O trabalho docente não pode ser medido conforme métricas rígidas, diz entrevistada
Publicada em
24/08/23
Atualizada em
25/08/23 17h36m
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Maria Eliza Rosa Gama, do Centro de Educação da UFSM, falou sobre avaliação, produtividade e valor do trabalho docente no ‘Ponto de Pauta’

Quantificar o trabalho docente a partir unicamente do que é palpável, material, visível, expressa um reducionismo de entendimento acerca da atividade de um professor ou professora. Encaixar o fazer docente em métricas, impondo uma rigidez tecnicista em um trabalho que tem um componente intelectual muito forte, acaba por empobrecer e burocratizar a universidade como um todo.
Essas são avaliações da professora do departamento de Administração Escolar do Centro de Educação da UFSM, Maria Eliza Rosa Gama, entrevistada da edição número 77 do ‘Ponto de Pauta’.
No decorrer dos 42 minutos de entrevista, ela explica por que as minutas sobre os encargos didáticos e as progressões e promoções docentes na UFSM vão de encontro à natureza do trabalho do professor e professora, não podendo ser consideradas formas efetivas de se avaliar o que é produzido dentro da instituição.
“O trabalho docente tem uma característica intelectual, que é de produção cognitiva do professor, e isso não tem como medir. Quanto tempo eu levo para construir um conhecimento novo sobre o ensino e os conteúdos de ensino? É como querer medir o tempo que um poeta leva para escrever seu livro. Não existe como”, salienta Maria Eliza.
Para ela, a métrica vem como uma demanda de gestão. “A gente acha que trabalho é aquilo que a gente enxerga. Não, aquilo que a gente enxerga é uma parte do trabalho. Fora disso, é tudo imaterial, não existe como ver, mas eu estou trabalhando e produzindo. É impossível medir isso”, complementa.
Produtividade
Em outra das questões respondidas pela docente no programa de entrevistas da Sedufsm, ela reflete sobre o que é valorizado no trabalho das e dos professores das universidades federais. Na minuta das progressões e promoções docentes, por exempla, Maria Eliza diz que a valorização maior é daquilo que se produz em pesquisa.
“Mas, do ponto de vista do que é a pesquisa, ela se reduz [na minuta] a publicações. Se você não publicar, você não produziu novos conhecimentos. Quanto tempo leva para um professor chegar num artigo científico? Tenho orientações, elaborações de projeto, realizações de projetos. Existe um conjunto de ações que estão fora. Não conta como trabalho se eu não tiver a publicação, não mostrar a materialidade disso”, critica a entrevistada, para quem a complexidade do trabalho do professor não vem sendo observada.
No que tange ao ensino, as concepções também estão equivocadas, na análise da docente, visto que só se considera como ensino o tempo transcorrido dentro de sala de aula, excetuando-se, disso, todo o processo de construção do conhecimento prévio e também restringindo a ideia de ensino à de ‘ensalamento’. Trata-se, para ela, de uma visão tradicional e reducionista.
“O grande problema é trabalhar unicamente com o tempo da ação docente. A gente precisa ter sim uma ferramenta que nos dê segurança e garanta isso, mas precisamos aproximar essa ferramenta de gestão com a natureza do nosso trabalho. É um apelo social, queremos mostrar o que estamos fazendo. Só que essa métrica não mostra o que a Maria Eliza está fazendo na universidade. A universidade tem todo esse status porque nós não trabalhamos pela métrica. Fazemos porque temos a responsabilidade e o compromisso com o que nos propomos”, diz a docente.
Assista o ‘Ponto de Pauta’ na íntegra em nosso canal de Youtube ou aqui mesmo, abaixo:
Texto: Bruna Homrich
Arte: Rafael Balbueno
Assessoria de Imprensa da Sedufsm
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