Desde o golpe de 2016, Brasil vive falta de legitimidade internacional
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Atualizada em
02/09/21 14h22m
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Bruno Hendler, docente do departamento de Relações Internacionais da UFSM, analisa as reviravoltas da política brasileira
Com Temer, que assumiu logo após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, o Brasil já começou a ver sua legitimidade internacional ser fragilizada. A partir da chegada de Bolsonaro e de seu alinhamento deliberado a países governados por grupos da extrema-direita – hoje, em sua maioria, já depostos pelo voto popular -, nossa imagem internacional entrou num movimento de declínio acelerado. Expressão disso seria o isolamento reservado ao Brasil no consórcio para a compra da vacina Covaxin, no qual o país ingressou com uma parcela bastante pequena.
Essa foi parte da análise trazida pelo docente do departamento de Relações Internacionais da UFSM, Bruno Hendler, na 39ª edição do ‘Ponto de Pauta’, programa de entrevistas da Sedufsm. Ao abordar alguns episódios das disputas políticas que marcam a atualidade, a exemplo da derrota da PEC do voto impresso e do papel das Forças Armadas para o fortalecimento ou penalização da democracia, o docente também projeta algumas perspectivas para o cenário eleitoral de 2022 – sem, contudo, apresentar qualquer análise fechada, já que seria ousar demais em se tratando do Brasil recente.
O papel dos militares
Num passado bastante recente, especialmente nos governos de Lula e Dilma, as Forças Armadas brasileiras cumprirem tarefas fundamentais, como assumir parte nas negociações com as FARC na Colômbia ou mesmo liderar a missão de paz da ONU no Haiti. “Os militares tiveram um papel importante na história recente do Brasil, mas atuando como militares. Qualquer país que busque algum respaldo internacional precisa ter Forças Armadas. Então a crítica que temos de fazer não é à existência delas, mas é a partir do momento em que elas saem dos quartéis para exercer outras funções”, explica Hendler.
Ocorre que, com Bolsonaro, passou a ocorrer um desembarque massivo dos militares no Executivo, pondera o docente, lembrando que, diferentemente dos Estados Unidos, onde o chefe das Forças Armadas negou alinhamento político com Donald Trump, no Brasil o alinhamento entre exército e presidente tem sido praticamente automático. “Há dissidências, e a principal é o general Santos Cruz, que tem sido escanteado por falar que os militares devem permanecer no quadrado deles”, comenta.
Eleições 2022
Embora seja difícil fazer um exercício de adivinhação, tendo em vista as reviravoltas e ‘viradas de mesa’ que marcam a política brasileira, Hendler acredita que, ao contrário da grande maioria dos ex-presidentes brasileiros, Bolsonaro não alcança a reeleição em 2022. E muito disso se deve, na análise do docente, ao fato de o governo ter se agarrado até o último momento ao negacionismo, à secundarização da vacina e à sinalização da cloroquina como solução para o fim da pandemia.
“O fracasso em lidar com a pandemia, aliado ao fracasso da retomada econômica do Brasil e à CPI da Covid, que tem desidratado a popularidade de Bolsonaro, indicam que ele não ganha uma eleição em 2022. O problema é se ele vai buscar outra alternativa para inviabilizar a transição democrática”, pondera Hendler.
Acompanhe a íntegra da entrevista abaixo ou em nosso canal do Youtube:
Texto e print: Bruna Homrich
Assessoria de Imprensa da Sedufsm