Bolsonaro quer reverter políticas favoráveis à comunidade LGBTQIA+, avalia militante
Publicada em
03/01/22
Atualizada em
03/01/22 15h56m
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Psicóloga que integra o ‘Coletivo Voe’ analisa desmantelamento de políticas públicas do atual governo
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O quanto a agenda extremista do presidente Jair Bolsonaro, que legitima, através de seu discurso, o ódio e a intolerância, impacta em termos efetivos a população LGBTQIA+? A pergunta foi direcionada à psicóloga Gabriela Quartiero, ainda no mês de dezembro, no programa ‘Ponto de Pauta’ da Sedufsm, que buscava fazer um balanço sobre a atual gestão do Executivo federal.
Para Gabriela, atualmente não existem políticas públicas que atinjam de forma positiva esse segmento. O que vem ocorrendo, na ótica dela, é a retirada de direitos, o desmantelamento de políticas públicas para essa comunidade. O que antes da eleição era discurso retórico, passou a se tornar efetivo com Bolsonaro no poder. “Agora ele não apenas dá voz, mas também defende as pessoas que são machistas, racistas, lgbtfóbicas, que atuam dentro do governo”, frisa a militante do Voe.
No que se refere ao desmantelamento das políticas para a população LGBTQIA+, Gabriela Quartiero destaca que o próprio ministério que responde pela área já parte de uma premissa conservadora. O ministério se chama da Mulher, mas também da Família e dos Direitos Humanos, denominação que está vinculada ao fato de que é comandado por uma pastora evangélica, Damares Alves. Conforme a psicóloga, que também é mestranda na UFSM, o objetivo do ministério não é fazer avançar as políticas públicas existentes, mas revertê-las, desmontá-las.
Um exemplo concreto dessa situação de reversão de direitos é a “extinção da política de HIV/Aids”. Na visão de Gabriela, o Brasil sempre foi um exemplo na política de HIV/Aids para o mundo. “Acabar com essa política e também com a política de redução de danos afeta as pessoas LGBTQIA+”, enfatiza. E complementa: “Podemos afirmar que não existe uma agenda política para essas pessoas. O que existe é uma não política, uma negligência, um não olhar, ou um olhar carregado de preconceito contra essa população”, destaca.
Santa Maria e as mortes trans
Durante a entrevista ao Ponto de Pauta, produzido e apresentado pelo jornalista Rafael Balbueno, Gabriela Quartiero também comentou sobre os reflexos do conservadorismo na cidade de Santa Maria.
Para a psicóloga, a situação de discriminação e intolerância também está bem desenhada em âmbito local. Ela cita o pouco espaço político para que se denunciasse as mortes trans, além da ausência de políticas públicas para evitar o que ocorreu no final de 2019, início de 2020, quando cinco mulheres trans foram assassinadas. “Foram cinco vidas perdidas, não apenas números. Não pode apenas virar estatística”, criticou.
Gabriela entende que “depois dessas mortes, no mínimo, a prefeitura deveria ter feito um trabalho (de esclarecimento) nas ruas. Deveria ter feito um projeto de capacitação para pessoas trans”. A integrante do Voe avalia que “o que mais impacta (na vida das trans) é a falta de segurança”. Segundo Gabriela, as mulheres trans não têm segurança do Estado. Elas mesmo se organizam para poderem se proteger. E ainda são vítimas constante de preconceito. Ela relata que muitas chegam a ser policiadas em lojas, supermercados, têm suas bolsas revistadas, confundidas por mero preconceito como pessoas criminosas.
Após a ocorrência das mortes, defende Gabriela, o debate sobre a segurança dessa população, da vulnerabilidade dessas mulheres, devia ter vindo à tona, o que não ocorreu. Para a militante do Voe, há uma barreira de conservadorismo e intolerância que impede que o debate aconteça. Ela cita como exemplo o projeto de uma vereadora que propunha a diversidade sexual nas escolas, uma iniciativa importante, mas que foi rejeitado pela maioria dos (das) parlamentares municipais.
Veja a seguir a íntegra da entrevista ao Ponto de Pauta:
Texto e imagem (print): Fritz R. Nunes
Assessoria de imprensa da Sedufsm
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