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Claudio Langone, ex-secretário do Meio Ambiente do RS, fala sobre tragédia socioambiental no 91º Ponto de Pauta

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A tragédia socioambiental vivida no Rio Grande do Sul em 2024 deve ser objeto de muita reflexão. Afinal, eventos como esse não são acontecimentos isolados e é preciso encaixá-los em um contexto, uma soma de fatores. Nisso, se faz fundamental questionar, por exemplo, como chegamos até aqui, o que estamos fazendo agora e como estamos nos preparando para um futuro não muito distante, no qual, segundo muitas análises especializadas, eventos deste tipo tendem a ser cada vez mais frequentes. E a 91ª edição do Ponto de Pauta foi justamente sobre isso. Como entrevistado, Cláudio Langone, engenheiro químico e consultor em gestão ambiental e sustentabilidade. Langone já foi Secretário Executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Secretário Municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre e o primeiro Secretário do Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul.

Na entrevista (confira na íntegra ao final do texto) Langone falou sobre alguns dos fatores que, somados, resultaram na maior tragédia socioambiental da história do RS, sobre algumas das medidas que estão sendo adotadas agora, nesse primeiro momento, e também sobre a perspectiva que se apresenta para o futuro.

Passado

Questionado sobre como chegamos até aqui, Cláudio Langone aponta uma série de fatores. Dentre eles, dois merecem destaque: as mudanças do clima e a manutenção de um modelo ultrapassado de ocupação dos territórios, em especial no que diz respeito à produção agrícola. Segundo Langone, o processo global de mudança do clima, no caso do RS, resulta, por exemplo, no fato de o estado ter se tornado uma porta de entrada de eventos extremos como chuvas, o que não ocorria algumas décadas atrás. Somado a isso, o modelo de produção retira do meio ambiente os mecanismos da própria natureza para conter eventos extremos.

Para ilustrar, Langone usa como exemplo sua própria região de origem, em Nova Palma, na Quarta Colônia. “Ali na região tanto o plantio de soja quanto de arroz obedece a um modelo de ocupação do território extremamente insustentável, que vai no sentido contrário a todos os alertas que estão sendo feitos. Porque nesse contexto, no qual vamos ter mais eventos extremos, precisamos ter preservadas as áreas de preservação permanente, que são as matas ciliares e as áreas de extravasão de várzea. E a gente vê que as matas ciliares desapareceram totalmente e que hoje o pessoal planta em um padrão que remonta ao que era utilizado na minha infância, retirando todas as matas ciliares, o que faz com que quando a enchente desce com muita violência, você não tenha nenhum tipo de amortecimento e você tenha, a cada enchente, uma situação de agravamento do assoreamento dos rios. Então os rios não têm mais leitos e nós temos uma possibilidade muito grande de recorrência”, afirma o engenheiro químico.

Prejuízos

Para Langone, a experiência infelizmente vivida em solo gaúcho pode representar a oportunidade de se refletir sobre mudanças nesse modelo de produção. E não se trata de colocar a preservação ambiental como vilã da produção rural ou da fatia da economia que este setor representa. Conforme destaca o ex-secretário do Meio Ambiente, não observar o atual estágio desta situação, traz prejuízos significativos, inclusive econômicos. Como exemplo disso, Langone cita o cultivo de oliveiras, uma cadeia muito recente em solo gaúcho e que, neste ano, segundo o engenheiro químico, teve uma perda de 63% da safra justamente por questões relacionadas à mudança do clima. O impacto econômico, para Claudio Langone, é um bom exemplo do quanto a temática não deve ser objeto de disputa política. “Não se trata de uma questão política, de direita ou esquerda, a questão de você reconhecer que a ação humana tem provocado mudanças muito significativas no clima em todo o planeta, e que isso tem consequências de eventos extremos”, afirma.

Reconstrução

Olhando para o futuro e tendo em mente a necessidade de se repensar modelos, o que se apresenta até agora, para Langone, não parece animador. “Vejo muito o pessoal falar em reconstrução do Rio Grande do Sul, mas me parece que as pessoas pensam muito em reconstruir no mesmo padrão que se tinha antes. E aí nós vamos enfrentar isso com cada vez mais frequência e vamos estar enxugando gelo em relação a essas situações”, afirma Langone. Para o engenheiro químico e consultor em gestão ambiental e sustentabilidade, obviamente a primeira tarefa em desastres desta dimensão é salvar vidas. Contudo, é preciso refletir sobre paradigmas. E para além de modelos de produção em si, Langone também destaca a urgência de adaptações como medidas de prevenção e segurança. Como exemplo, o ex-secretário traz o caso das chuvas em balneários na região da Quarta Colônia. Segundo Langone, já há amostragem suficiente sobre a mudança do volume das águas nos balneários a partir de chuvas que pode ser repentinas, o que exige sistemas de alertas para frequentadores. Então hoje essa questão de você ter sistemas de alerta e de organizar os sistemas de defesa civil municipais e estadual é fundamental. E nisso o RS falhou enormemente. Porque veja, aquilo que chove na região da Quarta Colônia e na bacia do Alto e do Baixo Jacuí, assim como tudo que chove em um terço do estado na região da Serra Gaúcha, na região do Vale do Taquari, vai desembocar no Guaíba dois ou três dias depois. Mas houve uma negligência em relação aos sistemas de alerta e as tomadas de medidas emergenciais de prevenção”, afirma.

Sobre as águas dos rios, Langone ainda critica as posturas dos governos federal e estadual quanto ao desmantelamento de importantes ferramentas no que toca o tema. Conforme destaca o ex-secretário, o RS foi pioneiro com a Lei Estadual de Gestão dos Recursos Hídricos, legislação que inclusive foi referência para a criação da lei federal sobre o tema. Além disso, Langone cita os Comitês de Bacias Hidrográficas, órgãos de controle social que reúnem sociedade civil, usuários e agentes públicos. Tanto no que toca a legislação, quanto no que toca os Comitês de Bacia, segundo Langone, “nos últimos 25 anos o processo deu para trás”. Um exemplo disso é o movimento de recomposição das instâncias de participação social, esvaziadas nos últimos governos e retomadas na gestão do presidente Lula. Destas instancias de participação social, segundo Langone, a única que ainda não se reuniu na atual gestão foi justamente o Conselho Nacional de Recursos Hídricos. A primeira reunião está prevista apenas para outubro.

Texto: Rafael Balbueno 

Imagem: Ítalo de Paula

Assessoria de imprensa da Sedufsm

 

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