Inquietude, conscientização e esperança eram compromissos de Freire, diz docente
Publicada em
22/09/21
Atualizada em
22/09/21 17h21m
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Celso Henz foi o segundo convidado da série de entrevistas em homenagem ao centenário do educador brasileiro

“Ao contrário de uma postura acomodada diante dos desafios, assumia uma postura curiosa e esperançosa. A primeira experiência que mexeu com Freire, que o incomodou e chegou até sua ainda incipiente consciência, o desafiou a não se acomodar, mas a se inquietar curiosamente para ir construindo alternativas nos diferentes lugares e com as diferentes gentes com as quais ele andarilhou”, comentou Celso Henz, docente do departamento de Administração Escolar da UFSM, durante sua participação no Ponto de Pauta, programa de entrevistas da Sedufsm. Na citação acima, Henz referia-se à infância humilde do educador pernambucano, cujo centenário foi completo no último domingo, 19 de setembro.
Para o docente, existem alguns elementos centrais na práxis freiriana, a exemplo do inacabamento, da dialogicidade, da conscientização, da autonomia, da utopia e da esperança.
Enquanto o inacabamento é a ideia de que nós, seres humanos, estamos em constante aprendizado e evolução, e de que o mundo, tal como o conhecemos, deve ser desnaturalizado pois não é o único possível, a ideia da dialogicidade vem para mostrar que é a partir da linguagem e do diálogo com o outro que podemos fazer erigir novas relações.
“Só nos humanizamos na e pela linguagem. E a autêntica linguagem é o diálogo, que requer a escuta atenta, o olhar sensível para o outro, reconhecendo-o(a) na sua especificidade e na sua história, ainda que nem sempre concordemos com as concepções que essa pessoa nos apresenta”, explica Henz.
A partir do diálogo e da linguagem vai se manifestando, também, um dos aspectos mais desenvolvidos por Freire: a conscientização que emerge do reconhecimento de que somos seres oprimidos mas também inacabados, de forma que se torna possível (e imperativo) construirmos novas possibilidades.
Conscientes, “todos podem ter condições de dizerem a sua palavra e, com essa palavra, se empoderarem e tomarem nas mãos a sua própria historia, para deixarem de ser sombra de outros sujeitos, tornando-se sujeitos de si mesmos”, complementa o docente, estudioso das contribuições de Freire.
Quanto à utopia e à esperança, sem elas não se faz história, destaca Henz, que também comenta sobre a importância da autonomia na práxis freiriana.
“A autonomia para Freire implica na questão da autoria. Não há autonomia sem autoria. E não há autoria sem liberdade e sem inserir-se em diferentes grupos sociais assumindo posicionamentos, independentemente de com quem se está interagindo ou dialogando”, ressalva o docente.
E, sobre aqueles que hoje acusam Freire de doutrinador, tentando retirar dele o título de patrono da Educação brasileira e propondo projetos persecutórios aos docentes, como a ‘Escola sem Partido’, Henz diz que, contraditoriamente, quem mais o acusa, é quem mais visa doutrinar.
“Querem formatar um modelo de pessoas, de consciências e corpos. Mas essas mesmas pessoas não querem essa educação performativa para seus filhos e filhas. Querem-na para filhos e filhas das classes empobrecidas, para que se mantenham submissas, silenciadas e manipuláveis”.
A 43ª edição do Ponto de Pauta pode ser vista, na íntegra, abaixo ou em nosso canal do Youtube. Em virtude do centenário de Freire, foi colocada na rua uma série de 'Pontos de Pauta' sobre os fundamentos da pedagogia, da práxis e do legado freiriano. Quem inaugurou essa série de entrevistas foi a professora do departamento de Fundamentos da Educação da UFSM, Márcia Paixão.
Texto: Bruna Homrich
Arte: Rafael Balbueno
Assessoria de Imprensa da Sedufsm
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