Igualdade racial e combate ao racismo devem ser temas cotidianos, defende Anderson Machado SVG: calendario Publicada em
SVG: atualizacao Atualizada em 13/12/24 11h29m
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Professor do departamento de Geociências e coordenador do NEABI foi o entrevistado da 98ª edição do Ponto de Pauta

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O Dia da Consciência Negra passou, mas a pauta por igualdade racial e contra o racismo é tema cotidiano, que exige mobilização constante, inclusive, nas universidades. É o que defende o professor Anderson Machado dos Santos, do departamento de Geociências, também coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) da Universidade Federal de Santa Maria. Ele foi o entrevistado da edição nº 98 do programa Ponto de Pauta, da Sedufsm.

“Para além do 20 de novembro, a gente continua com diversas ações. Quero convidar meus e minhas colegas docentes, os colegas que são técnicos e técnicas, e estudantes, a se engajarem, construírem essas propostas que são tão importantes, para uma UFSM que seja mais plural, que tenha uma educação de caráter antifascista, porque esse é um desafio que permeia as diversas escalas e âmbitos institucionais”, enfatiza o docente.

E a bandeira contra o racismo e a desigualdade racial levantada pelo coordenador do NEABI é mais que justificada. Os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública revelaram um aumento significativo nos registros de casos de racismo no país em 2023. De acordo com o relatório, houve um crescimento de 127% em relação ao ano anterior, totalizando 11.610 boletins de ocorrência de racismo no último ano, em comparação com os 5.100 registrados em 2022.

Em relação aos casos de racismo, os estados que mais se destacaram em número de notificações foram Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná. O estado gaúcho liderou o levantamento, com 2.857 casos registrados em 2023, além de apresentar a maior taxa de casos por 100 mil habitantes, com 23,2. Pela primeira vez, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública conseguiu reunir dados de todas as unidades federativas do país sobre o tema do racismo. Além dos casos de racismo, as ocorrências por injúria racial também apresentaram um aumento em 2023, totalizando 13.897 registros no último ano, um aumento de 13,5% em relação a 2022.

O feriado de 20 de novembro

Pela primeira vez na história do Brasil, o 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, foi feriado em todo o país. Qual a importância dessa data como reconhecimento à luta do movimento negro? Para Anderson Machado, ter essa data como “celebração nacional é uma conquista”. E complementa: “é mais uma conquista do movimento social negro perante a sociedade brasileira e acredito que nós temos feito o esforço para que o novembro seja o mês de reflexão, de discussão sobre a condição negra no nosso país, sobre a condição negra na formação social brasileira”.

Sendo assim, acredita o professor, o feriado “fortalece ainda mais a nossa luta de combate ao racismo e de promoção da igualdade racial, que essa sempre foi a nossa perspectiva: combater o racismo e promover a igualdade e a diversidade hoje.”

Preconceito nas universidades e o papel do NEABI

Ao falar sobre o trabalho do NEABI, órgão do qual participa há cerca de quatro anos, Anderson Machado faz questão de destacar que, para a fundação do Núcleo, teve papel fundamental a professora, atualmente aposentada do departamento de Letras Vernáculas, Carmem Deleacil Gavioli. Coube a ela, desde o início da entidade, a articulação com os movimentos sociais negros, frisa Anderson, que acrescenta ainda o papel fundamental do Núcleo no contexto da aprovação da primeira política de cotas da UFSM, em 2007.

Atualmente, desde que assumiu a coordenação do Núcleo, em conjunto com Ângela Souza, que é adjunta, e também de outros estudantes que participam desse processo de construção coletiva, o professor ressalta que a entidade tem atuado em diversas frentes, desde a reorganização, a partir de 2021, e também no que se refere à verificação de denúncias e busca de justiça em casos de racismo que acontecem no cotidiano, mas que nem sempre chegam aos meios de comunicação.

“Nós temos uma postura bastante contundente com relação ao combate a esses processos que aconteceram nos últimos anos na universidade. Mas, eu sempre digo que temos uma conduta que não é só de combate, mas uma conduta também proativa. Então, hoje, o Neabi coordena vários projetos, programas, discute propostas de resolução, debate com as pró-reitorias, debate com os estudantes, com os técnicos, com os docentes, dialoga com os movimentos sociais, tentando construir uma pauta que seja positiva, de políticas públicas dentro da instituição”, esclarece o docente.

No entendimento do coordenador do NEABI, o que existe, na sociedade em geral, o que inclui a universidade, é a existência de um “racismo estrutural, institucional, que é cotidiano”. Portanto, acredita Anderson, a superação do racismo vai se dar “quando nós superarmos esse sistema que criou o racismo. Então, essa é uma luta ainda mais ampla”, sublinha ele.

Cotas e a democratização da universidade

Qual o balanço da política de cotas nas universidades, depois de mais de duas décadas? Anderson Machado avalia que essa medida teve um “efeito significativo no contexto universitário”. Segundo ele, os dados atuais revelam a ampliação da presença de estudantes negros nas universidades. Então, argumenta o coordenador do Neabi, as cotas são um instrumento de democratização do espaço da universidade, que, até hoje, seria um espaço construído e pensado por outros grupos sociais e que outras camadas sociais vêm ocupando, ao contrário de negros e negras.

Todavia, acrescenta ele, ainda é necessário discutir vários aspectos, para além da política de acesso através das cotas. “Não basta dar o acesso, é necessário ter condições de permanência. É necessário discutir como é que esse estudante negro vivencia a universidade, como é que ele pode se tornar um produtor de ciência, de pesquisas”, frisa o professor.  Portanto, analisa ele, são gargalos que precisam ser enfrentados, mas, que, por outro lado, é inegável que as cotas ampliaram a participação de negros e negras, tornando a universidade mais diversa.

Acompanhe a íntegra da entrevista ao Ponto de Pauta abaixo:

 

Texto: Fritz R. Nunes com a colaboração de Jefferson Pinheiro
Imagem: Italo de Paula
Assessoria de imprensa da Sedufsm

 

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