Comando Local de Greve divulga nota de repúdio
Publicada em
Atualizada em
14/06/24 15h59m
1995 Visualizações
A greve, a PROGRAD e a banalização do assédio
O Comando Local de Greve (CLG) dos e das docentes da UFSM divulgou nesta quarta, 12 de junho, uma nota de repúdio em que critica a gestão da UFSM por desrespeitar a luta das e dos servidores docentes e técnico-administrativos em greve. Leia a íntegra abaixo:
“A GREVE, A PROGRAD E A BANALIZAÇÃO DO ASSÉDIO
O Memorando Circular 003/2024 da PROGRAD/UFSM, expedido em 07 de junho de 2024, representa mais um passo da gestão da UFSM no desrespeito à luta dos servidores docentes e técnico-administrativos em greve. O documento informa sobre a abertura do período de oferta de disciplinas para o segundo semestre de 2024, desconsiderando que uma grande parte das disciplinas sequer chegou à metade do primeiro semestre letivo.
Quando confrontamos esse memorando com o anúncio do Reitor, em audiência pública do dia 23 de maio (https://www.ufsm.br/pro-reitorias/prograd/2024/05/23/novo-calendario-academico-de-2024-sera-definido-apenas-quando-as-greves-terminarem) , expressando o compromisso de que a revisão do calendário da UFSM somente será discutida pelo CEPE após o encerramento das greves, isso apresenta um paradoxo aparente. No entanto, e para além da aparência, o verdadeiro sentido desse memorando se revela na sutileza do ataque: o Pró-Reitor de Graduação, na pessoa do professor Jerônimo Siqueira Tybusch, que assina o referido memorando, não impõe o cumprimento do calendário pré-greve pelas coordenações e departamentos, ele apenas desconsidera a existência do movimento e, em nome da racionalidade gerencial e eficácia burocrática, amparado na “flexibilização” antipedagógica da Instrução Normativa 07/2024 PROGRAD/PRPGP/CBTT/PRE, anuncia o planejamento de um novo semestre sem que se tenha a menor noção de como terminará o atual.
Isso nos remete de forma direta aos ensinamentos de Hannah Arendt ao acompanhar o julgamento de Adolf Eichmann em Jerusalém: o exercício da maldade não decorre necessariamente da intencionalidade de fazê-lo, mas do exercício sistemático e rotineiro de alienação do entorno para, “tão somente”, cumprir ordens e manter a ilusão de normalidade do sistema. Ao invés da racionalidade que visa o interesse comum e o bem da coletividade, a banalização do assédio ao qual os servidores da UFSM têm sido vítimas, demonstra que, para a gestão da UFSM, a definição de prazos, calendários e editais independe de qualquer movimento que faça a comunidade da própria UFSM. O assédio desconhece a empatia e a solidariedade, e trata os processos como instrumentos desumanizados e rotineiros de puro cumprimento da norma.
A banalização do assédio toma por princípio que o movimento paredista representa uma decisão individual de cada servidor e que, portanto, a “normalidade” deve ser garantida a qualquer preço para aqueles que se submetem à lógica do sistema e optam em abrir mão da luta. No entanto, é preciso lembrar que não se tratam de escolhas pessoais, e sim de uma decisão coletiva de categoria, profundamente debatida, amadurecida e votada em assembleia, tal como determina a legislação e o respeito ao coletivo. Desconsiderar tal fato é perder completamente o respeito por aquilo que de fato importa dentro de uma instituição de ensino: o respeito à vida em sociedade e à democracia.
Diante disso, o Comando Local de Greve dos docentes da UFSM vem expressar seu repúdio e indignação ao desrespeito com que o movimento grevista tem sido tratado por dirigentes que ocupam diferentes postos na hierarquia administrativa da instituição e que assediam de forma sistemática aos servidores em greve. Ainda que estejam ocupando temporariamente funções administrativas, esses dirigentes parecem esquecer que são também servidores, e que compartilham com aqueles que lutam, o mesmo ambiente e condições de trabalho. Não lutamos por condições particulares, mas por conquistas coletivas de carreira e orçamento que nos permitam continuar a produzir conhecimento e formar profissionais com excelência. Nos preocupamos com nossos alunos e com a qualidade daquilo que ensinamos, não com os prazos arbitrários de um calendário irresponsável.
Por fim, conclamamos nossos dirigentes a se somarem à luta das categorias em greve e a respeitarem o movimento em defesa de salário digno, carreira e recomposição do orçamento das universidades.
Comando Local de Greve
Santa Maria, 12 de junho de 2024.”
Arte: Italo de Paula
Edição: Assessoria de Comunicação
Obs: Essa nota foi corrigida. Onde constava "o julgamento de Adolf Eichmann em Nuremberg", na verdade o correto é "o julgamento de Adolf Eichmann em Jerusalém".