Professor de Letras vê alteração na forma de acesso à UFSM como um retrocesso SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 24/03/23 17h10m
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Vitor Schneider avalia que retorno do vestibular e do programa seriado é o mesmo que andar na “contramão”

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Assembleia unificada dos segmentos, dia 1º de fevereiro, no hall da Reitoria da UFSM

Na quinta, 30 de março, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da UFSM deve avaliar e votar a minuta de resolução elaborada pela reitoria da instituição, que prevê a redução de vagas de acesso de estudantes através do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), ampliando o  número de vagas através do Vestibular e, posteriormente, destinando vagas para acesso também através do retorno do Programa Seriado (o antigo Peies).

O objetivo da Administração Central é fazer com que a redução de vagas para ingresso através do ENEM/SISU seja gradativa, alcançando em 2026 o percentual de 30% através da seleção unificada e os outros 70% divididos entre vestibular e o programa seriado. Atualmente, o processo para ingressar na UFSM é com 100% das vagas através do sistema de seleção unificada.

A iniciativa de fazer uma “revisão e atualização dos mecanismos de ingresso e permanência dos estudantes” consta, inclusive, no plano de gestão da UFSM (2022-2025) do atual reitor, professor Luciano Schuch.

Em reportagem publicada pelo Portal da UFSM, no último dia 1º de março, Schuch afirma que “ao analisar o perfil do aluno atual e a nova dinâmica da sociedade, percebemos que estava no momento de repensar as formas de ingresso na instituição. Além disso, por mais que o ENEM seja uma prova nacional e de relevância para o ensino médio, temos uma crítica ao SiSU, que a cada ano muda suas regras e as universidades e os estudantes acabam por terem que se adaptar a ela”, ressaltou Schuch.

A contraposição a essa mudança, considerada abrupta e com escasso debate com a comunidade, tem sido feita pelas entidades representativas dos três segmentos, incluindo a Sedufsm. No dia 25 de janeiro, uma nota pública sobre o tema foi lançada por sindicatos e associações estudantis. Alguns dos argumentos levantados pela reitoria, como por exemplo, o do aumento da evasão, são vistos com uma frágil base de sustentação.

Hoje, publicamos uma entrevista com o professor Vitor Schneider (foto abaixo), do departamento de Letras Vernáculas da UFSM. Ele também coordena o Grupo de Estudos em Linguagem e Interculturalidade (GELI) e é colaborador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi). Nos próximos dias, teremos outras pautas que abordarão o tema da mudança na forma de ingresso na universidade.

Na visão do docente, a proposta de alteração na forma de acesso à UFSM tem efeito negativo. “Ampliar as vagas pelo vestibular e Peies estaria na contramão de um processo de diversificação do corpo discente atendido pelas universidades públicas que se sustenta pela adoção do SISU e implementação da Lei 12.711/2012, que regula a adoção das cotas sociais e étnico-raciais no ensino superior”, diz ele.

Para Schneider, “abandonar este sistema (SISU), que se consolidou ao longo de mais de uma década, seria como abandonar um esforço institucional para que o corpo discente universitário seja composto por sujeitos oriundos de diferentes camadas sociais”.

Acompanhe abaixo, a íntegra da entrevista.


 

Sedufsm- Professor, nos próximos dias, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da UFSM deve apreciar a minuta de resolução que altera a forma de ingresso de estudantes na UFSM, prevendo o retorno do vestibular e do programa seriado (o antigo Peies), com redução de vagas através do Enem. O retorno dessas modalidades de ingresso, na sua avaliação, é positivo ou negativo? E por quê?

Vitor Schneider- Na minha avaliação, a resolução proposta é negativa, visto que configura um retrocesso no processo de democratização do acesso ao ensino superior que foi desenvolvido ao longo das últimas décadas. A proposta de, gradativamente, ampliar as vagas pelo vestibular e Peies estaria na contramão de um processo de diversificação do corpo discente atendido pelas universidades públicas que se sustenta pela adoção do SISU e implementação da Lei 12.711/2012, que regula a adoção das cotas sociais e étnico-raciais no ensino superior. Além disso, é preciso ressaltar que a proposta da resolução em questão não foi amplamente debatida com a comunidade acadêmica.

Sedufsm- Conforme a proposta apresentada pela Prograd para apreciação do CEPE, o Enem/Sisu representará 70% das vagas, mas tendo seus índices reduzidos ao longo dos anos. Em 2026, a proporção prevista é de 30% através do Sisu e 70% divididos, com 30% para o vestibular e 40% para o programa seriado. No seu modo de ver, há diferenças entre essas modalidades se levarmos em conta a questão da democratização do acesso à universidade?

Vitor Schneider- Sim, há diferenças radicais. Com o Sisu temos um processo unificado que permite o ingresso de estudantes vindos de diferentes regiões do país, que realizaram o Enem em suas cidades de origem. O vestibular, pelo contrário, exige que o estudante compareça à instituição na data do exame. Essa exigência não pode ser desconsiderada, visto que um grande contingente de estudantes não tem condições de arcar com os custos de um vestibular fora de sua cidade.

Sedufsm- Considerando a possibilidade de ser aprovada a minuta da reitoria e a forma de ingresso ser alterada, com retorno do vestibular e do programa seriado, haveria, no seu entendimento, algum segmento que sofreria algum tipo de prejuízo no acesso à instituição?

Vitor Schneider- Certamente. É preciso ter em mente que um processo seletivo como o vestibular impossibilita a participação de diversos sujeitos oriundo das camadas sociais mais periféricas. Para prestar uma prova vestibular, o estudante deve ter condições financeiras para se deslocar e arcar com custos de mobilidade e estadia. Isso pode parecer pouco, porém para muitos grupos sociais isso representa um investimento inviável de ser realizado.

Sedufsm- Na sua avaliação, que medidas deveriam ser tomadas para que a universidade realmente possa ter o seu acesso democratizado?

Vitor Schneider- A meu ver, o Sisu não é perfeito, como todo processo seletivo. No entanto, é preciso fazer uma avaliação longitudinal de sua implementação. Ao longo das últimas décadas o público atendido pelas universidades públicas foi alterado, de modo a atender sujeitos oriundos de grupos sociais desprivilegiados. A população universitária atual não é a mesma dos anos 90, e isso se deve à implementação do Enem e do Sisu como forma de ingresso. Abandonar este sistema, que se consolidou ao longo de mais de uma década, seria como abandonar um esforço institucional para que o corpo discente universitário seja composto por sujeitos oriundos de diferentes camadas sociais.

 

Entrevista e texto: Fritz R. Nunes
Imagens: Arquivo da Sedufsm e arquivo pessoal
Assessoria de imprensa da Sedufsm

 

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