Trabalhadores avaliam positivamente o movimento sindical, aponta pesquisa
Publicada em
11/12/25
Atualizada em
11/12/25 12h00m
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Levantamento feito pelo Vox Populi para a CUT indica que 68% das trabalhadoras e trabalhadores consideram os sindicatos importantes ou muito importantes para defender direitos, mediar conflitos e melhorar salários
Ao longo desta semana, a Sedufsm repercute uma série de reportagens e conteúdos produzidos pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), que expõem os principais ataques da Reforma Administrativa aos serviços públicos e às condições de trabalho de quem atua no setor. Leia abaixo o texto completo.
Os sindicatos seguem sendo referência para a classe trabalhadora. É o que mostra a pesquisa O Trabalho e o Brasil realizada pelo instituto Vox Populi, encomendada pela CUT e Fundação Perseu Abramo e Fórum das Centrais Sindicais. De acordo com o estudo, 68% dos entrevistados reconheceram a importância dos sindicatos na defesa de direitos, na mediação de conflitos e na melhoria de salários e condições de trabalho.
Para o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, os números confirmam o que já se percebe na prática. “Sem sindicato forte, direitos não se sustentam. Essa pesquisa desmonta a ideia de que o trabalhador teria se afastado da luta coletiva. É na organização coletiva que está a força da classe trabalhadora”, afirmou o dirigente.
Diversidade e informalidade
O levantamento ouviu 3.850 pessoas em todo o país, incluindo celetistas, autônomos, informais, servidores públicos, trabalhadores de aplicativos, desempregados e aposentados. Apesar da diversidade, 52% avaliam positivamente a atuação sindical.
Sérgio Nobre destaca que esse cenário revela outro fenômeno estrutural: o avanço da informalidade. “A explosão do trabalho sem direitos não é opção voluntária, mas consequência da precarização do mercado formal. Hoje, para conseguir um emprego formal, pedem curso, experiência, uma série de qualificações e, no fim, o salário não chega a dois mínimos. Depois dos descontos, muitos voltam para casa com R$ 600 ou R$ 700. Isso não sustenta família nenhuma. A informalidade não é escolha, é necessidade. O emprego formal não paga a conta”, disse.
Ele alerta ainda que a precarização tem efeitos que vão além da renda individual. “Se continuarmos levando as pessoas para a informalidade, não tem como sustentar a previdência. A sociedade está envelhecendo, e a previdência é cada vez mais importante. O financiamento do Estado depende da folha de pagamento. Não há país estruturado sem emprego protegido”.
Reconhecimento e desafios
A diretora técnica do Dieese, Adriana Marcolino, reforçou que os resultados desmistificam a tese de perda de representatividade. “Trabalhadores de realidades distintas reconhecem a importância do sindicato”, disse.
Ainda assim, 52,4% afirmam não conhecer com clareza as ações concretas das entidades, o que indica:
- necessidade de maior presença nos locais de trabalho (49,4%),
- comunicação acessível (37,5%)
- oferta de qualificação (29,6%).
Demandas prioritárias dos entrevistados
A pesquisa trouxe outras informações importantes sobre os anseios dos trabalhadores.
- melhores salários (63,8%);
- geração de empregos de qualidade (36,6%);
- saúde e segurança (26,6%);
- redução da jornada (21%);
- combate à discriminação (18%).
Sérgio Nobre defende que o debate sobre jornada 6x1 voltará ao centro das discussões em 2026. “O mundo mudou, a tecnologia avançou, não há justificativa para manter regras da década de 1940. Precisamos do fim da escala 6x1 e de dois dias consecutivos de descanso semanal. Isso é parte da luta por qualidade de vida. O trabalhador não pode ser tratado como máquina. É gente, é família, é vida.”
Sindicalização e novos formatos
Apenas 11,4% estão filiados, mas 14,6% se filiariam com certeza e 35,9% consideram possível aderir. Entre autônomos e empreendedores, quase metade (49,6%) defende ter sindicato próprio — sinal de interesse pela organização coletiva e da inadequação da legislação atual.
Para Nobre, isso revela o ‘empreendedor por necessidade’. “Não é verdade que as pessoas estão escolhendo empreender. Elas estão apenas tentando sobreviver. O modelo sindical precisa se modernizar para incluir quem está na informalidade. O desafio é garantir direitos, proteção e formas reais de organização para quem não tem contrato formal”, diz o dirigente.
O presidente da CUT também avaliou que os dados da pesquisa terão impacto nas eleições de 2026. “A direita tentou criar a ideia de que a classe trabalhadora virou empreendedora. Não virou. Continua sendo classe trabalhadora. E é essa classe que vai decidir o futuro do país. O desafio da esquerda é apresentar um projeto no qual esse povo se reconheça”.
Para Sérgio Nobre, o estudo confirma que a maioria dos brasileiros deseja proteção, estabilidade e oportunidades e vê nos sindicatos o instrumento para alcançar essas demandas. Para Sérgio Nobre, o recado é claro. “O povo trabalhador quer sindicato forte. E nós vamos responder com mais organização, mais presença e mais luta. O sindicalismo não está morrendo, como prega a direita. Ao contrário: está vivo, pulsando, e pronto para reorganizar o Brasil”, disse.
A importância de um sindicato nacional docente forte
Ao final de novembro, foi oficialmente lançada, durante o Seminário Nacional de Questões Organizativas, Administrativas, Financeiras e Políticas do ANDES-SN, realizado em São Paulo, a campanha de sindicalização “O ANDES-SN é mais forte com você”. O evento reuniu 120 docentes de 47 seções sindicais.
Letícia Carolina, 2ª vice-presidenta do ANDES-SN, destacou a necessidade urgente da campanha no atual cenário político. “Com o avanço da extrema direita e os constantes ataques à organização social, torna-se cada vez mais imperativo que o movimento sindical possa construir diferentes maneiras de organização política. Nesse contexto, a campanha de sindicalização, com uma linguagem democrática e acessível, vai cumprir um papel essencial de convocar novos trabalhadores e trabalhadoras a se filiar ao nosso sindicato”, explicou.
Durante a apresentação da campanha, foram exibidos dois vídeos - um resgate documental sobre a história do Sindicato Nacional e uma animação que explica a importância da sindicalização -, além dos materiais que integram o kit que será enviado para as seções sindicais, como agenda planner, marca página e cartaz da campanha, entre outros.
Letícia enfatizou que o esforço não é apenas da diretoria nacional, mas requer uma mobilização ampla das bases, convocando as seções sindicais a atuarem ativamente na busca por novos filiados e novas filiadas. “A campanha de sindicalização pensada nacionalmente requer um esforço de todas as seções sindicais, em busca de docentes não-filiados, que possam construir a luta coletiva conosco”, destacou.
Além disso, a 2ª vice-presidenta do ANDES-SN apontou que a luta coletiva deve abordar a complexidade das questões que afligem a classe trabalhadora. “Nesse processo, é fundamental se aproximar das diferentes questões que atravessam o cotidiano da classe trabalhadora, desde o racismo, o machismo, o capacitismo, a LGBTI+fobia e, com certeza, a precarização do nosso trabalho. Todas essas questões precisam ser pensadas coletivamente no nosso sindicato”, concluiu.
Texto: CUT e ANDES-SN (com edição de Nathália Costa)
Imagem: Eline Luz / Imprensa ANDES-SN
Assessoria de Imprensa da Sedufsm
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