Política socioambiental deve ser uma ferramenta de transformação, defende Marta Tocchetto
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Atualizada em
05/12/24 19h20m
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Docente aborda importância do debate sobre a questão ambiental na UFSM na edição nº 99 do Ponto de Pauta
A ideia de pensar a política ambiental da UFSM como socioambiental objetiva dar um sentido de abrangência maior, para que essa política seja um instrumento, uma ferramenta de transformação. A declaração é da professora aposentada do departamento de Química da UFSM, Marta Tocchetto, uma das principais fomentadoras dessa ideia de ampliação do debate sobre a questão ambiental na instituição, que inicialmente foi encaminhada de forma bastante restrita pela Reitoria.
A docente, junto com sindicatos e outros movimentos, conseguiu que essa discussão ganhasse maior amplitude, com novos prazos, uma consulta pela internet e até mesmo uma audiência pública, marcada para o dia 6 de dezembro. Na edição nº 99 do programa Ponto de Pauta, da Sedufsm, Marta detalha um pouco sobre a relevância desse debate, não apenas para a comunidade universitária, mas também para a população externa, seja em Santa Maria ou nos demais campi, que também usufrui dos espaços da instituição.
Marta Tocchetto é defensora da ideia de que o ser humano precisa retomar a conexão com a natureza, retomar a harmonia e o equilíbrio nessa relação. Por isso, ressalta ela, chamar de política socioambiental, ajudando a construí-la, acaba por dar um sentido mais amplo do que ter “apenas um conjunto de diretrizes”. Para a docente, quando se fala e se pensa em socioambiental, isso aponta para um propósito, para uma proposta de reconexão com a natureza e com a biodiversidade.
Nos diversos espaços em que têm se manifestado, o que inclui a entrevista ao Ponto de Pauta, Marta Tocchetto expressa a ideia de que o processo de construção de uma política, de qualquer política, deve ser participativo, ou seja, contemplando o que a comunidade pensa, oportunizando que a comunidade se manifeste. E foi essa visão, segundo ela, que levou a que as entidades, a começar pela Sedufsm, se mobilizassem e pressionassem a gestão da UFSM a repensar posturas restritivas em relação à discussão sobre o tema.
A docente ressalta que o entendimento foi majoritário de que a condução do processo de construção da política ambiental da UFSM estava muito limitada a uma consulta pública. Então, foi colocado um documento para que as pessoas se manifestassem. “A gente sabe que, mesmo que hoje a gente tenha mais familiaridade com os meios eletrônicos, é preciso ampliar os canais de participação. Esse foi um dos pontos que entendemos que a comunidade tinha que participar mais. Ela tinha que ser ouvida dentro desse processo de construção”, frisa.
Democracia e participação
Na visão de Marta Tocchetto, todo esse processo deve resultar de uma construção coletiva, participativa. E por quais motivos? Ela explica que quando se fala de uma política ambiental, isso não se restringe única e exclusivamente à UFSM, ao campus central, mas à totalidade da instituição, incluindo os demais campi. “Se abrange o ambiente de uma forma integral. Não existe essa separação. Não adianta imaginar que a gente vai fazer uma política para consumo interno, para cumprir algumas questões, exigências legais, ou tentar mitigar os efeitos da nossa atividade, das nossas ações. Nós temos que pensar que a amplitude da atuação da UFSM extrapola os muros da instituição”, enfatiza ela.
Marta (foto abaixo) defende que se deve levar em consideração, nesse debate, além da comunidade universitária, as associações, os órgãos ambientais, tanto federal quanto estadual. Para ela, é preciso pensar na comunidade, no cidadão e na cidadã, que também acolhe a universidade, que vai dispor do espaço, dos serviços da instituição. “Essa pessoa também tem que ser ouvida e participar dessa construção. Até porque nós não estamos construindo um documento cartorial, algo para cumprir tabela, para cumprir uma exigência”, argumenta a docente.
Além disso, acrescenta Marta, os princípios que estarão colocados na política ambiental da UFSM precisam ser internalizados e praticados. “Quando a gente fala na prática da questão ambiental, a gente fala da minha prática na vida, no dia a dia. Eu não posso ser uma pessoa que tenha cuidados ambientais dentro da UFSM e, na minha casa, por exemplo, misturo todo tipo de resíduo, porque eu vou resvalar nessa história”, sublinha.
Como construir uma cidade mais sustentável?
Uma das questões também levantadas para a entrevistada é uma avaliação sobre que motivos a UFSM, que tem espaços importantes como o Jardim Botânico, que tem pesquisadores/as ligados/as à questão ambiental, não influi de forma mais ampla em relação ao município de Santa Maria ou mesmo no entorno da instituição.
Para Marta Tocchetto, que inclusive já recebeu, em 2017, um prêmio da Assembleia Legislativa gaúcha intitulado “Pioneiras da Ecologia”, a resposta é simples: se trata de uma questão política. “É uma visão política da administração municipal de não considerar a questão ambiental como estratégica. Para mim, esse é o ponto central”, destaca ela.
Nesse sentido, complementa a docente, é que se constata que os avanços (em relação à temática ambiental) são parciais e vão até um determinado ponto. “Eles retrocedem, recomeçam e assim vai. A gente está sempre nessa gangorra para lá e para cá, não consegue avançar”, critica Marta.
É por isso, diz que ela, que é uma questão política. “É a visão de quem está à frente do município, da prefeitura de Santa Maria, que deveria fazer com que a questão ambiental fosse uma questão transversal, que passasse por todas as áreas, por todas as secretarias de município, abrindo esses canais para as instituições”, defende Marta.
Acompanhe a íntegra da entrevista com a professora Marta Tocchetto, abaixo, no canal do Youtube da Sedufsm.
Texto e foto: Fritz R. Nunes
Imagem/arte: Italo de Paula
Assessoria de imprensa da Sedufsm