Malvinas: Brasil ao lado da Inglaterra, diz Coggiola SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 29/03/12 19h13m
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Governo militar não quis se indispor com o Imperialismo

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Palestra de Osvaldo Coggiola finalizou evento sobre Guerra das Malvinas

Apesar de o Brasil viver uma ditadura militar instalada desde 1964, o que guardava similaridade com a Argentina, que vivia o autoritarismo desde 1976, os militares brasileiros preferiram ficar “neutros” durante a Guerra das Malvinas (1982). Na prática, essa posição significou ficar ao lado Imperialismo Britânico, que era apoiado também pelos Estados Unidos. A análise é do professor de História Contemporânea da USP, Osvaldo Coggiola, natural da Argentina, que finalizou na noite desta quarta (28), o Cultura na SEDUFSM que abordou os 30 anos do conflito envolvendo as Malvinas.

Enquanto a posição do governo brasileiro foi omissa em relação ao conflito, a ditadura chilena, comandado pelo general Augusto Pinochet, foi ostensivamente favorável. Até mesmo espionagem os chilenos realizaram em favor dos ingleses, conforme divulgação recente de documentos. Dos sul-americanos, apenas o Peru foi claramente solidário, inclusive com a cedência de mísseis franceses Exocet, depois que a França, por pressão da Inglaterra e dos Estados Unidos, não apenas negou apoio técnico para o uso das bombas compradas pelos argentinos direto da França, como também abriu para o governo britânico os códigos dos mísseis em poder da Argentina.

Do ponto de vista histórico-militar, os mísseis franceses foram fundamentais, pois foi um desses artefatos (AM 39 Exocet) o responsável pelo afundamento, na manhã do dia 4 de maio de 1982, do destróyer (type 42) HMS Sheffield, o mais moderno barco de guerra da Royal Navy (Marinha Real Britânica). Se os militares portenhos tivessem uma quantidade maior desse tipo de míssil, o destino do conflito poderia ter sido outro.

Em relação à posição do Brasil, Coggiola lembra que apenas um ministro do governo de João Batista Figueiredo, o de Indústria e Comércio, Severo Gomes, manifestou solidariedade aos argentinos, publicando inclusive um “a pedido” em jornais da época. Até mesmo um incidente ocorrido, quando um avião bombardeiro do tipo Vulcan, foi retido em espaço aéreo brasileiro, foi sintomático da postura do governo. Após ter sido aprisionado por curto espaço de tempo, a aeronave foi liberada, inclusive com os armamentos que carregava.

Esquerda

A posição da esquerda brasileira não se diferencia muito da do governo, segundo Osvaldo Coggiola. Ele lembra que, assim que eclodiu o conflito, no dia 2 de abril de 1982, participou da organização, em São Paulo, do Comitê de Solidariedade ao Povo Argentino. O que movia o grupo era a defesa do povo argentino no conflito, mas, ao mesmo tempo, nenhuma solidariedade à ditadura militar. Nesta época, foram a um Congresso do Partido dos Trabalhadores (PT), esperando que houvesse uma manifestação de solidariedade, o que não ocorreu.

Um dos argumentos utilizados à época, pela esquerda brasileira ou pela esquerda de outros países era que, a ocupação das Malvinas tinha sido feito por uma ditadura militar, enquanto a Inglaterra, mesmo com Margareth Thatcher, era um governo eleito democraticamente. Contudo, ressalta o historiador, esse argumento ignorava que as ditaduras na América Latina eram sustentadas pelo Imperialismo, fosse ele britânico ou estadunidense. E, que, naquele momento, não se tratava de discutir se havia uma ditadura ou não na Argentina, mas sim que havia a agressão de um país imperialista à Argentina.

O professor Osvaldo Coggiola ressalta que a agressão da Grã-Bretanha à Argentina colocou por terra um tratado assinado em 1947, no Rio de Janeiro, cuja sigla era TIAR (Tratado Interamericano de Assistência Recíproca), que tinha entre seus signatários o Brasil, os Estados Unidos, Argentina, Cuba, entre outros, e cuja depositária para fins de administração desse acordo era a Organização dos Estados Americanos (OEA). Nesse documento estava previsto que, no caso de um ataque a qualquer um dos membros, isso seria entendido como um ataque a todos os membros. No momento em que os ingleses declaram guerra aos argentinos e não há uma assistência ao agredido, foi questionada a própria existência desse acordo, explica o historiador.

Covardia e subserviência

Para o professor Osvaldo Coggiola, a explicação da derrota argentina na guerra não passa apenas pela inferioridade numérica (12 mil militares argentinos estavam nas ilhas contra uma força inglesa de quase 30 mil homens), ou pela inferioridade tecnológica, que foi agravada pelo apoio logístico dos Estados Unidos.

Coggiola lembra de um historiador argentino que classificou os comandantes da Junta Militar que iniciou o conflito como ignorantes em política internacional e incompetentes na aplicação das regras militares. Contudo, diz ele, não foi apenas isso que levou à derrota, pois, mesmo com as debilidades militares, a astúcia e a tenacidade argentina levaram a que, em diversos momentos, os próprios ingleses tivessem temido perder o conflito.

Na avaliação de Coggiola, o resultado tem relação direta com a visão de classe da burguesia argentina e seus prepostos, os comandantes militares, que eram subservientes ao Imperialismo. Ele cita que, na época da guerra, os interesses comerciais e financeiros argentinos sofreram retaliações tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos. No entanto, na Argentina, não apenas o governo deixou de fazer qualquer expropriação de propriedades inglesas e estadunidenses, como também manteve em dia o pagamento da dívida externa, sacrificando ainda mais a população que vivia tempos de dificuldades geradas pela guerra.

A guerra foi heroica para muitos soldados, que tiveram reconhecimento até de importantes comandantes militares britânicos, como o general Julian Thompson, que escreveu um livro relatando que o embate militar “não tinha sido um piquenique”. Entretanto, se os “adolescentes fantasiados de soldados”, como classificara Thompson, foram reconhecidamente heróicos, o mesmo não dá para se dizer dos altos oficiais.

O professor Osvaldo Coggiola ressalta que nenhum oficial do alto escalão argentino morreu na guerra. Segundo ele, a maioria desses comandantes ficou protegida em bunkers, enquanto os jovens soldados, mal preparados e mal armados, é que iam para o enfrentamento direto. Ele também cita o que considera um caso exemplar de covardia. O capitão de Fragata Alfredo Astiz, que veio a receber o epíteto de “o anjo da morte” pelos diversos crimes que cometeu durante a ditadura militar, e que comandava as tropas nas ilhas Geórgia do Sul, parte integrante do arquipélago malvinense, se entregou sem dar um tiro. E pior, ainda teria ameaçado matar quem atirasse em um soldado britânico.

A guerra das Malvinas, seguramente, não foi um piquenique para os ingleses. Contudo, o resultado final foi o previsto. Eles venceram e a Argentina perdeu. Mais de 600 militares argentinos perdidos nas batalhas e, pouco menos de 300 do lado inglês. Após o fim da guerra, conforme Coggiola, cerca de 300 ex-combatentes argentinos se suicidaram contra 200 do lado britânico.

Quanto aos efeitos políticos e econômicos, para a Inglaterra foram benéficos, especialmente para Margareth Thatcher, que aumentou sua popularidade e conseguiu destroçar a resistência do movimento sindical a suas medidas neoliberais. Enquanto isso, a Argentina passou a vivenciar uma crise econômica ainda maior, com sua dívida externa crescendo exponencialmente. A ditadura militar caiu em 1983, mas os governos civis que a sucederam jamais levantaram a hipótese de que, a derrota não tinha tido como única causa, a inferioridade militar, mas especialmente, a submissão aos interesses das grandes potências.

Cultura na SEDUFSM

Em sua 51ª edição, o Cultura na SEDUFSM que debateu os 30 anos da Guerra das Malvinas, foi dividido em duas noites: na terça (27), ocorreu a palestra de Jorge Altamira, jornalista, escritor e militante político do Partido Obrero, da Argentina. Na primeira noite, a palestra contou com a mediação do professor  Diorge Konrad, do curso de História da UFSM, e teve a participação presencial de 80 pessoas e mais 11 internautas plugados, assistindo em tempo real. Já na quarta (28), ocorreu a palestra do professor de História da USP, Osvaldo Coggiola. Na segunda noite, a mediação da palestra ficou a cargo do professor José Luiz de Moura Filho, do curso de Direito da UFSM, e contou com a participação de 70 pessoas na forma presencial e mais 16 internautas.

Texto: Fritz R. Nunes
Fotos: Renato Seerig
Assessoria de Imprensa da SEDUFSM

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