“O povo palestino tem direito à insurgência e à luta armada”, afirma Breno Altman
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Atualizada em
18/04/24 17h59m
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Em entrevista ao Ponto de Pauta, jornalista fala sobre conflito entre Israel e Palestina
Desde o dia 7 de outubro de 2023 o conflito entre Israel e Palestina retornou aos noticiários globais quase que diariamente, o que não representa, definitivamente, o capítulo inicial desta história. A disputa pelo território às margens do Mar Mediterrâneo remonta ao século passado e conta com uma série de outros capítulos de agudos tensionamentos, como o que vemos agora. Essa longa história assim como a intensa exposição midiática, contudo, não representam que saibamos da história em sua complexidade.
E é justamente a isso que se propõe o livro “Contra o Sionismo: Retrato de uma Doutrina Colonial e Racista”, do jornalista Breno Altman. Na obra, o jornalista (fundador do portal Opera Mundi) denuncia a ocupação dos territórios palestinos pelo Estado de Israel a partir da lógica da colonização. Breno esteve em Santa Maria no último dia 9, participando de evento promovido pelo Comitê Palestina Livre e pela SEDUFSM, atividade na qual também ocorreu o lançamento do livro. Na ocasião, Breno também foi entrevistado para a 87ª edição do Ponto de Pauta (confira na íntegra ao final).
Terrorismo
Dentre os tópicos abordados no Ponto de Pauta, Breno foi questionado sobre uma lógica frequente na cobertura e no debate público a respeito do tema: defender a Palestina é, automaticamente, defender o Hamas (organização política e militar que hoje governa a Faixa de Gaza) o que, também automaticamente, representaria defender o “terrorismo”. Sobre esse tópico, em primeiro lugar, Breno complexifica as intenções por trás do termo. “Nelson Mandela era chamado de terrorista”, pondera, ilustrando a ideia de que todos e todas que se levantam e levantaram contra a ordem capitalista e a dominação colonial, representada especialmente pelos Estados Unidos da América, são caracterizados e caracterizadas enquanto terroristas. “Terrorismo ou terrorista são, hoje, palavras muito esvaziadas de sentido”, aponta.
Direito à insurgência
Complementado o mesmo tópico, Breno Altman ressalta ainda o direito do povo palestino (e dos povos colonizados, em geral) à insurgência e à luta armada. Conforme destaca o jornalista, a resolução 3103 do Conselho de Segurança das Nações Unidas (órgão da ONU), concede aos povos colonizados o direito de lutar contra seus colonizadores através de todas as formas de combate, o que inclui a luta armada. Sendo assim, em que pese a possibilidade de violações dos Direitos Humanos por parte do Hamas no dia 7 de outubro de 2023, é necessário ter em vista o direito do povo palestino, segundo afirma Breno, à insurreição. “À luz do Direito Internacional, o Estado de Israel é um alvo legítimo da ação armada do povo palestino porque é um regime colonial. E o povo palestino, através de suas organizações, tem o direito à insurgência e à luta armada porque são um povo colonizado”, declara Breno.
Sobre a possibilidade de violação de Direitos Humanos nos ataques de 7 de outubro, Breno pondera que tais denúncias, ao que tudo indica, devem ser procedentes, embora seja necessário averiguar sua extensão, tendo em vista que as fontes de tais acusações são especialmente ligadas ao Estado de Israel. A isso, Breno complementa ainda não ser um simpatizante do Hamas e de seu programa político, o que não pode ser impeditivo do reconhecimento da organização enquanto representante legítima do povo palestino. Ilustrando isso, Breno relembra as eleições palestinas de 2006, nas quais o Hamas foi o grande e legítimo vencedor em resultado não reconhecido pela União Européia (UE) e pelos Estados Unidos que, em represália, iniciaram uma série de boicotes ao governo.
A extrema-direita brasileira e o Estado de Israel
Em outro momento da entrevista, Breno foi questionado sobre a relação do Brasil com o conflito entre Israel e Palestina, tendo em vista desde a Política Internacional oficial, adotada pelo governo federal frente ao cenário, até o fato de bandeiras de Israel figurarem, com cada vez mais frequência e em maior número, em ações promovidas pela extrema-direita. No que toca a relação com a extrema-direita, Breno destacou que não se trata de uma exclusividade brasileira. “No mundo inteiro o Estado de Israel se transformou em um símbolo da extrema-direita”, aponta. Os motivos para isso seriam diversos, segundo o jornalista, com destaque para a ideia de uma grande batalha entre oriente e ocidente. “Para a extrema-direita o confronto principal do mundo hoje é entre o ocidente, capitalista, judaico-cristão, contra o oriente. Para a extrema-direita no oriente está o islamismo, mas também está o socialismo, está tudo aquilo que eles acham que contraria o mundo capitalista e os valores judaico-cristãos". Sendo assim, dentro desta lógica, Israel é o ‘destacamento de vanguarda’ do ocidente contra o oriente, afirma Breno. Além disso, o jornalista destaca o quanto o Estado de Israel é coerente com valores defendidos pela extrema-direita global, sendo, por exemplo, uma Teocracia, na qual valores religiosos tem poder de Estado, além de um regime altamente militarizado. Por fim, Breno fala ainda da aproximação gradativa do fundamentalismo neopentecostal, no caso do Brasil, com o sionismo religioso.
Assista aqui a entrevista na íntegra.
Texto: Rafael Balbueno
Imagem: Ítalo de Paula
Assessoria de imprensa da Sedufsm