Descriminalização do aborto aprovada no 34º Congresso
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28/02/15 08h11m
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Decisão foi tomada pela quase totalidade dos participantes do
Em meio a muitos aplausos, os participantes do 34º Congresso do ANDES-SN saudaram a aprovação, na tarde desta sexta, 27, de uma decisão histórica: o apoio à descriminalização do aborto. Algumas professoras presentes, durante o debate sobre a proposição, destacaram que há muito tempo esperavam um amadurecimento dos militantes do sindicato para que se conseguisse chegar à compreensão da importância desse tema para as mulheres. A deliberação se deu em meio ao debate dos textos que compunham o tema 2- Políticas sociais e plano geral de lutas- na abordagem específica de pontos relacionados à classe, etnia, gênero e diversidade sexual.
Maria Celeste Landerdahl, docente do curso de Enfermagem da UFSM, diretora da Sedufsm e delegada no 34º Congresso, disse que ficou “positivamente surpresa” com a decisão. Para ela, é importante que os professores universitários tenham a consciência de que a questão do aborto não deve ser caso de polícia, mas sim um tema de saúde pública.
Conforme Maria Celeste, devido à ilegalidade imposta pelo Estado, muitas mulheres morrem por quadro hemorrágico ou por infecção em função de abortos clandestinos. Ela vai além e registra: em Santa Maria, mesmo nos casos de abortos legais (previstos em lei), as mulheres não podem fazê-lo, precisam ir a Porto Alegre ou Caxias do Sul, pois médicos alegam cláusula de consciência para não realizar esses procedimentos.
Para a diretora da Sedufsm, é preciso também fazer algumas desmistificações. Uma delas é de que descriminalizar o aborto seria incentivar a prática. “Posso ser contra o aborto, mas ser a favor da descriminalização”, frisou Maria Celeste. O fundamental, na visão dela, é que enquanto o aborto for crime, as mulheres continuarão sendo discriminadas e criminalizadas. Já as instituições de saúde públicas continuarão desaparelhadas para dar a assistência necessária.
Maria Celeste conta que, em muitas situações, hoje, a mulher chega em um hospital público necessitando de atendimento para um caso de aborto, mas acaba sendo deixada esperando, com dores, até que seja feita a “curetagem”. Certamente, diz ela, como uma forma de “punição”.
Tabu
Quem também ficou feliz com a decisão do 34º Congresso foi a professora Adriana Zecca, delegada da Sedufsm, e lotada no Cesnors, em Frederico Westphalen. Ela destaca que não é a favor do aborto, mas que sempre foi favorável à descriminalização, possibilitando que as mulheres possam ser melhores assistidas pelo Estado e, ao mesmo tempo, deixem de ser tratadas de forma discriminatória.
Adriana, que é nascida na Argentina, comenta também que vê um conservadorismo cultural no Brasil, que tornam determinados temas como uma espécie de tabu, evitando que possam ser discutidos de forma mais aberta e menos preconceituosa.
Relação de posse
Marcelo Vieira, professor da área de Educação da UFSM e delegado da Sedufsm no 34º Congresso, aceitou a ‘provocação’ feita por algumas delegadas no evento, e foi até o microfone da plenária desta sexta à tarde para expressar seu ponto de vista favorável à questão da descriminalização do aborto.
Segundo ele, a decisão congressual demonstrou um importante acúmulo de discussão. Para Vieira, os homens não podem se isentar nesse tema, não só porque eles são os que engravidam as mulheres, mas pela questão de companheirismo. “Não é fácil para nenhuma mulher dizer que vai assumir o aborto, pois muitas vezes pode resultar em traumas. Também não e fácil em função da sociedade, que coloca cargas de culpa pelo ato que a mulher pratica”.
Para o professor, existe na sociedade uma relação de posse do homem para com a mulher, mas que essa é uma forma de pensar que precisa ser combatida, assim como se combate a propriedade privada. Para Vieira, “precisamos nos posicionar de forma mais contundente na sociedade. Temos que sair de dogmas religiosos e de discursos dogmáticos”.
Texto: Fritz R. Nunes
Fotos: Fritz R. Nunes e Bruna Homrich
Assessoria de imprensa da Sedufsm