A fábula do sapato e a representatividade política SVG: calendario Publicada em 21/08/2024 SVG: views 1776 Visualizações

“Nada melhor do que um sonho para criar o futuro”.

(Victor Hugo)

Uma indústria brasileira cogitava desenvolver um projeto de exportação de sapatos para a Índia. Para isso, enviou dois de seus principais consultores a pontos diferentes do país para fazer as primeiras observações do potencial daquele futuro mercado. Depois de alguns dias de pesquisas, um dos consultores (conhecido por ser muito prudente e moderado) enviou um e-mail à direção da empresa com um parecer incisivo: “Senhores, cancelem o projeto de exportação de calçados para Índia. Aqui ninguém usa sapatos!”.

Sem saber desse e-mail, o segundo consultor (visto como ousado e arrojado por muitos da empresa) enviou seu parecer: “Senhores, tripliquem o projeto de exportação de calçados para Índia. Aqui ninguém usa sapatos ainda!

Moral da História: Uma mesma situação pode ser um obstáculo para uns, enquanto é uma rara oportunidade para outros”.

(Fábula do vendedor de sapatos)

O impacto da fábula do vendedor de sapatos

Lembrei da fábula acima citada em cursos e palestras motivacionais e amplamente divulgada por “influencers e coachs bem sucedidos” (para alguns destes, o passo seguinte ao sucesso é a carreira de agente público).

De todo modo, a narrativa serve para ilustrar que não há ser humano que não construa sua realidade através de imagens. Sem elas é quase impossível o relacionamento com o mundo exterior.

Cada ser humano tem uma impressão do universo à sua volta e isso chamamos de “visão de mundo”. Quer dizer, um mesmo fenômeno pode ser compreendido de formas diferentes e reconhecido através de diferentes perspectivas. A imagem da realidade está intimamente ligada também ao nosso estado de espírito, à nossa disposição para alcançarmos determinados objetivos. O escritor Bernard Shaw dizia que “as pessoas que vencem neste mundo são as que procuram circunstâncias de que precisam e, quando não as encontram, as criam”.

Em um mundo no qual abalos, incertezas e crises pode ser o “novo normal”, precisamos de lideranças competentes e responsáveis que auxiliem as populações a se tornarem mais resilientes, equitativas e bem preparadas para confrontar com inevitáveis desequilíbrios.

Eleições municipais no Brasil

Ao longo da história, ao redor do mundo, tomamos conhecimento da diversidade de cidades atingidas por conflitos internos, guerras e desastres naturais devastadores que saíram mais fortes e confiantes destas tormentas graças ao empenho e determinação de seus governantes e a capacidade de superação das pessoas em circunstâncias excepcionais.  Vidas são salvas quando os problemas não ficam ocultos e os cidadãos são comunicados, instruídos, alertados, capacitados para enfrentar o que está por acontecer. As pessoas não podem ficar alienadas, desprotegidas e/ou esquecidas pelas autoridades.

No Brasil, neste ano, teremos eleições municipais. Não é segredo para ninguém a situação lamentável em que se encontram a maior parte das cidades brasileiras expostas as inúmeras vulnerabilidades dos sistemas urbanos (transporte, habitação, segurança, saúde, educação, meio ambiente, desemprego, assistência social, entre outros).

Os (as) candidatos (as) a prefeitos (as) e vereadores (as) já foram lançados (as) e oficializados (as) pelos partidos e já povoam a mídia desafiando o imaginário dos eleitores.

Quem escolher? Escolher bem, muito bem o agente público é fundamental para o nosso município?

A resposta é simples: sobrevivência. O desenvolvimento da nossa cidade é questão de sobrevivência para cada um de nós, homens, mulheres, crianças, jovens e velhos. O que esperamos dos candidatos são metas, planos e projetos que representem os interesses da população. Tudo deve ser expresso de forma clara e de fácil compreensão para todas as camadas da população entenderem a importância delas.

E você, eleitor, conhece as atribuições de um vereador e de um prefeito para reivindicar e cobrar o cumprimento deles caso sejam eleitos? Quais as propostas dos candidatos para merecerem o seu voto? E o mais importante o que esperamos que eles apresentem a nós, eleitores, diante dos significativos problemas pelas quais a nossa cidade passa?

a) propostas adequadas e concretas de curto, médio e longo prazo;

b) planejamento detalhado e clareza na captação de recursos (repasses federais, estaduais ou parcerias público-privadas);

c) intervenções inovadoras e que possam beneficiar múltiplos grupos;

d) É necessário também que reúnam uma equipe multidisciplinar de especialistas e profissionais principalmente da área de desenvolvimento urbano (não se admite mais planos de governo sem o embasamento técnico e qualificado); 

e) propostas viáveis e básicas para a saúde, desenvolvimento socioeconômico, infraestrutura e mobilidade urbana, segurança, esporte e lazer, educação, meio ambiente, emergências climáticas e saúde, bem-estar animal, cultura, turismo e inovação, inclusão, desenvolvimento social e diversidades.

Mensagem final

Por fim, cabe a nós, eleitores, conhecer os perfis dos candidatos, acompanhar e comparar as propostas dos mesmos e buscar enxergar o que cada um deles pode oferecer e - já ofereceu - a nossa cidade. O amadurecimento da cidadania e da democracia representativa está ligado a não escolher candidatos que prometem projetos inexequíveis, irrealizáveis, inconstitucionais, confusos, vagos e imprecisos.

Precisamos de representantes idealistas, sonhadores que “enxerguem” a realidade da comunidade e as deficiências em segurança pública, saúde, emprego, transportes, educação.

Sobre o(a) autor(a)

SVG: autor Por José Renato Ferraz da Silveira
Professor do departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSM

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