Reitor teme perda de qualidade de serviços da UFSM a partir de novo corte orçamentário SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 28/01/22 18h34m
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Em entrevista à Sedufsm, Luciano Schuch fala também sobre o Peies, inclusão e inovação e a relação com bolsonaristas

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“A previsão é de uma redução de 26% no orçamento que impactará todo o nosso planejamento para o ano de 2022", diz novo reitor

No dia 5 de janeiro, o professor Luciano Schuch foi nomeado oficialmente para o cargo de reitor da UFSM, em uma cerimônia virtual, na qual participou, direto de Brasília, o ministro da Educação, Milton Ribeiro. O titular do MEC viria para a transmissão oficial do cargo, no sábado, 8 de janeiro, mas desistiu de última hora. Coincidentemente, a desistência ocorreu após entidades representativas dos três segmentos da universidade terem anunciado um protesto contra a presença do representante do governo bolsonarista.

Apesar de ser uma administração de continuidade- Luciano Schuch era vice do reitor que saiu, Paulo Burmann- alguns traços políticos parecem distanciar o atual reitor do seu antecessor. Uma dessas posturas diferenciais é a proximidade do atual reitor com apoiadores do governo de Jair Bolsonaro, caracterizado por ser um governo cujos membros criticam acidamente as universidades federais desde 2019, ao mesmo tempo que passam a tesoura sem dó nos recursos dessas instituições.

Em entrevista realizada pela assessoria de imprensa da Sedufsm, o reitor foi questionado sobre a famosa imagem em que ele se deixou fotografar com um quadro em que está a foto do presidente Bolsonaro. Por que essa foto? “Liturgia do cargo”, respondeu Schuch. Mas a situação toda não se resume a essa imagem. Circularam nas redes sociais vídeos com ele rodeado e recebendo elogios de figuras importantes do bolsonarismo, como é o caso do deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS), que, aliás, foi quem primeiro anunciou, por rede social, que Schuch seria nomeado pelo Executivo federal.

Nas questões encaminhadas ao reitor também perguntamos sobre um fato novo, mas que remete ao passado, que é o anúncio, por parte do dirigente da UFSM, de que trará de volta o vestibular e o Programa Especial de Ingresso ao Ensino Superior (Peies), reduzindo a menos da metade as vagas de ingresso pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Luciano Schuch não respondeu diretamente quem reivindica o retorno do Peies/Vestibular, mas argumenta que essa modalidade de ingresso aproximaria a universidade das escolas da região. Enquanto isso, pelos jornais e redes sociais, muitos elogios das entidades empresariais a esse anúncio da gestão.

Independente de elogios feitos por lideranças políticas bolsonaristas à gestão que recém assumiu a reitoria, o dia a dia vai mostrar como fazer para manter-se próximo de um governo que  não parece preocupado com as universidades. Os cortes orçamentários seguem e não há perspectiva de revertê-los, ainda que o professor Luciano Schuch afirme estar “atuando fortemente junto ao governo federal” assim como também a própria Associação dos Dirigentes das Federais (Andifes) estaria agindo.

O reitor, que domina as informações sobre o caixa da UFSM pelo menos desde o final de 2017, quando assumiu a vice-reitoria de Paulo Burmann, parece ter clareza na sua percepção. “A previsão é de uma redução de 26% no orçamento que impactará todo o nosso planejamento para o ano de 2022. Teremos que priorizar reformas, conclusões de obras em andamento e um controle rigoroso nos encargos da Universidade”.

E acrescenta em outro ponto da entrevista: “A redução dos recursos da UFSM prejudica a qualidade dos nossos serviços, reduz-se a quantidade de insumo, a equipe de terceirizados é reduzida cada vez mais, entre outros. É uma grande cadeia que falha e prejudica a jornada pelo conhecimento de mais de 28 mil estudantes, bem como diversos projetos de extensão e pesquisa são adiados.”

Portanto, até mesmo para dar consequência ao projeto da gestão eleita, de compatibilizar inovação com inclusão social, algo mais precisará ser feito além de troca de sorrisos e elogios. Acompanhe a íntegra da entrevista a seguir.

Pergunta- Professor Schuch, a UFSM tem uma previsão de retorno total à presencialidade para final de março de 2022. Diante do aumento expressivo de casos de Covid-19, em virtude da variante Ômicron, é possível que essa data seja revista?

Resposta- Destacamos que a definição do início do próximo semestre e do calendário acadêmico é do CEPE, a quem devemos encaminhar duas sugestões de calendário: uma mantendo a proposta inicial com início do semestre em 21 de março, que já está sendo debatida com a comunidade, e outra com a sugestão de início na primeira quinzena de abril de 2022. Enquanto isso, estamos avaliando junto ao COE-E - UFSM as condições necessárias para o retorno à presencialidade.

Pergunta- Em novembro de 2021, a Proplan da UFSM repassou dados para uma matéria que publicamos que apontavam para uma redução orçamentária em 2022 de 26,6% em comparação a 2019. Esse percentual se mantém?

Resposta- O orçamento para 2022, em relação a 2019, último ano com presencialidade, tem previsão de redução de 15 milhões para 5 milhões em investimento. Em relação ao custeio, a redução será de 121 milhões para 95 milhões. No geral, a previsão é de uma redução de 26% no orçamento, que impactará todo o nosso planejamento para o ano de 2022. Teremos que priorizar reformas, conclusões de obras em andamento e um controle rigoroso nos encargos da Universidade.

Pergunta- De que forma a UFSM vai funcionar diante dos cortes orçamentários, especialmente num período especial, que exige mais investimentos em função das questões sanitárias da Covid?

Resposta- Estamos atuando fortemente junto ao Governo Federal e também através da Andifes para que o orçamento das Instituições Federais de Ensino Superior seja revisto e readequado. Ainda assim, há anos estamos enfrentando severos cortes orçamentários, que interferem diretamente nos investimentos realizados na pesquisa, no ensino e na extensão. A redução dos recursos da UFSM prejudica a qualidade dos nossos serviços, reduz-se a quantidade de insumo, a equipe de terceirizados é reduzida cada vez mais, entre outros. É uma grande cadeia que falha e prejudica a jornada pelo conhecimento de mais de 28 mil estudantes, bem como diversos projetos de extensão e pesquisa são adiados.

Pergunta- Em suas manifestações, ainda na condição de candidato, ou mesmo após a sua confirmação como dirigente da universidade, o sr. usou bastante expressões que falam em uma universidade de excelência, inovadora, ao mesmo tempo em que inclusiva. Como a sua gestão pretende, concretamente, agir para compatibilizar esses aspectos?

Resposta- Nós temos um dos melhores programas de assistência estudantil brasileiro, criamos a política de arte e cultura e a política de gênero, fomos pioneiros nas políticas afirmativas e no ingresso de refugiados e imigrantes. Estas e outras ações garantem a diversidade e a inclusão na nossa instituição, e serão reforçadas. Por outro lado, criamos a política de inovação, disciplinas de empreendedorismo e criamos o parque de ciência e tecnologia da UFSM. Estas ações são complementares e fortalecem o papel da universalidade da Universidade. Queremos dar oportunidades para nossos estudantes de se qualificarem nas mais diversas áreas do conhecimento e da atuação profissional. Só seremos fortes se tivermos inclusão social, diversidade e estando próximo da sociedade e do setor produtivo nacional.

Pergunta- Em entrevista à imprensa santa-mariense o sr. disse que a UFSM, através da Prograd, vai colocar em debate na instituição um projeto de retorno do vestibular e do Peies. Por que essa iniciativa? Ela não é uma volta ao passado? Que setores reivindicam esse retorno?

Resposta- Não é de hoje que essa possibilidade é discutida na instituição. Acreditamos no SISU e, por isso, vamos manter também esta forma de ingresso. Ainda que ao longo dos anos esse sistema de ingresso tenha apresentado instabilidade por depender do Governo Federal. Mas também acreditamos no que representava o PEIES e o sistema seriado para nos aproximar das escolas de toda a região. Estas formas de ingresso aproximavam a UFSM da nossa região, gerando um sentimento de pertencimento da nossa comunidade, bem como da UFSM para com a região. Além disso, estamos totalmente abertos para as demandas da nossa cidade e também das regiões em que a UFSM possui campi. Mas seguiremos sempre com o olhar atento para o processo de ingresso. Ele não é estático. Está sempre sob avaliação.

Pergunta- O sr. recebeu muitas críticas de apoiadores (as) quando, em outubro de 2021, posou, junto com uma liderança do partido do presidente Bolsonaro, para uma foto com um quadro doado pelo deputado federal Bibo Nunes (PSL), em que está a imagem do presidente Bolsonaro. Diante de tantos ataques que as universidades federais sofreram do atual governo, por que o sr. aceitou tirar essa foto?

Resposta- Liturgia do cargo de vice-reitor na época do fato.

Pergunta- No seu discurso oficial de transmissão de cargo, no dia 8 de janeiro, chama a atenção que o sr. agradeceu a diversas entidades, mas também a diversos políticos ligados ao presidente Bolsonaro, entre eles, o senador Luis Carlos Heinze, o mesmo que, em junho passado, disse ter “vergonha da UFSM”. O que justificaria esse agradecimento?

Resposta- Os agradecimentos foram para lideranças políticas e para entidades que defenderam junto ao governo federal que o resultado da pesquisa de opinião e da eleição nos Conselhos Superiores fosse mantido pelo Presidente da República.
 

 

Entrevista e edição: Fritz R. Nunes
Fotos: Capa- Solange Prediger; Internas- (1) Diário de Santa Maria) ; (2) Marcelo de Franceschi.
Assessoria de imprensa da Sedufsm

 

 

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