População não quer trocar democracia por regime autoritário, afirma cientista político
Publicada em
04/11/25
Atualizada em
04/11/25 17h10m
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Em entrevista à edição 109 do Ponto de Pauta, professor José Carlos Belieiro Júnior analisou julgamento dos golpistas pelo STF, entre outros temas
No último dia 11 de setembro, o Supremo Tribunal Federal condenou à prisão o ex-presidente Jair Bolsonaro e vários de seus ex-assessores, em sua maioria militares de alta patente. A decisão é considerada histórica porque há poucos precedentes de condenação por golpe de Estado no país. Para o professor José Carlos Martines Belieiro Júnior, cientista político do departamento de Ciências Sociais da UFSM, a decisão é um fato positivo por vários motivos. Um deles é justamente porque acaba com a ideia de que golpes, no Brasil, diferente de países como a Argentina ou Chile, nunca eram sujeitos a julgamentos e punições.
O outro motivo citado pelo docente, que concedeu entrevista ao Ponto de Pauta, edição nº 109, é que de certa forma a decisão comprova que o sistema de freios e contrapesos da democracia brasileira está funcionando bem, a tal ponto que o renomado cientista político norte-americano, Steven Levitsky, um dos autores de “Como as democracias morrem”, fez rasgados elogios ao processo envolvendo o julgamento e condenação dos golpistas.
Em que pese as inseguranças relacionadas a todo o movimento feito no governo anterior, que passou pela descredibilização do processo eleitoral (urnas eletrônicas), a não aceitação do resultado das eleições de 2022, com protestos em estradas, acampamento em frente dos quartéis que pediam intervenção militar, culminando com a depredação dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, o professor da UFSM acredita que as instituições democráticas resistiram bem. E terem se mantido em pé, funcionando, está relacionado ao fato de que a maioria da população prefere a democracia e não vê como uma boa alternativa um regime autoritário.
Isso seria resultado de uma maturidade política?
Para José Carlos Martines Belieiro Junior, a população está um pouco mais consciente do valor da democracia se comparado a períodos anteriores, como o pré-1964, quando havia uma simpatia elevada, seja da classe média, empresários, igrejas, meios de comunicação, à implantação de um poder autoritário, tendo como justificativa enfrentar o fantasma do comunismo.
Na visão do cientista político “todo mundo sabe que numa democracia você pode ter autonomia, liberdade. Então, eu tenho plena convicção que as pessoas sabem que o regime autoritário do passado, mais distante do Brasil e de outros países, não condiz com o mundo que a gente está vivendo. Hoje, as pessoas querem ser livres, tanto do ponto de vista econômico, sexual, cultural, do trabalho. Estamos vivendo uma época do século XXI que, de fato, por mais que exista uma crise da democracia, da política, o mundo inteiro está crise, em todos os países existe crise, as pessoas não querem trocar a democracia por um regime autoritário”, pondera o docente.
Belieiro acrescenta ainda que, por mais que a democracia seja falha algumas vezes “porque é um regime que promete muito mais, as pessoas podem cobrar muito mais, enquanto o regime autoritário não se pode cobrar”, a sociedade ainda prefere esse sistema ao invés do autoritarismo. Às vezes, diz ele, a política na democracia acaba causando decepção porque é um regime que custa mais caro, porque tem que ter representação política, tem que ter políticos profissionais funcionando, divisão de poderes, e isso, dá mais trabalho, cansa as pessoas.
Mas, complementa ele, mesmo cansadas com tudo isso, cansadas com as elites, cansadas com a corrupção, ou coisa do tipo, o fato é que um regime autoritário não tem como impor uma ordem perfeita. “Hoje nós estamos vivendo em uma sociedade muito urbanizada, muito conectada com a internet, existe muito identitarismo, as pessoas querem ser o que querem ser, e de todos os pontos de vista, isso não combina com o autoritarismo”, sublinha o professor.
Assista abaixo a íntegra da entrevista ao programa Ponto de Pauta:
Texto: Fritz R. Nunes
Arte: Italo de Paula
Assessoria de imprensa da Sedufsm
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