15 anos da UFSM em Palmeira e Frederico: expansão que impactou milhares de vidas SVG: calendario Publicada em 22/10/21 15h16m
SVG: atualizacao Atualizada em 22/10/21 18h19m
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Docentes, atuais e ex-dirigentes dos campi relembram dificuldades iniciais e comentam os desafios reservados à multicampia

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Campus da UFSM em Palmeira das Missões

Em 16 de outubro de 2006, quando a UFSM inaugurava o Centro de Educação Superior Norte-RS (Cesnors), a reduzida comunidade que acompanhava a instalação dos campi em Frederico Westphalen e Palmeira das Missões ajudava, literalmente, a organizar as edificações que abrigariam as atividades descentralizadas. É o que partilha Edison Cantarelli, docente do departamento de Engenharia Florestal da UFSM em Frederico Westphalen, que acompanhou a unidade desde seu surgimento.

“O grupo era bastante reduzido, lembro que fazíamos desde a limpeza das salas até o acompanhamento das obras. Inicialmente utilizamos a estrutura do então Colégio Agrícola, que possibilitou ir utilizando as áreas em construção de forma gradativa. O sentimento era de uma grande vontade de proporcionar à região uma mesma qualidade de ensino que na UFSM [sede] em Santa Maria”, contou Cantarelli.

Há 15 anos, o imperativo era, sobretudo, a esperança. Conforme lembra a atual vice-diretora do campus de Frederico Westphalen, Eliane dos Santos, a chegada da UFSM naquela cidade representou novas perspectivas de desenvolvimento social, econômico e cultural.

“O sentimento da população local era de muita esperança em ter uma universidade pública na cidade de Frederico. O que parecia um sonho tornou-se realidade graças aos esforços da comunidade local e regional e também da própria universidade em entender a importância de levar o ensino público para outras regiões no interior do estado. Para a UFSM representou ampliar a sua atuação educacional e criar novas oportunidades para que mais jovens tivessem acesso ao ensino superior”, comenta a docente.

Braulio Caron, diretor atual do campus Frederico, também destacou os anseios, alimentados à época, de que a interiorização da universidade trouxesse possibilidades de desenvolvimento para a região. E, hoje, tais possibilidades vêm se mostrando reais.

“A UFSM é, por natureza, interiorana e ao longo do tempo vem demonstrando esta característica. Nossa relação com a comunidade regional é positiva, visto a inserção do campus UFSM-FW seja através dos projetos de pesquisa e extensão existentes, bem como dos profissionais que vêm se colocando no campo de trabalho das diferentes áreas”, argumentou o dirigente.

*UFSM-PM recebe Diploma de Honra ao Mérito da Câmara de Vereadores de Palmeira das Missões

No último sábado, 16 de outubro de 2021, os campi da UFSM em Frederico Westphalen e Palmeira das Missões completaram 15 anos. Devido à ocasião, a Câmara de Vereadores de Palmeira das Missões entregou à UFSM-PM, em sessão solene realizada na última segunda, 18, o Diploma de Honra ao Mérito pelas contribuições da universidade ao desenvolvimento regional. Em Frederico Westphalen, a direção do campus recebeu, em nome da instituição, uma homenagem de representantes do Sicredi Alto Uruguai.

*UFSM-FW recebe homenagem do Sicredi Alto Uruguai RS/SC/MG

Uma conquista da mobilização

Leonardo Botega, diretor da Sedufsm e hoje docente do Colégio Politécnico da UFSM, começou sua trajetória na instituição como professor do Colégio Agrícola de Frederico. Ele lembra que a implantação dos campi foi fruto da mobilização encampada pela comunidade do Alto Uruguai, que reivindicava o direito de acesso a uma universidade pública, gratuita e de qualidade.

“Nessa luta se destacou a figura do professor Lauro Chielle, aposentado do CAFW, cuja liderança foi fundamental para o que era um projeto distante se tornasse realidade. Hoje, vendo aqueles campi consolidados e qualificando a região, podemos afirmar que a união entre a intelectualidade e a comunidade é um fator primordial para o desenvolvimento. Muitos estudantes e muitas famílias só tiveram acesso ao Ensino Superior público graças a esta união. Os campi de Palmeira das Missões e Frederico Westphalen representam um paradigma de Universidade Pública ligada às comunidades”, avalia o dirigente da Sedufsm.

Aliada à luta das comunidades locais, existia, na esfera governamental, uma estratégia de expansão e interiorização das universidades públicas. Tendo por objetivo central a ampliação do acesso ao ensino superior público e uma maior oferta de oportunidades para filhas e filhos de trabalhadores(as) urbanos(as) e rurais, tal estratégia mostrou-se acertada, levando a um maior intercâmbio social, econômico e cultural entre o interior e diversas regiões do país.

“O processo de interiorização das universidades públicas brasileiras é fruto de uma política de governo do presidente Lula, que tinha como objetivo ampliar o acesso ao ensino superior público no país. Então os campi de Palmeira das Missões e de Frederico Westphalen, que inicialmente surgem como um centro único, vêm nesse sentido. E nos municípios em que se instalou, a universidade mudou significativamente a caracterização e dinâmica dos territórios, com a chegada de professores, técnicos e, especialmente, de estudantes que vinham [e vêm] de várias regiões do país. O Reuni e o SiSu possibilitaram que Palmeira das Missões e Frederico Westphalen pudessem interagir com estudantes de outros lugares do território nacional, ampliando possibilidades de cultura e convivência entre diferentes percepções de mundo e realidades sociais, econômicas, políticas e culturais”, avalia Teresinha Weiller, diretora da Sedufsm.

Dificuldades estruturais

*Campus da UFSM em Frederico Westphalen

Essas eram os principais obstáculos quando da criação dos campi descentralizados. Edison Cantarelli frisa que, devido ao fato de o campus de Frederico estar localizado no interior do município, o acesso à internet, energia elétrica e abastecimento de água era bastante precário. Hoje, superadas essas dificuldades de primeira ordem, o docente vê como desafios “aumentar a demanda de estudantes e dar condições para que eles permaneçam de forma integral na instituição”.

Outras dificuldades encontradas no processo de implantação do campus de Frederico e citadas por Eliane dos Santos diziam respeito à edificação do campus, à organização dos concursos para contratação de servidores, à estruturação dos cursos de graduação, ao estabelecimento dos primeiros contatos com a comunidade local para fortalecer os laços, e à distância física entre Frederico e a sede da UFSM em Santa Maria.

Embora os campi descentralizados não enfrentem mais as mesmas dificuldades estruturais observadas há alguns anos, o cenário de contingenciamento orçamentário imposto pelo governo às universidades desafia o desenvolvimento e o avanço da interiorização.

“Hoje, temos novos desafios como cortes orçamentários bastante severos, o cenário imposto pela pandemia, a adaptação para as novas tendências de mercado, a inserção das tecnologias nas metodologias de ensino, etc. A comunidade Frederiquense abraçou a UFSM/FW com muito carinho, por entender a importância de estarmos aqui atuando com ensino de excelência e contribuindo para o desenvolvimento local e regional, pois através da educação podemos quebrar os ciclos de desigualdades, de pobreza, de preconceito e de intolerância e assim, fortalecer os pilares que levam à justiça social”, diz Eliane.

O aperto de cintos que tem ameaçado não só a expansão, mas mesmo a manutenção das universidades, vem ficando cada vez mais cruel nos últimos anos. Teresinha associa esse cenário de maior escassez de recursos à aprovação, em 2016, ainda no governo de Michel Temer, da Emenda Constitucional 95 (antiga PEC do Teto de Gastos), que congelou os investimentos sociais por vinte anos.

“Penso que o grande desafio que temos nesse momento é garantir a própria existência da universidade pública, que corre riscos na medida em que, a cada ano, temos uma restrição orçamentária maior, e isso tem impacto no cotidiano da universidade e também na dificuldade de ampliação de programas de graduação e de oferta de vagas para docentes e técnico-administrativos – oferta essa importante para que se viabilize efetivamente o princípio constitucional de acesso universal à educação pública”, preocupa-se a dirigente da Sedufsm, destacando que a política de expansão e interiorização das universidades, originalmente surgida como uma política de governo, não alçou o lugar de política de Estado, o que também agudiza as dificuldades de manutenção das unidades anteriormente inauguradas.

E a EC 95, complementa Teresinha, vem na mesma esteira de outros projetos e medidas que visam a desmontar o Estado brasileiro, seus serviços públicos e, por consequência, as universidades. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 32 é o exemplo mais recente e mais brutal.

“Essas medidas vão retirando não só o financiamento, mas também descaracterizam o serviço público, em especial a universidade pública, na medida em que a maioria dos seus serviços passariam a ser terceirizados e, portanto, sujeitos a todo tipo de influência e interesses que não necessariamente os republicanos", conclui a docente. 

Universidade e comunidade: uma relação de fortalecimento mútuo

*Campus da UFSM em Palmeira das Missões

Quanto mais a universidade participa da comunidade, mais a comunidade começa a demandar ações por parte da instituição. Quem faz essa observação é Rafael Lazzari, docente do departamento de Zootecnia e Ciências Biológicas da UFSM em Palmeira das Missões. “A relação com a comunidade é sempre desafiadora. A comunidade regional aqui abraça bastante a UFSM. E essa relação é um dos grandes papeis da universidade, principalmente nos municípios fora da sede, porque observamos muitas demandas por formação e muitos jovens que são os primeiros daquelas famílias a realizarem curso superior”, destaca o docente, que já foi diretor do campus de PM.

Ele lembra que, há 15 anos, o campus experimentou desafios os mais diversos, especialmente ligados a questões infraestruturais, de acessibilidade à internet e de aumento de pessoal (docentes e técnico-administrativos em educação). Ainda que hoje muitos desses gargalos tenham sido superados, a demanda por recursos humanos ainda é bastante presente, tendo em vista que o campus desenvolve diversos projetos de pesquisa e de extensão com a comunidade local.

“Estamos criando cursos de pós-graduação. Já temos o Programa de Pós-Graduação em Agronegócios Stricto Sensu em andamento, e iniciamos, esse ano, o Programa de Pós-Graduação em Saúde e Ruralidade. Então são dois mestrados e isso aumenta a carga horária dos professores e as demandas por orientação e projetos. O grande desafio, do ponto de vista geral, é conseguirmos cada vez mais qualificar nossos cursos. Com o esforço dos docentes e técnicos, conseguimos ter bons resultados, mas ainda temos demanda por recursos humanos”, explica Lazzari, lembrando que, ano passado, o curso de Zootecnia da UFSM em Palmeira das Missões recebeu o conceito máximo (5) após avaliação do Inep.

Alguns exemplos de projetos desenvolvidos pela UFSM com a comunidade de Palmeira das Missões e região são participações em comissões diversas e uma relação muito forte com a Associação dos Municípios da Zona da Produção (AMZOP), o que tornou possível a implementação dos testes para detecção da Covid-19.

*Participação da UFSM no Plano de Mobilidade Urbana de Palmeira das Missões e em atividades do "Maio Amarelo", destinado a alertar para o alto índice de mortes e feridos no trânsito.

“Temos projetos com a incubadora social da UFSM, com catadores, com comissões diversas no agro, nas ciências ambientais, nas ciências sociais, na saúde. Temos aqui em Palmeira das Missões agora a construção do hospital público regional, e a UFSM tem participado de forma decisiva na concepção do projeto. Fizemos também um programa, em parceira com a Pró-Reitoria de Extensão, de financiamento de projetos específicos vinculados às demandas do Conselho Regional de Desenvolvimento. Mas, para ampliarmos as ações, temos de ter investimentos”, assegura Lazzari.

Nestes 15 anos, segundo o ex-diretor, o campus de Palmeira já formou mais de 1.600 estudantes.

Desenvolvimento regional

Eliane dos Santos cita um estudo, realizado por pesquisadores da UFSM (DUTELL, D. G., OLIVEIRA, A. T., MUNARETTO, L. F.; 2019), que aponta os estudantes do campus de Frederico Westphalen – e suas movimentações – como responsáveis por injetar um montante mensal de R$ 696.192,04 na economia local. 

“Além disso, podemos destacar que ao longo desses 15 anos graduaram-se mais de 1550 estudantes nos 06 cursos de graduação presencial e dois cursos de graduação na modalidade EAD, sendo que muitos destes atuam no mercado de trabalho na cidade de Frederico e região. Desenvolvemos mais de 1000 projetos entre ensino, pesquisa e extensão, os quais beneficiaram centenas de pessoas nas diversas áreas do conhecimento”, complementa.

Retomando as condições de surgimento do campus de Frederico e projetando desafios, Braulio Caron salienta que “a implantação é demorada e nem sempre na velocidade desejada. Hoje continuamos a alimentar as expectativas de jovens em busca de dias melhores. Consolidar o que existe bem como manter a estrutura, buscando divulgar a UFSM-FW para a região e país”.

Um dos tripés básicos da universidade pública, a extensão tende a ser ainda mais fortalecida nos campi descentralizados no próximo período. É no que aposta Edison Cantarelli, quando diz acreditar que a relação com a comunidade local será significativamente ampliada nos anos posteriores, com tentativas de direcionamento do perfil dos egressos para que contemplem as características regionais.

“Inicialmente, fomos nos adaptando a algumas situações do cotidiano, normais de uma cidade pequena do interior. A cidade é muito boa para viver com tranquilidade e acho que essa relação depende muito de cada um. Estamos em momento em que as universidades vão precisar fazer mais extensão universitária e a comunidade precisa muito da nossa colaboração”, comenta.

*Professor Edison Cantarelli (à dir.) e o técnico de laboratório Anderson Anderson Webler desenvolvem projeto em viveiro da UFSM-FW 

Muitos dos jovens de Palmeira e Frederico tiveram, na descentralização da UFSM, a primeira oportunidade de acesso ao ensino superior público.

“Por fim, dizer que após 15 anos e acompanhar todo o ciclo de criação dos dois campi de Frederico Westphalen e Palmeira das Missões, temos a total tranquilidade para afirmar que a UFSM fez e continua fazendo muita diferença na vida das pessoas da região. Mudou a vida de muitos jovens que até então não tinham expectativas de ter um ensino superior gratuito. Hoje temos inúmeros exemplos de ex-alunos que superaram as dificuldades iniciais e estão ocupando grandes cargos acadêmicos e empresariais em todo o país. Isso é um orgulho muito grande para nós”, conclui Cantarelli.

Para Teresinha Weiller, a descentralização revelou-se um projeto de grande sucesso e, por isso, hoje é tão combatida pelos opositores ao projeto de expansão da universidade pública – que preferem defender, no lugar da democratização, o acesso à universidade somente por uma elite. 

“Por isso nossos opositores dizem todos os dias que somos ineficientes, que custamos muito para a máquina pública e, portanto, como diz nosso ministro, que quem deve estudar é quem pode pagar. E o projeto do qual Palmeira das Missões e Frederico Westphalen são fruto diz justamente o contrário. Os campi são fruto da ampliação da cidadania, da inclusão social e de um projeto civilizatório que poderá contribuir para o desenvolvimento da nação brasileira”, diz a dirigente da Sedufsm.

E, embora sejam os campi de Frederico e Palmeira a comemorarem 15 anos de fundação, Teresinha ainda chama a atenção para o campus da UFSM em Cachoeira do Sul, oficializado em dezembro de 2013, e revelando, dia após dia, “uma vocação tecnológica importante para o desenvolvimento não só da comunidade regional, mas do cenário nacional”.

 

Texto: Bruna Homrich

Imagens: UFSM e Arquivos Pessoais

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

 

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