Declaração do titular do MEC de que “universidade seria para poucos” gera protestos
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Atualizada em
13/08/21 16h10m
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ANDES-SN divulga repúdio e presidenta da Sedufsm diz que ataque de Milton Ribeiro é ideológico
Na última segunda, 9 de agosto, o Ministro da Educação, Milton Ribeiro, em declaração ao programa “Sem Censura” (da rede estatal/EBC), entre outras declarações afirmou que “universidade, na verdade, ela deveria ser para poucos nesse sentido de ser útil à sociedade.” Esse tipo de afirmação foi recebida com indignação e repúdio pela comunidade universitária do país.
Em nota, o Sindicato Nacional dos Docentes (ANDES-SN) avaliou que a “entrevista desastrosa do ministro, no programa da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), demonstra o total despreparo de Ribeiro para o cargo que ocupa, seu desconhecimento da universidade pública e aponta, ainda, o visão neoliberal meritocrática que impregna o governo e o MEC.
Para a presidenta da Sedufsm, professora Laura Regina da Fonseca (foto abaixo), as declarações do ministro “expressam mais do que mero despreparo para o cargo que ocupa”. Ela aponta um desconhecimento da realidade brasileira e suas demandas por educação superior por parte de Milton Ribeiro. “As declarações manifestadas têm cunho ideológico classista, enraizadas no ideário da divisão sociotécnica do trabalho que reproduz elites e desigualdades educacionais”, diz Laura.
A dirigente complementa: “Essa ideologia, bastante promovida no contexto das primeiras quatro décadas do século XX, justifica um tipo de saber acadêmico para alguns, consequentemente os mais bem remunerados e articuladores da ideologia das elites, e um tipo de formação tecnicista e dependente dos ‘melhores’ e dos processos da produção capitalista”.
Além da postura elitista sobre quem deve ter acesso ao ensino superior público, o responsável pelo MEC afirmou também que “Respeitosamente, vejo que alguns deles optaram por visão de um mundo à esquerda, socialistas…”, em referência às reitoras e aos reitores das universidades públicas. Na avaliação do Sindicato Nacional, “essa afirmação mentirosa e enviesada mostra que o ministro pouco conhece das universidades públicas no Brasil e traz uma grande carga de preconceito com relação a essas instituições”.
Diz o texto do ANDES-SN que “o conhecimento produzido nas universidades, institutos e CEFETs sempre foi, e será importante para a nossa sociedade, exemplo disso é o que foi feito durante toda a pandemia que estamos vivendo, com pesquisas em vacinas, testes e medicações, além de atendimento direto à população nos diversos Hospitais Universitários”.
Conforme a diretoria do Sindicato Nacional, essa postura, além de preconceituosa, serve para tentar desqualificar essas instituições e criar uma cortina de fumaça, enquanto o governo de Jair Bolsonaro continua imponto a agenda de desmontes do grande Capital, através de reformas destrutivas, como a reintrodução do “Reuni digital”.
Ideias que sustentam a desigualdade
Laura Fonseca acredita que as declarações do “despreparado” ministro têm mais preparo do que aparentemente se interpreta. Para a dirigente da Sedufsm, a fala ministerial “espelha ideias que sustentam a desigualdade na Educação e no Trabalho, a partir da concepção de Universidade para ‘poucos’. E, levando em conta a redução dos orçamentos das IFEs, durante o nefasto governo de Bolsonaro, certamente a (des) gestão do ministério da educação trabalha para impor uma Educação Superior Mínima. Não é despreparo para o cargo, é ideologia de classe, baseada na naturalização das desigualdades sociais e da perversa tirania da dominação de poucos sobre muitos”, frisa Laura.
Ainda na nota do ANDES-SN, o repúdio às afirmações do ministro da Educação e um alerta: “o objetivo do ministro e do governo Bolsonaro-Mourão é destruir as conquistas da Constituição Federal de 1988, por um lado, asfixiando financeiramente as instituições de educação para promover a privatização, e por outro, atacar o artigo 207 da CF, que garante a autonomia pedagógica, financeira e administrativa às universidades, dessa forma, tentando destruir, tal como nos governos totalitários nazista e fascista, o cerne da universidade: a liberdade para ensinar, realizar pesquisa e promover a extensão universitária”.
Confira aqui a íntegra da nota.
Texto: Fritz R. Nunes com informações do ANDES-SN
Imagens: EBC e Arquivo pessoal
Assessoria de imprensa da Sedufsm