Persiste no Brasil uma cultura de ameaça à democracia, diz Claudia Wasserman
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Atualizada em
02/04/24 09h59m
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Professora de História da UFRGS falou também, na 86ª edição do Ponto de Pauta, de resquícios autoritários nas universidades
Questionada durante a entrevista ao programa Ponto de Pauta (PP) da Sedufsm, sobre os riscos da volta de um regime ditatorial no Brasil (a exemplo do regime pós-1964), Claudia Wassermann destacou que, enquanto não diminuirmos a desigualdade social no país, e não mudarmos a cultura autoritária das classes dominantes (através da educação), que não aceitam participação popular e inclusão social, o risco existe.
Para a professora de História da UFRGS, que foi entrevistada na 86ª edição do PP, que pode ser conferida abaixo, integralmente, a sociedade brasileira está mais amadurecida e rechaça os governos autoritários, porém, até mesmo pelo avanço da extrema-direita em âmbito global, o “risco permanece”.
Ao ser perguntada sobre a “herança” do golpe civil-militar de 1964, que completou 60 anos neste 31 de março, Claudia cita que existem nuances que se referem não somente à realidade brasileira, mas latino-americana em geral. Dentre esses aspectos, ela ressalta a não superação da desigualdade social, a constante dependência dos centros hegemônicos do Capitalismo, além de um atraso no desenvolvimento capitalista. Está reservado ao Brasil e a outros países, argumenta ela, um espaço na periferia do desenvolvimento capitalista.
Claudia Wasserman opina que o atraso do Brasil não é apenas econômico e social, mas também intelectual. Ela resgata, de forma rápida, a obras do jurista e cientista político Raymundo Faoro (autor de “Os donos do poder”), para argumentar que temos elites dominantes retrógradas, e que isso não é uma decorrência do golpe de 1964, mas que isso já vinha antes dele.
“É claro que o golpe de 64, com a intervenção dos militares nos poderes institucionalizados, pioraram ainda mais a situação”, diz a historiadora. No entanto, ela entende que os problemas já vinham de muito tempo antes. E um desses aspectos, por exemplo, que fez com que a sociedade apoiasse o regime autoritário, instalado a partir de 31 de março de 1964, é o sentimento do anticomunismo, que vinha pelo menos desde 1935, quando da chamada “Intentona” liderada por Luís Carlos Prestes.
Resquícios nas universidades
Durante o seu depoimento ao PP, Claudia Wasserman também foi questionada sobre os resquícios do autoritarismo nas universidades e instituições federais de ensino. Ela argumenta, inicialmente, que as universidades, e seus intelectuais, estão entre os segmentos que não foram os mais duramente atingidos pela repressão da ditadura civil-militar.
Todavia, a historiadora elenca alguns aspectos que demonstram que ainda há muitos resquícios do regime autoritário dentro das universidades. Segundo ela, essa herança ficou muito transparente durante o governo de Jair Bolsonaro, quando resultados de eleições não eram aceitas pelo governo, através da lista tríplice, e interventores eram nomeados.
A professora cita ainda a questão do peso maior para docentes nas instituições, sendo destinado a esse segmento 70% no momento das votações nos conselhos, e apenas 30% divididos entre técnicos e estudantes.
Para além de aspectos pontuais dessa herança autoritária, Claudia Wasserman defende que é preciso, digamos assim, passar a limpo as práticas ditatoriais do período 1964-1985. A historiadora acredita que é essencial que ocorram as Comissões da Verdade nas universidades. Ela cita que, na instituição que trabalha, a CV foi instalada, mas depois cancelada em um canetaço.
Acompanhe a íntegra da entrevista abaixo:
Texto: Fritz R. Nunes
Imagem: Italo de Paula
Assessoria de imprensa da Sedufsm