“A classe trabalhadora não tem nada que caia do céu”, afirma Celi Taffarel SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 24/10/24 14h54m
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Em entrevista, docente da UFBA/UESC reflete sobre a importância do sindicalismo

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No próximo dia 7 de novembro a Sedufsm completará 35 anos de uma história que serve para ilustrar algo maior. Afinal, são três décadas com diferentes conjunturas e desafios, marcadas pela luta em defesa da universidade pública, seus trabalhadores e suas trabalhadoras, mas também pelo envolvimento com as pautas específicas de cada um desses momentos. E a 96ª edição do Ponto de Pauta, programa de entrevistas da Sedufsm, abordou isso a partir da temática “a importância da luta sindical” (assista na íntegra ao final). Como entrevistada, a professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e atualmente professora visitante na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Celi Taffarel.

Fazendo um apanhado inicial, Celi destaca o quanto a história de entidades sindicais como a Sedufsm e o Andes Sindicato Nacional – que já soma mais de 40 anos de existência – perpassam a própria história recente do Brasil. Como exemplo disso, Celi destaca o papel do sindicalismo no enfrentamento à ditadura civil-militar e o quanto é fruto desse período a construção de ferramentas de organização da classe trabalhadora, como centrais sindicais, que sobrevivem e seguem com importante papel até os dias de hoje. Tais ferramentas de luta, na avaliação da docente, evidenciaram a importância de se ter “um ponto de apoio para conduzir o processo de reivindicações”. Essa reflexão, a respeito da importância de uma atuação organizada, está presente de maneira central no surgimento de diversas organizações, dentre elas o Andes e a própria Sedufsm, e segue extremamente necessária. “Ao iniciarmos de maneira organizada um processo de luta, nós fincamos os alicerces para aquilo que significa hoje o enfrentamento para conseguirmos ver as nossas reivindicações atendidas. Por quê? Porque a classe trabalhadora não tem nada que caia do céu. Tudo é fruto de luta”, afirma a docente.

Contudo, segundo Celi, em que pese a importância evidente da luta sindical para os rumos do país, é fundamental que o perpassar dessas décadas de história seja acompanhado de reflexões e autocríticas. “Temos que ver onde acertamos, onde erramos, e o desafio que nós temos pela frente, porque desde o Papa Francisco até o presidente da República, o sindicalismo tem sido mencionado como fundamental em um período em que se destrói forças produtivas”, conclui.

Para além de governos

Esse perpassar da história, como já dito, faz com que as ferramentas da luta sindical atuem em diferentes contextos. E ilustram muito bem isso o atual Governo Federal, de Lula, e o anterior, de Jair Bolsonaro. Afinal, em que pese  necessidade de manutenção da mobilização em ambos, não há como negar uma diferença crucial entre os dois governos e sua relação com o movimento sindical: para Bolsonaro o sindicalismo era e é inimigo público, declarado, enquanto para Lula o sindicalismo é visto como ferramenta fundamental na luta por direitos. Como então atuar em contextos tão distintos? Para Celi, esse questionamento permite refletir sobre algo central: o que existe para além de um governo. “Nós vamos constatar que tanto o governo Bolsonaro como o governo Lula, eles estão sob uma pressão internacional do imperialismo que atribui às nações o papel que a nação deve ter para manter o modo de produção capitalista e, portanto, nós vivemos em um Estado que é submetido às leis do capital, e isso significa, nesse momento histórico, tanto de Bolsonaro quanto de Lula, se submeter aos ajustes estruturais”, reflete a professora.

Nesse cenário, contudo, é fundamental ter em mente as distinções entre os diferentes governos. Segundo Celi, no caso de Bolsonaro, o Brasil vivenciou processo drástico de avanço de políticas de governo sobre políticas de Estado. “As políticas de Estado nós arrancamos a duras penas para estabelecer uma Constituição. E o que aconteceu no governo Bolsonaro? Mais de 100 medidas que simplesmente retiraram da Constituição direitos da classe trabalhadora e, portanto, fizeram com que as decisões parlamentares caminhassem na linha da regressão social, ao retirar direitos, ao destruir serviços públicos. A barbárie foi constitucionalizada no governo Bolsonaro”, reflete a docente.

Apesar da barbárie marcada pelo governo Bolsonaro, muitas tarefas permanecessem, segundo Celi. Isso se dá porque, em que pese o cenário de terra arrasada e a necessidade de reconstrução percebida na transição entre os governos, a gestão de Lula também tem algo por trás. “Por trás do governo Lula tem o Estado capitalista, tem um legislativo, e isso simplesmente não desaparece, eles simplesmente não se tornam aliados da classe trabalhadora para fazer com que as reivindicações da classe trabalhadora sejam atendidas. E, portanto, a luta de classe se expressa no governo Lula”, afirma Celi, para ainda concluir. “É claro que a luta sindical tem mais possibilidades de avançar se você tem um governo que, apesar de fazer a conciliação de classe, apesar de encaminhar ao parlamento e ter aprovado um arcabouço fiscal que coloca limites nas possibilidades de atendimento das reivindicações, a luta, ela continua, mas num outro patamar. Tanto é que nós acompanhamos recentemente a greve dos servidores públicos federais. E o que nós tivemos? O governo Lula recebeu o movimento sindical. Recebeu como nós gostaríamos? Eu diria que não, porque demorou muito e o acordo que foi assinado está com problemas. Então, a luta é permanente, porque não é contra o governo Lula. A nossa luta permanente é contra uma estrutura capitalista”, conclui.

A transformação da universidade

Abordando especificamente o tema da educação, a história do movimento sindical ligado a este setor acabou por acompanhar a própria transformação da universidade pública. Elemento absolutamente fundamental para o desenvolvimento de uma nação, conforme destaca Celi. “Quando nós pensamos na universidade, eu costumo dizer, nós estamos tratando do cérebro de uma nação. É onde uma nação se pensa, se projeta, se planeja, forma aqueles que serão os médicos, os engenheiros, os arquitetos, os professores, os filósofos, os matemáticos, os físicos, enfim, tudo aquilo que nós precisamos para sermos humanos, para nos humanizarmos”, reflete a docente. Nesse contexto, a universidade cumpre uma função social fundamental que precisa estar em constante avanço. E esse avanço, por sua vez, precisa de condições para que ocorra. É nisso que entra, segundo a docente, a luta sindical. “Isso tudo precisa de condições, precisa de orçamento, precisa de pessoas, pessoas saudáveis. E precisa de pessoas que tenham condições, que tenham formação. Não tem universidade sem professor, como não tem universidade sem estudante, como não tem universidade sem condições objetivas e sem o conhecimento”, conclui Celi.

Texto: Rafael Balbueno
Imagem: Ítalo de Paula
Assessoria de imprensa da Sedufsm

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