A poucos passos da UFSM, Casa Clóvis Guterres é inaugurada
Publicada em
20/10/25
Atualizada em
20/10/25 21h32m
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Nova sede da Sedufsm já está em pleno funcionamento, com atendimento de secretaria, financeiro e plantão jurídico

Do portão verde de ferro às basculantes em vitral; da imponente porta de madeira aos vasinhos descascados com folhagens; das janelas largas e dos charmosos tijolinhos à vista ao enorme xaxim e às delicadas orquídeas. Tudo ali tem cara de casa, de afeto e de aconchego. Onde antes moravam Miguel Borsato Campanhola e sua esposa, Adi Martini Campanhola, hoje mora a Casa Clóvis Guterres, nova sede da Sedufsm. Localizada no número 690 da rua Erly de Almeida Lima, no bairro de Camobi, o espaço foi oficialmente inaugurado na última quarta-feira, 15 de outubro. Foi no Dia do Professor e da Professora que a gestão Renova Sedufsm entregou esse presente esperado há décadas pela categoria: uma sede colada à entrada da UFSM, cujos fundos dão acesso à Avenida Roraima e para onde é possível se deslocar a pé entre uma aula e outra, a fim de tomar um café, retirar uma carteirinha de convênio ou ter um atendimento jurídico.
Liane Weber, que acompanhou desde a aquisição da Casa até todas as obras feitas para que o espaço fosse entregue à categoria, ressaltou que a sede da Rua André Marques foi um momento muito feliz da luta docente e seguirá sendo especial, mas que, com a mudança de toda a UFSM para Camobi, o sindicato acabou ficando distante das e dos docentes, de modo que se tornou ainda mais importante a aquisição de uma nova sede. “Não foi nem um pouco fácil, tínhamos muitos medos, não sabíamos se daríamos conta. Mas nunca tivemos dúvida sobre esse ser o lugar certo para nós, um lugar onde poderíamos vir a pé da Universidade, um lugar que agora comporta uma linda biblioteca, um lugar que honra a memória do que já foi construído para que tenhamos os alicerces e sigamos em frente”, destacou a dirigente, agradecendo à gestão anterior, Renova Sedufsm (biênio 2022-2024), por ter a “audácia” necessária para dar um passo à frente e adquirir o espaço.
Everton Picolotto, presidente da Sedufsm, destacou que as e os colegas que ousaram, em 1989, criar uma seção sindical de docentes, lançaram uma base muito sólida para quem hoje recebe esse legado de tocar o sindicato adiante. “Um bastão que foi passado de diretoria para diretoria, e a gente continua com essa chama, levantando essa bandeira em defesa dos nossos direitos, da dignidade e valorização da carreira docente, e da universidade pública. Essas são as grandes bandeiras do nosso sindicato desde sua origem. A inauguração dessa sede é mais uma etapa da nossa organização, um sonho antigo que vem para facilitar o trabalho sindical”, ponderou.
As homenagens aos primeiros audaciosos e audaciosas que, em 1989, assinaram a ata de posse de criação da Sedufsm, fazendo jus ao recém conquistado direito de organização sindical e greve, foram honrados de maneiras diversas na inauguração da nova sede.
A começar pelo nome escolhido para a Casa de Camobi: Clóvis Renan Jacques Guterres, fundador e primeiro presidente da Sedufsm, durante a Diretoria Provisória dos anos 1989-1990. Como reforçou Leonardo Botega, professor do Colégio Politécnico que integrou a última diretoria do sindicato, a ideia era homenagear o professor Clóvis em vida. Contudo, isso não foi possível, pois ele faleceu no dia 20 de novembro de 2023, aos 76 anos. Sua família, no entanto, estava representada na inauguração da Casa.
Rosana Zucolo, viúva de Clóvis, disse ter profunda gratidão pelo reconhecimento às contribuições de seu companheiro. “O Clóvis tinha uma marca muito pessoal que era o olhar pelo coletivo, pela democracia, pela universidade pública, autônoma, de qualidade, pela história que não é dele, que não é minha, que é de todos. Se tinha uma coisa que era dele era uma coerência e uma civilidade a toda prova. E ele estaria muito feliz e torcendo para que esse sindicato se mantenha e assegure espaço para todos”.
Melina Guterres (ao microfone na foto acima), filha de Clóvis, confessou ainda ser difícil falar sobre o pai, mas ponderou como a nova sede pode servir de espaço para que as e os docentes aposentados se encontrem, partilhem momentos e ideias. “Essas pessoas estão ativas e têm necessidade de conviver e compartilhar”, sugere.
Além de Rosana e Melina, também estiveram presentes à solenidade Daniel Guterres, filho de Clóvis, e Tayani Guterres, sobrinha do professor.
Homenagens aos fundadores e às fundadoras
Após o momento simbólico de descerramento da Placa que confere o nome de Casa Clóvis Guterres à nova sede da Sedufsm, a diretoria entregou uma medalha em homenagem às e aos fundadores presentes. Muitos e muitas decidiram usar o microfone para relatar algumas de suas memórias com Clóvis, destacar a importância do momento e desejar vida longa ao movimento sindical docente.
Beatriz Pippi, fundadora e integrante da Diretoria Provisória (1989-1990) e da Gestão Consolidação (1990-1992), foi uma delas. “Tive a sorte de conviver com o Clóvis, aprendi muito. Tenho certeza de que me tornei uma pessoa melhor lutando pelos interesses da comunidade. Tínhamos coragem, força, vontade e conseguimos muita coisa”, disse a docente aposentada.
Para ver mais fotos da inauguração da Casa Clóvis Guterres, acesse a galeria de fotos em nosso site.
Como funcionará a nova sede?
A Casa Clóvis Guterres centralizará todo o serviço de secretaria e de financeiro da Sedufsm. Isso significa que, a partir de agora, retiradas de carteirinhas da Unimed e das agendas 2026 do sindicato, bem como informações sobre convênios e demais serviços, devem ser feitas preferencialmente na sede de Camobi. O horário de funcionamento da Casa é de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 18h, estando localizada, como já mencionado acima, na rua Erly de Almeida Lima, nº 690. A partir desta semana também será disponibilizado atendimento jurídico na nova sede. Todas as quintas-feiras, das 14h às 17h, um assessor ou uma assessora jurídica estarão presentes para atender individualmente docentes que tenham agendado horário previamente. O agendamento deve ser feito pelo email sedufsm@terra.com.br ou pelos telefones (55) 32225765 | (55) 999622248.
Cabe destacar que as duas sedes da Sedufsm (a do centro, na Rua André Marques, e a de Camobi) funcionarão concomitantemente. Então, o plantão jurídico das terças-feiras pela manhã, entre 9h e 11h45, está mantido na sede do centro, sendo que os horários também são mediante agendamento prévio.
Docentes que desejarem pegar carteirinhas ou agendas na sede central deverão enviar email para sedufsm@terra.com.br, agendando dia e horário. Outra novidade é que, além do auditório Suze Scalcon, disponível para reserva de docentes filiados e filiadas, a Sedufsm também disponibiliza, em especial aos e às colegas que venham dos campi descentralizados (Cachoeira do Sul, Frederico Westphalen e Palmeira das Missões), a reserva de uma sala na Casa Clóvis Guterres. A reserva, contudo, ficará submetida à disponibilidade de agenda.
Equipada com uma cozinha ampla, assemelhada a um espaço gourmet; uma biblioteca que também pode servir de sala de estudos; e uma sala de reuniões com equipamentos para videoconferência; a Casa de Camobi pode ser considerada a grande casa do professor e da professora da UFSM. No pátio dos fundos, um portão permite a entrada ou a saída diretamente pela Avenida Roraima.
“Encontrei a nossa casa”
A busca por uma sede da Sedufsm que ficasse mais próxima fisicamente da categoria era um anseio antigo que permeou diretorias e discussões ao longo dos últimos anos. Foram estudadas várias possibilidades, mas, uma a uma, eram descartadas, uma vez que ou não ofereciam a segurança jurídica que a seção sindical necessitava, ou demandavam um investimento financeiro muito alto.
De início, a ideia era construir uma sede dentro do campus da UFSM. As tratativas para tal iniciaram ainda em 2002, às vezes com mais ênfase e, em outros momentos, secundarizadas face às lutas que se impuseram nesses últimos 23 anos. O ponto alto das negociações foi em 2022, quando a universidade convocou Audiência Pública para que as entidades representativas dos segmentos e outras entidades da sociedade civil manifestassem interesse em construir sedes dentro do campus.
A sede dentro do campus seria construída em contrato de comodato, como se a universidade estivesse fazendo um empréstimo de seu local físico. Apesar de toda a verba alocada para a construção do espaço ter de vir da Sedufsm, a UFSM poderia reivindicar aquele espaço dentro de um prazo determinado, e todo o investimento feito pelo sindicato seria perdido.
Há três anos, quando da audiência, ainda era governo Bolsonaro, e começaram a surgir notícias de reitorias judicializando, país afora, as cedências de espaço para sedes de sindicatos. Exemplo foi a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso (Adufmat-Ssind) - fundada em 1978 e, desde então, lotada dentro da UFMT. Lá, a reitoria quis alterar o comodato e passar a cobrar aluguel do sindicato.
Cobranças indevidas, ameaça de despejo das entidades sindicais e a ocupação de reitorias por interventores gerou um clima de insegurança que obstaculizou o andamento das negociações. A então diretoria resolveu que era hora de mudar o foco: ao invés de construir dentro da UFSM, talvez fosse melhor olhar para fora, buscando oportunidades em seus arredores. Foram cogitados terrenos, mas todos muito caros e não tão próximos à UFSM. E a busca seguia.
Até que um dia, a então diretora Teresinha Weiler, que mora nas proximidades da universidade, estava caminhando e avistou, em frente ao número 690 da rua Erly de Almeida Lima, placas de “Vende-se”. Pouco tempo depois, abriu a porta da sala em que ocorria a semanal reunião de diretoria e afirmou: “gente, encontrei a nossa casa”.
Quando foram visitar o local, as e os professores integrantes da direção se encantaram. Era uma casa muito bem cuidada, com área verde repleta de plantas e árvores e, como se não bastasse, praticamente colada à universidade. Nas tratativas com as irmãs proprietárias do local, a diretoria frisou que a intenção não era comprar a casa para a demolir, pelo contrário: o objetivo era preservar o máximo possível de sua estrutura original, desde as plantinhas cuidadas carinhosamente pela mãe das proprietárias por mais de 30 anos, até a imponente porta de madeira feita por um artesão especialmente para aquela residência. Pela ótima localização, inclusive para a especulação imobiliária, a casa tinha outros interessados, que haviam deixado claro, contudo, seu desejo de colocar o imóvel abaixo para construir um prédio de apartamentos.
Márcia Morschbacher, docente do departamento de Metodologia do Ensino (CE) e diretora da Sedufsm na época de aquisição da casa, conta que a história carregada pelo local é encantadora. Ali morou, por muitas décadas, uma família (incluindo as irmãs que agora faziam a transação com o sindicato). Posteriormente, ficou apenas o casal: Miguel Borsato Campanhola e sua esposa, Adi Martini Campanhola. Ele, técnico-administrativo em educação na UFSM, mesmo depois de aposentado, todos os dias pegava sua bicicleta e ia até o campus, tamanho vínculo construíra com a instituição. Hoje seu Miguel é falecido, e sua esposa recebe cuidados especializados.
“As filhas entenderam que escolher a Sedufsm seria uma forma de homenagear o pai, tanto pela preservação da casa, quanto por abrigar um sindicato que defende a universidade pública, algo que era tão caro para o pai delas”, lembrou Márcia.
E hoje, quem visita a Casa Clóvis Guterres pode apreciar um jardim frondoso. Na lateral esquerda do pátio dos fundos, por exemplo, um enorme xaxim, que soma no mínimo 35 anos de vida, é um testemunho do amor e do cuidado destinados pela família de Seu Miguel ao lugarzinho que, daqui para a frente, acolherá, com os mesmos nobres sentimentos, a categoria docente da UFSM.
Texto: Bruna Homrich
Fotos: Fritz Nunes
Assessoria de Imprensa da Sedufsm
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