80% dos profissionais da saúde vivem esgotamento mental, aponta Fiocruz
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Atualizada em
14/02/22 18h35m
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Pesquisa realizada com mais de 20 mil trabalhadoras e trabalhadores da saúde também revela que mais de 30% desses(as) profissionais sofreram agressões durante a pandemia
Segundo a pesquisa “Os trabalhadores invisíveis da Saúde: condições de trabalho e saúde mental no contexto da Covid-19 no Brasil”, realizada com 21.480 trabalhadores e trabalhadoras de 2.395 municípios de todas as regiões do país, 80% desses(as) profissionais vivem situação de desgaste profissional, estresse psicológico, ansiedade e esgotamento mental. O mesmo estudo revela que 70% dos e das participantes sentem falta de apoio institucional, e 35% sofreram violência ou discriminação durante a pandemia. A maior parte dessas agressões (36,2%) ocorreu no ambiente de trabalho, na vizinhança (32,4%) e no trajeto casa-trabalho-casa (31,5%).
Elaborada pela Fiocruz, a pesquisa entrevistou profissionais como maqueiros, condutores de ambulância, pessoal da manutenção, de apoio operacional, equipe da limpeza, da cozinha, da administração e gestão dos estabelecimentos, técnicos e auxiliares de enfermagem, de saúde bucal, de radiologia, de laboratório e análises clínicas, agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias.
“As consequências da pandemia para esse grupo de trabalhadores são muito mais desastrosas. São pessoas que trabalham quase sempre cumprindo ordens de forma silenciosa e completamente invisibilizadas pela gestão, por suas chefias imediatas, pela equipe de saúde em geral e até pela população usuária que busca atendimento e assistência. Portanto, são desprovidos de cidadania social, técnica e trabalhista. Falta o valioso pertencimento de sua atividade e ramo profissional. A pesquisa evidencia uma invisibilidade assustadora e cruel nas instituições, cujo resultado é o adoecimento, o desestímulo em relação ao trabalho e a desesperança”, lamenta a coordenadora da pesquisa, Maria Helena Machado.
Sensação de estarem desprotegidos
Em resposta às perguntas realizadas pela Fiocruz, 53% das e dos participantes admitiram não se sentirem protegidos contra a Covid-19 no trabalho, e os motivos são dos mais diversos, desde o medo generalizado da contaminação (23,1%), passando pela falta, escassez e inadequação do uso de EPIs (22,4%), até a ausência de estruturas necessárias para efetuar o trabalho (12,7%). Segundo 54,4% das e dos profissionais respondentes, houve negligência institucional nos processos de capacitação sobre a doença (Covid-19) e sobre os procedimentos e protocolos necessários para o uso de EPIs. Cabe destacar que 23,9% afirmaram ter comorbidades anteriores à Covid-19, tais como: 31,9% hipertensão; 15,1% obesidade; 12,9% doenças pulmonares; 11,7% depressão; e diabetes 10,4%.
Perfis
Do total de respondentes da pesquisa, 72,5% eram mulheres; 59% eram pretos(as) ou pardos(as); e 50,3% estavam na faixa etária entre 36 e 50 anos. Dos(as) mais de 20 mil entrevistados(as), 85,5% possuem jornada de trabalho de até 60 horas, e 25,6% necessitam de outro emprego para sobreviver.
Maria Helena Machado antecipa que na pesquisa há depoimentos de profissionais que tiveram de realizar plantões extras para cobrir o turno de trabalho de colegas que se afastaram em decorrência de contaminação ou morte por Covid-19.
“Muitos deles declaram fazer atividade extra como pedreiro, ajudante de pedreiro, segurança ou porteiro de prédio residencial ou comercial, mototáxi, motorista de aplicativo, babá, diarista, manicure, vendedores ambulantes etc. É um mundo muito desigual e socialmente inaceitável”, complementa a coordenadora do estudo.
Para ler o resumo com principais dados da pesquisa, clique aqui.
Fonte: Conecte SUS
Edição e imagem: Bruna Homrich/Assessoria de Imprensa da Sedufsm