que se apresenta uma grande tarefa, segundo Gilli: se a greve de 2012 se debruçou quase que majoritariamente sobre a defesa da universidade pública, gratuita, de qualidade, agora o momento é de avanço. Conforme concluiu o professor, a tarefa é lutar e defender o que temos, mas construir um novo projeto de universidade.
Agendas de 2017
A atividade dessa segunda também marcou a entrega dos primeiros exemplares da agenda da Sedufsm de 2017. Seguindo os modelos anteriores de livro agenda – com fatos históricos a cada dia do ano – o brinde deve ser retirado pelos sindicalizados na sede do sindicato, na Rua André Marques, 665, de segunda a sexta em horário comercial.
Confira aqui mais fotos da atividade de aniversário da Sedufsm.
Texto e fotos: Rafael Balbueno
Assessoria de imprensa da Sedufsm