Filiado à Sedufsm há quase 30 anos, docente diz que luta coletiva é o caminho SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 27/03/23 19h52m
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Diorge Konrad conversou com nossa Assessoria sobre a importância que os sindicatos seguem cumprindo mesmo frente às mudanças no mundo do trabalho

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Diorge Konrad é Doutor em História do Trabalho pela UNICAMP e Ex-presidente da SEDUFSM

Se o Brasil é marcado por disputas entre dominantes e dominados, ou, ainda, entre trabalhadores(as) e patrões, consequentemente um dos principais atores políticos do cenário nacional é o sindicato. No setor público ou privado, representando categorias de trabalhadores da universidade ou da indústria, as entidades representativas de classe são as principais ferramentas para que quem trabalha consiga exigir melhores condições de exercício da sua profissão, salários dignos, planos de carreira adequados e, inclusive, políticas públicas mais amplas de acesso à educação, saúde e moradia, por exemplo.

Através dos sindicatos também se defende o direito de organização política, de mobilização e de greve das categorias. No serviço público, o sindicato é, por si próprio, expressão da vitória das e dos servidores na luta em defesa da redemocratização do país e de uma nova Constituição (promulgada em 1988), visto que antes dessa data o funcionalismo público não podia se sindicalizar.

Na entrevista desta sexta-feira, o professor titular do departamento e do Programa de Pós-Graduação em História da UFSM, Diorge Konrad, comenta sobre a importância da filiação ao sindicato, entidade que, em sua avaliação, sendo cumprindo um papel fundamental na defesa dos direitos da classe trabalhadora. Quando questionado sobre o que diria a um(a) docente que expressasse dúvidas sobre se filiar, ele lembra que, em 1994, ano de seu ingresso na UFSM, uma das primeiras coisas que fez após assinar a ata de posse foi assinar, também, a ficha de filiação à Sedufsm. “É preciso entender, desde a chegada na carreira docente, que esta própria carreira foi produto da luta sindical, bem como a tentativa de destruição da mesma [...]”, recorda Konrad, que é Doutor em História do Trabalho pela UNICAMP e Ex-presidente da SEDUFSM.

Desde o dia 12 de setembro, a Sedufsm vem colocando, nas ruas, nas redes e nos espaços da universidade, a campanha "SEJA SEDUFSM. DEFENDA A UFSM", que tem por objetivo chamar mais docentes a conhecerem e a se filiarem à seção sindical, fortalecendo a entidade em cuja essência está a luta intransigente em defesa da educação pública, gratuita, de qualidade, laica e socialmente referenciada.

Leia, abaixo, a entrevista completa de Diorge Konrad sobre o sindicalismo:

Sedufsm - Professor, é inconteste que o mundo do trabalho sofreu transformações nas últimas décadas. Novos vínculos trabalhistas (ou a completa ausência destes, no caso das relações precarizadas, informais e ‘uberizadas’), novas categorias de trabalhadores, um processo acelerado de informatização e recentes tentativas de instituir o teletrabalho são questões que tendem a complexificar as relações de trabalho capitalistas. Como o sindicalismo pode, ao mesmo tempo, fortalecer sua atuação junto às categorias mais clássicas e também ampliar sua representatividade visando a alcançar categorias que hoje estão na informalidade ou com vínculos precários?

Resposta – A precarização do trabalho é própria do modo de produção capitalista, mas mais recentemente vem produzindo intensamente reflexos subjetivos, no sentido da formação da consciência de classe, através de um discurso que supostamente estaria transformando o trabalhador em um “empreendedor”, sujeitando-o ainda mais a uma lógica individualista. Assim, este trabalhador desprende-se do senso de coletividade, próprio da organização sindical. Os militantes sindicais, assim como de outros movimentos sociais e políticos, devem atentar, essencialmente, para esta subjetivação, produto objetivo da reestruturação produtiva do capital nos tempos contemporâneos, procurando trabalhar a formação política das categorias, tanto no sentido teórico, como na luta da classe no cotidiano. É preciso saber ainda que, no modo de produção capitalista, a sua reprodução (seu lucro), independente da fase histórica em que ele se encontra, se dá pela exploração do trabalho não pago, ou seja, estavam e estão certos todos aqueles que explicam este sistema a partir do valor-trabalho. Portanto, na essência, vivemos em uma sociedade em que, independente das novas tecnologias, das novas subjetividades, ainda a produção da riqueza social se dá pelo TRABALHO COLETIVO, assim como a concentração desta mesma riqueza social se dá pela apropriação privada de poucos. Assim, é apenas discurso político-ideológico o argumento de que estaríamos em uma fase da História em que nos aproximamos do fim do trabalho, recurso narrativo para justamente perpetuar a eternização desigual e social do presente.   

Sedufsm – A história das disputas entre trabalhadores e patrões atesta a importância do sindicalismo, tendo em vista que a maioria dos direitos trabalhistas foi conquistada graças às mobilizações e greves organizadas, em grande parte, pelos sindicatos. Na sua avaliação, por que hoje alguns setores da sociedade tentam, de toda forma, descredibilizar os sindicatos, enfraquecer sua força política e incentivar que os trabalhadores percam a confiança em suas entidades representativas?

Resposta - O que estamos chamando de neoliberalismo, um neologismo extemporâneo do velho liberalismo conservador, que defendia que as relações capital-trabalho são relações exclusivas de mercado, deve ser compreendido (e combatido) por diversas frentes, pois é justamente esta vertente que indica as diretrizes para a flexibilização ou extinção dos direitos sociais e trabalhistas, historicamente limitados, mas conquistados pela luta da classe trabalhadora. No caso da reforma trabalhista, ela não objetivou apenas retirar direitos, mas, sobretudo, desorganizar a classe que luta por eles e seus sindicatos. Por isto, o ataque às entidades sindicais vem por este caminho. No Brasil, estamos em uma fase de derrotas da classe trabalhadora, o que não significa que, neste período, não estejamos igualmente em resistência. É mais ainda para esta resistência que os sindicatos se tornam fundamentais.

Sedufsm – O senhor é filiado à Sedufsm há bastante tempo, tendo inclusive já assumido a presidência da seção sindical. Atualmente, a entidade está com uma campanha de filiação intitulada ‘Seja Sedufsm. Defenda a Ufsm’. Se hoje um jovem docente, recém chegado à universidade, questionasse sobre a importância da filiação ao sindicato, o que o senhor responderia?

Resposta – Entrei como docente na UFSM em 1994, sendo que um dos primeiros atos após a posse foi a filiação à SEDUFSM. Um ato consciente, pois, como egresso desta Universidade, enquanto estudante, havia sido testemunha do bom e necessário combate da militância sindical docente, seja na luta pela redemocratização do Brasil, seja pelos direitos da categoria ou por uma Universidade Pública, Gratuita, de Qualidade, Estatal e Socialmente Referenciada. Aprendi pela base, como integrante de comandos de greve e na direção da Entidade ou no Conselho de Representantes (somando 10 anos nesta “linha de frente”) que, por pior que que seja a luta coletiva, sempre ela será melhor que a solução individual, proposta pela ideia reformista de que o sindicato serve, no máximo, para se ter um plano de saúde ou outras formas de “benefícios” pessoais.  É preciso entender, desde a chegada na carreira docente, que esta própria carreira foi produto da luta sindical, bem como a tentativa de destruição da mesma, tem influência na defesa da própria Universidade, do serviço público, da não submissão à lógica política privada de dirigentes não concursados etc. Assim, ser parte de um sindicato como a nossa Sessão Sindical é um compromisso não apenas com as minhas demandas pessoais, nem com a defesa corporativa da categoria, mas de concepção coletiva de mundo, de sociedade e de Universidade.

Sedufsm – Qual o ônus para uma categoria cujo sindicato é enfraquecido? A título de comparação: em um processo de negociação salarial com o governo, por exemplo, por que a categoria cujo sindicato é atuante, respaldado e fortalecido por sua base tende a conseguir melhores condições de negociação e maior possibilidade de arrancar vitórias ao governo?

Resposta - A História do sindicalismo é clara sobre os momentos de refluxos da classe trabalhadora em conjunturas de repressão (como no Brasil de 1964 a 1985) ou de desmobilização da classe trabalhadora (como nos últimos anos), cujos resultados são a perda ou a restrição de direitos, e a diminuição de salários.  Por sua vez, a História nos deu grandes lições de que a classe trabalhadora dividida fica à mercê dos patrões e dos governantes de Estado e de seus propósitos de desarticulação e destruição da organização combativa das diversas categorias.
 
Sedufsm – O sindicato é um garantidor de direitos, sendo a principal salvaguarda de uma categoria. Ocorre que a tarefa do sindicato não se esgota na defesa dos interesses específicos da categoria que representa. Como o senhor avalia que deva ser a postura de um sindicato frente às mobilizações gerais da classe trabalhadora e da juventude, e frente a outras entidades de classe e movimentos sociais?

Resposta - Me parece que nas respostas anteriores, minha opinião esteja implícita sobre esta última questão, bem como a resposta já está na pergunta. Mas vou insistir: em nenhum momento histórico recente, a saída individual garantiu direitos para os trabalhadores, inclusive em educação e, no caso do mundo acadêmico, para os três segmentos, os estudantes, os técnico-administrativos e os docentes. Ao contrário. Mas foram estes segmentos, organizados em suas entidades, os sujeitos fundamentais no Brasil, até hoje, para que ainda tenhamos universidade pública, gratuita e estatal, mesmo que a lógica privada do capital esteja entranhada na Universidade, reforçando a ideia de que em educação se gasta, não sendo um investimento social para o desenvolvimento de um país soberano e autônomo em ciência e tecnologia. Assim, o papel de um sindicato é SIM auxiliar na construção de um projeto de Nação; é SIM ter solidariedade de classe com outros órgãos sindicais e outras entidades dos movimentos sociais; é SIM ter compromisso classista com os explorados da sociedade e aqueles em maior vulnerabilidade social; é SIM compreender que a exploração de classe tem recorte étnico-racial, de gênero, de faixa etária, de nacionalidade e que sua luta também é antirracista, antimachista, antihomofóbica. antixenófoba e contra todas as formas estruturais e conjunturais de preconceitos, bem como; é SIM defender as pautas de sua categoria e atuar no interior do local de trabalho da sua base para a melhoria das condições de trabalho e da própria Instituição em que seus filiados atuam.

Entrevista concedida à Bruna Homrich

Foto: Arquivo Sedufsm

Assessoria de Imprensa da Sedufsm

 

 

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